Antevisão: Mind Keeper

Mind Keeper é um jogo que aposta numa abordagem diferente dentro do género de defesa de torre com elementos roguelite, ao mesmo tempo que se destaca pela sua estética única desenhada à mão. Desenvolvido com uma clara inspiração em projetos mais experimentais, este título oferece uma experiência que cruza a construção estratégica com um ambiente sombrio e intimista. À primeira vista, o jogo atrai pela sua aparência invulgar, mas por detrás do seu traço a lápis e papel esconde-se uma jogabilidade que, apesar de familiar para os fãs de roguelites, tenta introduzir algumas mecânicas próprias. Não se trata de um jogo que tenta reinventar a roda, mas sim de um título que se posiciona como uma curiosidade visual com uma jogabilidade sólida, ainda que com algumas limitações. Mind Keeper convida o jogador a entrar num mundo mental assombrado, onde cada estrutura construída é uma tentativa de proteger a sanidade do protagonista. Com um sistema de progressão linear, bosses marcantes e alguma profundidade estratégica, o jogo promete pelo menos algumas horas de entretenimento para os que procuram algo diferente dentro do género.

Jogabilidade

A jogabilidade de Mind Keeper segue as bases tradicionais dos roguelites, com uma estrutura centrada em combates por vagas, melhoria progressiva de capacidades e uma curva de dificuldade que aumenta gradualmente até aos confrontos com bosses. A componente principal do jogo está na colocação estratégica de estruturas defensivas e utilitárias, tentando equilibrar a economia com a capacidade de causar dano. O jogador vai construindo torres e edifícios especiais enquanto enfrenta vagas de inimigos que representam demónios internos, num campo de batalha fixo que ocupa todo o ecrã. Entre cada vaga, o jogador pode escolher um melhoramento, sendo possível criar sinergias ao longo da partida. Ao escolher certos tipos de melhorias, novas cartas são adicionadas ao baralho, o que permite aumentar ainda mais a complexidade das combinações. Existe também uma pequena árvore de talentos acessível entre partidas, que desbloqueia habilidades passivas e novas armas, garantindo alguma progressão persistente.

Apesar das várias opções disponíveis, a jogabilidade não é particularmente profunda a longo prazo. As torres fazem a maior parte do trabalho, com o jogador a ter um papel mais passivo, e o ataque básico torna-se rapidamente irrelevante a não ser que o jogador opte por fazer um build específico à volta dele. O desafio maior está em encontrar a melhor forma de posicionar as estruturas e reagir aos bosses que introduzem mecânicas próprias. Um exemplo interessante é o segundo boss, que pode destruir instantaneamente um edifício com uma espada, forçando o jogador a pensar bem onde posiciona cada estrutura.

Mundo e história

Mind Keeper apresenta um mundo introspectivo, centrado na mente do protagonista. A narrativa não é contada de forma explícita, mas sim através da estética, das mecânicas e da atmosfera do jogo. Cada construção feita pelo jogador simboliza uma tentativa de proteger a sua sanidade, e os inimigos que atacam representam manifestações de demónios interiores. Existe uma narrativa escrita e dinâmica que acompanha o progresso, onde as decisões do jogador têm algum impacto no rumo dos acontecimentos. Ainda assim, o enredo é deixado em segundo plano, funcionando mais como um pano de fundo que sustenta a estética e o conceito do jogo do que como um verdadeiro motor da experiência. Esta abordagem encaixa bem no tom do jogo, mas pode desapontar quem procura uma história mais desenvolvida ou com personagens envolventes. O mundo de Mind Keeper é mais simbólico do que concreto, funcionando como uma representação abstrata do combate interno de alguém a lutar pela estabilidade mental. Essa escolha narrativa é interessante, mas pouco desenvolvida no que diz respeito ao conteúdo oferecido ao jogador ao longo das runs.

Grafismo

O aspeto visual é, sem dúvida, o elemento mais marcante de Mind Keeper. Todo o jogo foi desenhado com lápis e papel, criando uma estética artesanal que o distingue da maioria dos títulos do género. Esta abordagem oferece uma sensação crua e pessoal, reforçando o tema psicológico do jogo. Apesar da escolha artística limitar um pouco a variedade de inimigos e elementos visuais, a identidade visual está bem conseguida e oferece momentos de impacto visual, especialmente nos confrontos com bosses. As animações são simples, mas eficazes dentro do estilo escolhido. A clareza visual mantém-se mesmo quando o ecrã está cheio de inimigos e estruturas, o que é essencial num jogo deste género. Ainda assim, é notório que o jogo poderia beneficiar de uma maior diversidade gráfica, sobretudo ao nível dos inimigos, que tendem a repetir-se demasiado. Apesar disso, a interação dos bosses com o ambiente é um toque bem-vindo, dando uma camada adicional de tensão ao jogo.

Som

O som em Mind Keeper cumpre a sua função, mas não se destaca. A banda sonora mantém uma tonalidade sombria e algo melancólica, o que combina com o tom geral do jogo, mas acaba por não ser particularmente memorável. Os efeitos sonoros estão bem integrados, dando o devido impacto às ações no ecrã, como as construções, os ataques e as destruições de estruturas. Faltam, no entanto, elementos sonoros que elevem a tensão durante os combates mais intensos ou que destaquem as diferentes fases das vagas. Os bosses têm algum tratamento sonoro distinto, mas esse cuidado não se estende a todas as situações de jogo. Em suma, o som contribui para a atmosfera, mas de forma discreta e sem grande protagonismo.

Conclusão

Mind Keeper é um jogo que vive da sua identidade visual e de um conceito interessante. A mistura entre defesa de torre e roguelite com uma estética desenhada à mão resulta numa proposta original, ainda que com algumas falhas na execução. A jogabilidade oferece algumas boas ideias, nomeadamente na colocação estratégica das estruturas e nas mecânicas únicas dos bosses, mas acaba por ser limitada a longo prazo. A narrativa, embora presente, não é suficientemente explorada para deixar uma marca duradoura. É um jogo que vale a pena experimentar, sobretudo para quem procura algo diferente dentro do género. Contudo, não é um título com grande longevidade ou profundidade, servindo mais como uma experiência curta e curiosa. Se for complementado com novos modos, mais conteúdo e algumas melhorias na interface e estabilidade, poderá tornar-se numa proposta mais sólida. Para já, é um jogo que brilha mais pelo estilo do que pela substância, mas que consegue entreter durante algumas horas.

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