Análise: Split Fiction

Split Fiction chega ao mercado como o mais recente capítulo da Hazelight Studios na sua busca incessante por experiências cooperativas obrigatórias. Depois do impacto de A Way Out e do sucesso estrondoso de It Takes Two, o estúdio sueco volta a apostar numa fórmula que conhece bem, mas que volta a elevar com novas ideias, mundos paralelos e um polimento técnico digno de destaque. A proposta é clara: dois jogadores, duas perspectivas, dois mundos distintos — fantasia e ficção científica — unidos por uma narrativa emocional sobre memória, perda e criação artística. E tal como It Takes Two, Split Fiction apresenta uma aventura longa, variada e surpreendente que chega ao topo das ambições do estúdio.

Jogabilidade
Se há algo que se tornou a marca registada da Hazelight, é a capacidade de reinventar a jogabilidade a cada capítulo. Split Fiction segue essa tradição, oferecendo um jogo de plataformas 3D que apresenta mecânicas novas praticamente a cada nível. O ritmo inicial é acelerado, com níveis curtos que servem de introdução às mecânicas fundamentais, mas rapidamente a aventura passa a alternar entre os dois mundos, criando secções longas onde cada habilidade é desenvolvida e reutilizada de forma criativa.

A jogabilidade exige cooperação constante. Existem saltos que só funcionam com sincronização perfeita, puzzles que obrigam a comunicação clara e desafios que testam a coordenação entre ambos os jogadores. É um jogo que recompensa trabalho de equipa, mas também exige precisão — o que pode originar momentos intensos, discussões ocasionais e gargalhadas inevitáveis.

Um dos aspectos mais cativantes é a forma como cada mundo apresenta as suas próprias mecânicas. No mundo de fantasia de Zoe, encontramos habilidades mágicas, criaturas encantadas e ambientes que favorecem exploração vertical e puzzles ambientais. Já no mundo de ficção científica de Mio, a jogabilidade torna-se mais rápida e tecnológica, com gadgets futuristas, robôs hostis e secções mais orientadas para reflexos rápidos.

O jogo não deixa que a variedade se torne dispersão. Pelo contrário, Split Fiction demonstra um controlo impressionante sobre ritmo, introdução de novas ideias e a forma como cada mecânica é utilizada antes de ser substituída por outra. É uma evolução natural da fórmula de It Takes Two: mais focada, mais equilibrada e significativamente mais polida.

Mundo e história
A narrativa centra-se em Mio e Zoe, duas escritoras que se conhecem numa editora prestes a apresentar as suas obras. O encontro é tenso, marcado pelas diferenças de personalidade: Mio introspectiva e reservada, Zoe vibrante e expansiva. Mas quando ambas descobrem que o CEO da editora planeia roubar as histórias dos escritores através de uma máquina misteriosa, vêem-se forçadas a trabalhar em conjunto.

A partir daqui, exploramos mundos baseados nas próprias obras das protagonistas. Esta premissa dá ao jogo uma liberdade criativa que poucos títulos conseguem explorar com tanta ousadia. Numa secção, estamos numa aldeia medieval cheia de cor e humor; na seguinte, atravessamos corredores metálicos repletos de robôs e armadilhas high-tech.

Ao longo da aventura, vamos descobrindo o porquê de cada uma escrever. As histórias funcionam como reflexos emocionais das protagonistas e, à medida que o enredo avança, a relação entre as duas evolui de antipatia para cumplicidade, numa jornada tocante sobre amizade e memória.

Não é uma narrativa que agarre imediatamente — demora algum tempo a ganhar força — mas quando chega aos momentos de maior impacto, revela-se uma história com coração, reforçada por diálogos naturais e uma evolução de personagens credível.

Grafismo
Split Fiction é um dos jogos mais impressionantes da geração atual. Os mundos são vibrantes, variados e repletos de pequenos detalhes que elevam a imersão. O contraste entre fantasia e ficção científica é expressivo, tanto em paleta de cores como em estilo artístico. As animações das personagens são fluidas e cheias de personalidade, transmitindo emoções claras que ajudam a reforçar a narrativa.

Mas o mais impressionante é o polimento técnico. Em catorze horas de jogo, não há relatos de bugs, falhas de performance ou quebras de framerate. Em plataformas como a PlayStation 5, o jogo corre com uma fluidez impecável, demonstrando o cuidado e a competência técnica da Hazelight.

Som
A banda sonora acompanha perfeitamente a diversidade dos mundos apresentados. Nos ambientes de fantasia ouvimos melodias mais quentes e encantadas, enquanto no mundo futurista predominam sons eletrónicos e ritmos mais intensos. Os efeitos sonoros são detalhados, reforçando impacto e presença em cada ação. As vozes das protagonistas destacam-se, transmitindo emoção e ajudando a construir a dinâmica entre as duas personagens. Nada aqui soa fora do lugar: a experiência sonora é tão variada quanto a própria jogabilidade.

Conclusão
Split Fiction é uma evolução natural e ambiciosa do que Hazelight Studios tem vindo a construir ao longo dos anos. Um jogo cooperativo obrigatório, repleto de imaginação, com mecânicas refrescantes, narrativa tocante e uma qualidade técnica rara. Serve tanto como celebração do trabalho em equipa como como homenagem ao poder das histórias e das memórias que guardamos.

A variedade mecânica, o polimento visual e a força da relação entre as protagonistas colocam Split Fiction como um dos melhores jogos cooperativos dos últimos anos. Por 50 dólares, oferece uma aventura de cerca de 14 horas que nunca estagna e está constantemente a surpreender. Para quem tiver alguém com quem jogar, Split Fiction é uma recomendação fácil e um dos grandes candidatos a Jogo do Ano.

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