Análise: God of War

Kratos é para a Sony o que Master Chief é para a Microsoft. É neste momento a personagem mais icónica da empresa nipónica, mas em termos de jogos em si a verdade é que notava-se no lançamento de Ascension que a fórmula e que tinha criado e o género pelo qual foi o grande responsável em criar, juntamente com Devil May Cry, precisava de algo novo. Com a popularidade de jogos como Dark Souls a crescer e a ocupar a posição dianteira nas vendas estava na altura de oferecer aos fãs algo realmente diferente.

God of War para a PS4 é um misto entre sequela e reboot. A ausência de um número no nome ou qualquer outra palavra é a prova disso mesmo. Não existe grande necessidade de ter jogado qualquer um jogos anteriores para aproveitar este, no entanto  quem o fez irá sem duvida tirar maior partido. A história parecia ter acabado no terceiro jogo, sendo Ascension uma prequela e no geral a história de Kratos, o herói grego, acaba no terceiro capitulo depois de derrotar os deuses do Olimpo. God of War para a PS4 é em termos narrativos uma sequela. Kratos na verdade não morreu e está agora na terra dos deuses nórdicos, mas ao mesmo tempo é um reboot em termos de gameplay, sendo muito mais próximo da jogabilidade mais lenta de Dark Souls do que da fúria e velocidade que foram todos os jogos anteriores.

Existem portanto principalmente dois aspectos que separam e muito este jogo dos anteriores, a mitologia que serve de base para a história e mundo do jogo e a jogabilidade. A mudança de mitologia é talvez a jogada mais inteligente que os criadores fizeram. Apesar de existir ainda muito para explorar na mitologia grega a única forma de realmente criar algo diferente em termos visuais era alterar drasticamente o mundo em que o jogo se desenrola e em termos artísticos a mitologia nórdica é simplesmente soberba e muito diferente da grega. A popularidade dos filmes da Marvel também ajudaram a que esta mitologia fosse um pouco mais conhecida. Thor e Odin são nomes muito conhecidos, assim como Midgard e Yggdrasil são palavras que já entraram na literatura fantástica de uma forma ou outra. Esta é aliás a mitologia em que Tolkien mais se baseou para criar a sua Terra Média.

O jogo começa com a morte da mulher de Kratos, o seu ritual fúnebre e a aparente incapacidade de Kratos de tomar conta do seu filho Atreus. Kratos é mais do que tudo uma entidade que não pertence aquele sitio e isso é-lhe relembrado em várias ocasiões. Os seus actos na Grécia tiveram impacto por todo o mundo, portanto ter jogado os jogos anteriores ajuda a dar algum peso a estes diálogos e referências. O restante jogo é sobre a viagem que Kratos e Atreus fazem para depositar as cinzas da sua falecida mulher e mãe no topo de uma montanha. As coisas são obviamente mais difíceis do que seria de esperar e a viagem leva-nos aos vários reinos que compõe a mitologia nórdica, as suas raças e deuses.

A jogabilidade deste God of War como já referi é diferente. Não se trata de todo de uma questão de qualidade, uma vez que nos seus diferentes estilos este God of War não fica a dever nada aos jogos que o antecederam, muito pelo contrário. Apesar de ser um estilo diferente, este God of War é melhor em todos os aspectos da jogabilidade. Apesar de ser claramente uma jogabilidade mais lenta não torna o jogo em si mais lento. O equilíbrio entre defender e atacar tem que ser quase perfeito e um ataque na altura errada pode resultar em ter de repetir um combate inteiro. Apesar de o arsenal de Kratos ser normalmente interessante, o machado que controlamos neste novo jogo é sem duvida a melhor arma que já controlámos em toda a série. O impacto e o peso tornam-no uma das armas mais satisfatórias de utilizar e o poder de o lançar e recolher com um clique possibilitam coisas que nem nos passariam pela cabeça noutros jogos. O sistema de detecção de dano é perfeito e possibilita que por exemplo ataquemos um inimigo que tem uma defesa total à frente e débil nas suas costas atirando o machado para um qualquer local atrás do inimigo e recolhendo-o a seguir quando estivermos alinhados com o inimigo. Esta mecânica é utilizada também em várias zonas para resolver alguns puzzles e enigmas.

Apesar de tudo ser quase perfeito em God of War, desde a jogabilidade, história e grafismo, é a relação entre Kratos e Atreus que se torna o ponto fundamental do jogo, aquele que faz a diferença quando se está na duvida entre um 9 ou 10 na nota final. Kratos não é de todo um bom pai. Nos jogos anteriores era aliás uma personagem altamente superficial. Era um bruta montes com um ódio desgraçado aos deuses e essa foi a força motriz para seis jogos. Mas a realidade é que apenas conhecemos Kratos aqui, à medida que se abrindo para o filho e tenta criar uma relação com ele, ou talvez até ao contrário, à medida que Atreus tenta criar uma relação com o seu pai. A história está recheada de momentos confusos e estranhos entre os dois, com Kratos a tentar passar o conhecimento que foi adquirindo na sua longa vida, com menos sucesso do que aquilo que gostaria.

Atreus não é uma personagem controlável, mas é algo com um papel fundamental na jogabilidade. Podemos dar pequenas ordens a Atreus como disparar o seu arco para atrair a atenção dos inimigos ou tornar-los visíveis para os podermos atacar. O jogo contém um complexo sistema de evolução e customização que nos permite melhorar os ataques e armadura de Kratos, mas também de Atreus. A ligação dos dois vai muito além da história e é talvez nas pequenas coisas que Atreus vai dizendo pelo caminho e durante o combate que mais ficamos a conhecer o mundo nórdico do jogo e sobre o seu passado enquanto a mãe ainda estava viva. Este é sem duvida o melhor jogo da série e o exemplo que deveria ser utilizado sempre que um estúdio pensar em alterar a jogabilidade de uma saga ou fazer um reboot sem descartar os jogos anteriores. Sejam vocês fãs ou não isso pouco irá significar em termos de apreciar a obra de arte que este Gof of War é, apesar de quem jogou os anteriores conseguir tirar muito mais de vários momentos do jogo.

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