Análise: The Zebra-Man!

The Zebra-Man! é um jogo que desafia qualquer tentativa de classificação convencional. Inspirado em Hotline Miami, filmes Grindhouse e uma boa dose de loucura descontrolada, é um jogo que nos coloca no papel de um assassino vingativo com um passado misterioso. O jogo mistura elementos de ação em perspetiva superior, puzzles e uma narrativa completamente imprevisível. Desde o primeiro momento, fica claro que esta é uma experiência pensada para chocar e entreter em igual medida. Com um estilo visual inconfundível, sequências live-action e uma banda sonora marcante, The Zebra-Man! é um jogo que se destaca pelo seu caráter excessivo e anárquico.

Jogabilidade

A jogabilidade de The Zebra-Man! é claramente inspirada em Hotline Miami, com combate rápido, brutal e de dificuldade elevada. Os jogadores têm de atravessar uma série de níveis eliminando todos os inimigos que encontram, muitas vezes com um único golpe fatal. O jogo exige rapidez de reflexos, planeamento e alguma sorte para sobreviver aos desafios. A diferença principal em relação ao seu principal influente está na variedade de situações que apresenta. Num momento estás a lutar numa instalação secreta, no outro estás a controlar um rapaz que apenas tenta fazer a sua rotina matinal. O jogo mistura elementos de puzzle e momentos narrativos que quebram completamente o ritmo do jogo, criando uma experiência irregular mas sempre imprevisível.

O sistema de dificuldade adaptativa garante que ninguém fique preso num nível por muito tempo, tornando os inimigos mais lentos e aumentando o número de itens disponíveis à medida que o jogador morre repetidamente. Embora isto possa ser visto como um sistema de acessibilidade, também tira parte da tensão do jogo, facilitando demasiado certos momentos que deveriam ser mais desafiantes.

Mundo e história

A narrativa de The Zebra-Man! é um autêntico caos. A história começa com o protagonista a escapar de uma instalação secreta, onde foi alvo de experimentos conduzidos por cientistas loucos. Ele é ajudado por um misterioso aliado mascarado de guaxinim que lhe oferece a liberdade em troca de vingança. A história parece seguir um percurso lógico até que o jogo decide introduzir personagens completamente novas, saltos temporais e elementos interdimensionais que tornam tudo ainda mais confuso. Em certos momentos, o jogo parece querer desconstruir as convenções narrativas dos videojogos, quebrando a quarta parede e introduzindo metarreferências. Outras vezes, apenas parece querer chocar pela simples vontade de o fazer. O humor oscila entre o absurdo e o puro mau gosto, com referências a cultura pop e piadas autorreferenciais que nem sempre fazem sentido. Existem sequências que parecem retiradas de um jogo completamente diferente e, ao longo da campanha, o foco muda do protagonista para o seu aliado, The Raccoon, que aparentemente tenta escapar de dentro do jogo.

Grafismo

O estilo visual de The Zebra-Man! é uma das suas principais qualidades. O jogo apresenta um pixel art de elevada qualidade, com animações fluidas e um uso inteligente da cor para criar atmosferas distintas. A influência de Hotline Miami é visível na forma como os ambientes estão construídos, com cenários pequenos mas densamente preenchidos de detalhes. No entanto, o jogo não se limita ao pixel art. Existem segmentos 2D, uma sequência em 3D que não acrescenta muito e, claro, as cenas live-action, que dão um toque ainda mais surreal à experiência. Estas cenas misturam-se de forma inesperada com o jogo, aumentando a sensação de que estamos a jogar algo fora do comum. A utilização de efeitos sonoros retirados de outros jogos e filmes contribui para a sensação de que o jogo é um pastiche de influências diversas, sem um fio condutor coeso.

Som

A banda sonora de The Zebra-Man! é um dos seus pontos altos. Com temas eletrónicos vibrantes, a trilha sonora encaixa perfeitamente na estética Grindhouse do jogo. A presença de faixas de artistas independentes como Zay Bass, Doom in Hell e Da Flex dá um tom agressivo e psicadélico ao jogo, reforçando a atmosfera de caos constante. Os efeitos sonoros, por outro lado, são uma mistura de escolhas inspiradas e momentos bizarros. Alguns sons parecem ter sido retirados diretamente de jogos antigos ou filmes de culto, incluindo efeitos famosos como o grito do Yoda de LEGO Star Wars ou o som dos portais de Crash Bandicoot. Isto cria uma experiência auditiva estranha e, por vezes, incoerente, mas que encaixa na filosofia caótica do jogo.

Conclusão

The Zebra-Man! é um jogo que desafia qualquer tentativa de análise objetiva. É um jogo de ação brutal e rápida, mas também um experimento narrativo confuso e sem rumo. Tem um grafismo impressionante em pixel art, mas não resiste a inserir sequências live-action e momentos em 3D que parecem deslocados. A sua história mistura elementos de ficção científica, metanarrativa e humor de gosto duvidoso, criando uma experiência que ora fascina, ora frustra. No final, o jogo não se define nem como uma obra-prima, nem como um desastre total. The Zebra-Man! é um jogo que existe fora das convenções, que desafia expectativas e que, independentemente da qualidade, é algo que ficará na memória de quem o jogar. Pode não ser um jogo para todos, mas é uma experiência que, no mínimo, merece ser vista pelo seu puro atrevimento.

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