Antevisão: Hidalgo

Hidalgo é o novo projeto da Infinite Thread Games, uma proposta encantadora que mistura realidade e fantasia num jogo que presta homenagem às histórias intemporais de Dom Quixote. Depois de uma campanha bem-sucedida no Kickstarter, o jogo está disponível nas principais plataformas, incluindo PC, PlayStation, Xbox e Nintendo Switch. A versão que testámos foi a de PC, e desde o primeiro momento ficou claro que estamos perante uma experiência diferente, pensada para oferecer conforto e tranquilidade, sem pressas nem pressão. Com uma estética acolhedora e uma jogabilidade simples, Hidalgo surge como uma lufada de ar fresco num mercado cada vez mais saturado de jogos intensos e exigentes.

Jogabilidade

Hidalgo apresenta uma jogabilidade simples e acessível, com mecânicas pensadas para que qualquer jogador, mesmo os menos experientes, possa desfrutar da experiência. As missões que vamos encontrando ao longo do percurso são variadas, embora se mantenham dentro de uma abordagem bastante casual. Desde reunir ovelhas a enfrentar bosses simbólicos, tudo é construído com um espírito lúdico e descontraído. Um dos elementos mais interessantes é a forma como o mundo do jogo se apresenta como um cenário montado manualmente, onde o jogador tem de mover e reorganizar peças para progredir. Esta interação reforça a sensação de estarmos a folhear um livro de aventuras imaginado por uma criança ou contado por uma mãe à sua família. A Infinite Thread Games não deixa o jogador perdido e inclui listas de tarefas sempre que se inicia uma nova missão. Este sistema funciona bem e ajuda a manter o ritmo calmo e fluido. O jogo é recomendado com comando, e essa recomendação faz sentido, já que o esquema de controlos com teclado e rato, embora funcional, apresenta algumas falhas de mapeamento que quebram um pouco a fluidez da experiência.

Mundo e história

O mundo de Hidalgo é inspirado em La Mancha, mas não no sentido tradicional. É um mundo de cartão, de papel e de imaginação, onde as histórias de Dom Quixote ganham vida de uma forma totalmente nova. A narrativa é contada através de uma mãe que partilha as aventuras do cavaleiro com os seus filhos, criando uma ligação emocional entre a fantasia e o quotidiano. Esta abordagem confere ao jogo uma camada extra de charme, transformando cada capítulo numa pequena peça de teatro imaginado, onde a ingenuidade e a criatividade infantil ditam as regras. A estrutura do jogo divide-se em capítulos, cada um com os seus objetivos e pequenas histórias inspiradas nas aventuras originais. Um dos momentos mais marcantes da primeira parte é o combate contra um gigante construído a partir de um moinho de vento, uma reinterpretação fiel e encantadora do episódio mais famoso do livro. A forma como o jogo combina momentos clássicos com uma visão mais leve e moderna da história é, sem dúvida, um dos seus maiores trunfos.

Grafismo

Visualmente, Hidalgo é uma delícia. A estética do jogo aposta num estilo cartoon colorido e caloroso, onde tudo parece ter sido feito à mão com materiais reciclados. As colinas de papel, os objetos de uso doméstico transformados em cenários e os personagens com ar caricato contribuem para um ambiente visual único, que remete para livros infantis ilustrados ou maquetes construídas em família. Apesar do estilo gráfico estar bem conseguido na maior parte do tempo, existem algumas falhas que quebram a consistência visual. O ecrã final de cada capítulo, por exemplo, apresenta gráficos visivelmente abaixo da média do resto do jogo, o que causa alguma estranheza. Sendo uma versão em acesso antecipado, é de esperar que estes aspetos venham a ser corrigidos, mas não deixam de ser pontos a ter em conta nesta fase.

Som

A componente sonora é outro dos pontos fortes de Hidalgo. A banda sonora, dominada por acordes de guitarra espanhola, acompanha a jornada do jogador com subtileza e emoção. Esta escolha musical reforça a ligação com o contexto ibérico das histórias de Dom Quixote e contribui para a imersão no ambiente do jogo. Mais do que um simples fundo musical, a música é parte ativa da experiência, ajudando a transmitir o tom sonhador e nostálgico da narrativa. Os efeitos sonoros também são eficazes, ainda que discretos. Tudo está desenhado para não interferir com a tranquilidade do jogo, mas sim para complementá-la. É um jogo que sabe quando deve ser silencioso e quando deve deixar a música falar mais alto.

Conclusão

Hidalgo é uma experiência diferente, construída com carinho e criatividade. Não tenta competir com os grandes títulos em termos de complexidade ou ação, mas antes oferece uma alternativa calma e acessível, ideal para quem procura um jogo que se joga devagar, sem pressa. A combinação entre a narrativa familiar, os visuais encantadores e a música envolvente cria um ambiente único, onde a imaginação é a verdadeira protagonista. Embora existam pequenos problemas gráficos e alguns aspetos a polir, Hidalgo mostra muito potencial. É um jogo que aposta mais na sensação de conforto do que na adrenalina, e isso é algo que merece ser valorizado. Para quem quiser mergulhar numa história clássica contada de uma forma nova e visualmente distinta, Hidalgo é uma escolha a considerar.

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