Atomic Heart é um jogo que se destaca pelo seu conceito e pela sua ambição. Desenvolvido pela Mundfish, um estúdio relativamente novo, este FPS com elementos de RPG leva os jogadores para uma realidade alternativa onde a União Soviética prosperou tecnologicamente a um nível impressionante. A influência de jogos como BioShock e Half-Life 2 é evidente, tanto na forma como apresenta a sua história como na jogabilidade. No entanto, apesar das suas qualidades, Atomic Heart é um jogo que luta constantemente entre a genialidade e a frustração, oferecendo momentos de grande impacto visual e mecânicas interessantes, mas também escolhas de design que quebram o ritmo e podem testar a paciência do jogador.
Jogabilidade
Atomic Heart mistura combates corpo a corpo, armas de fogo e poderes especiais numa tentativa de criar um sistema dinâmico e variado. O protagonista, o agente especial P-3, tem acesso a um arsenal que inclui caçadeiras, pistolas, metralhadoras e armas improvisadas, além das habilidades da sua luva AI, que pode gerar descargas elétricas, congelar inimigos ou suspendê-los no ar. A primeira impressão é a de um sistema fluido e responsivo, especialmente quando se dominam as esquivas e os ataques rápidos. No entanto, Atomic Heart tem um problema com a resistência dos inimigos. Mesmo os adversários mais comuns conseguem suportar vários tiros na cabeça, tornando os combates longos e desgastantes. O jogo também introduz elementos como drones de reparo que podem reviver robôs caídos, tornando os encontros ainda mais morosos.
O sistema de upgrades permite alguma liberdade na personalização das habilidades e armas, encorajando os jogadores a encontrarem um estilo de jogo que se adapte às suas preferências. Contudo, a variedade real de estratégias acaba por ser limitada, com algumas habilidades a revelarem-se muito mais eficazes do que outras. Além disso, a tentativa do jogo de incluir elementos de furtividade falha completamente, pois os inimigos são demasiado sensíveis ao som e há poucas recompensas para quem tentar evitar os confrontos diretos.

Mundo e história
A história de Atomic Heart decorre na Facility 3826, um vasto complexo de investigação onde a revolta dos robôs levou ao caos. A premissa inicial é intrigante e promete uma narrativa envolvente, mas a execução deixa algo a desejar. O protagonista, P-3, é um dos principais problemas da história. Ao contrário de personagens carismáticas de outros jogos do gênero, ele passa grande parte da aventura a proferir insultos e a repetir frases irritantes, prejudicando a imersão. O seu relacionamento com a luva AI também é superficial, com diálogos que frequentemente parecem forçados e sem impacto real na trama.
Outro problema é a forma como Atomic Heart retrata a União Soviética alternativa. Enquanto BioShock usou o seu mundo para explorar temas políticos e filosóficos, Atomic Heart evita qualquer reflexão crítica mais profunda. A Facility 3826 é retratada como um paraíso tecnológico arruinado apenas por alguns cientistas irresponsáveis, em vez de um sistema com falhas estruturais. Isso torna a narrativa menos envolvente e tira-lhe o impacto que poderia ter tido se explorasse melhor as suas próprias ideias.
Grafismo
Visualmente, Atomic Heart é impressionante. O design da Facility 3826 combina elementos da estética soviética com um toque retrofuturista que dá ao jogo um aspeto único. Desde os corredores brancos e limpos dos laboratórios até aos complexos industriais cheios de maquinaria futurista, cada local é meticulosamente detalhado. Os modelos dos robôs também são fantásticos, especialmente os androides humanoides que se movem de forma assustadoramente fluida. As animações dos inimigos e as interações com o ambiente são bem trabalhadas, dando peso e impacto aos combates. No entanto, o mundo aberto do jogo não tem muito para oferecer. Apesar de ser bonito, está repleto de barreiras invisíveis e áreas inacessíveis, tornando a exploração pouco recompensadora. Os búnkers subterrâneos oferecem alguns desafios de puzzles interessantes, mas fora isso, há pouco incentivo para vaguear pelo mundo de Atomic Heart.

Som
A banda sonora de Atomic Heart é um dos seus pontos mais fortes. A combinação de músicas clássicas russas com temas eletrónicos modernos cria uma atmosfera envolvente que se adapta bem às situações de jogo. Algumas batalhas começam com música diegética, vinda de altifalantes no ambiente, antes de se fundirem num tema orquestral intenso à medida que a ação aumenta. Este detalhe dá um toque cinematográfico ao jogo e melhora significativamente a experiência. O design de som também é de alta qualidade. Os robôs têm efeitos sonoros distintos que os tornam fáceis de identificar pelo som, e os ambientes são preenchidos com ecos mecânicos e ruídos industriais que aumentam a sensação de estar num mundo vivo. No entanto, o trabalho de vozes em inglês e russo é inconsistente. Enquanto algumas performances são decentes, outras são exageradas ou simplesmente irritantes, especialmente a do protagonista.
Conclusão
Atomic Heart é um jogo repleto de boas ideias, mas nem todas são bem executadas. Os combates podem ser divertidos, mas também podem tornar-se frustrantes devido à resistência exagerada dos inimigos. A história tem uma premissa intrigante, mas o protagonista e os diálogos enfraquecem a narrativa. O mundo é visualmente deslumbrante, mas pouco recompensador para explorar. Felizmente, a direção artística e a banda sonora elevam a experiência, garantindo que há sempre algo impressionante para ver e ouvir. Para quem procura um FPS diferente, Atomic Heart pode valer a pena, especialmente pela sua originalidade e identidade visual. No entanto, é um jogo que deixa a sensação de que poderia ter sido algo muito melhor com um pouco mais de refinamento e uma direção narrativa mais coesa. Se a Mundfish decidir criar uma sequela, há muito potencial para melhorar e transformar Atomic Heart numa série verdadeiramente memorável.