Finding Frankie apresenta-se como um jogo de terror com uma forte componente de parkour, disfarçado inicialmente como um simples e divertido programa televisivo. Esta premissa, aparentemente leve, esconde uma experiência mais sombria e claustrofóbica do que se poderia imaginar à primeira vista. Desenvolvido por uma equipa que se estreia com este título, o jogo tenta conciliar mecânicas de movimento frenético com momentos de puro terror atmosférico. A proposta é clara: três concorrentes são lançados para dentro de um jogo mortal, onde têm de correr, saltar e sobreviver a encontros com criaturas assustadoras, tudo isto dentro de um cenário que mistura o colorido e absurdo de um jogo de televisão com uma crescente sensação de desespero.
Com uma estética que remete para títulos como Poppy Playtime e Garden of Banban, Finding Frankie aposta no horror das mascotes deformadas e no contraste entre a aparência amigável e as intenções violentas destas figuras. A ideia é boa, e a execução tem méritos, embora nem tudo corra de forma exemplar. É um jogo com identidade própria, mesmo que por vezes se sinta que falta coragem para levar mais longe algumas das ideias apresentadas.
Jogabilidade
No centro da experiência de Finding Frankie está a sua jogabilidade baseada em parkour e evasão. O jogador é lançado em níveis com múltiplos obstáculos, onde tem de correr, saltar entre paredes, balançar em barras, deslizar por rampas e utilizar trampolins para alcançar novas áreas. A variedade de movimentos é interessante e oferece alguma profundidade, embora nem sempre funcione da forma mais fluída. A sensação de fisicalidade, essencial num jogo de parkour, por vezes falha. Saltar sobre obstáculos ou balançar em objetos verticais pode parecer pouco responsivo ou confuso, quebrando um pouco o ritmo. Durante a maior parte da aventura, o jogador vai alternando entre momentos de ação rápida e segmentos de exploração mais pausados. Infelizmente, grande parte da jogabilidade acaba por se reduzir a andar à procura de interruptores e alavancas para abrir portas, o que torna algumas secções do jogo monótonas. Mesmo quando o design dos níveis é competente, a falta de direção clara em certos momentos pode gerar frustração. Houve situações em que simplesmente não era evidente onde se devia ir a seguir. Por outro lado, quando o jogo acerta, os momentos de perseguição e as secções com obstáculos mais elaborados conseguem ser bastante intensos e satisfatórios. A última fase, por exemplo, remete claramente para Fall Guys, com uma corrida final cheia de adrenalina e perigos inesperados. Contudo, a dificuldade nesta parte final pode ser desproporcional, com mortes causadas por inimigos imprevisíveis e pouca margem de reação.

Mundo e história
A narrativa de Finding Frankie é simples, mas eficaz no que pretende transmitir. Três pessoas recebem convites dourados escondidos em caixas de cereais da marca Frankie e são levadas para participar num programa de televisão supostamente divertido e inofensivo. No entanto, rapidamente se percebe que este jogo tem consequências mortais e que as personagens animadas que deveriam ser amigáveis escondem intenções malévolas. Ao longo do jogo, a história é contada de forma linear, sem grandes reviravoltas, mas mantendo sempre um tom coerente e envolvente. É fácil seguir os acontecimentos, o que é uma mais-valia em comparação com outros títulos do género que se perdem em enigmas ou lore mal explicado. Ainda assim, o jogo perde alguma oportunidade de aprofundar as suas personagens. Frankie e Henry Hotline têm um bom design e presença, mas raramente temos tempo para verdadeiramente os conhecer, e os companheiros de aventura, que poderiam criar uma dinâmica interessante, são praticamente ignorados. Um dos pontos altos é a inclusão do Deputy Duck, um companheiro robótico que acompanha o jogador e serve como alívio cómico e suporte técnico. Com funcionalidades como radar e luzes de alerta, este pequeno aliado traz alguma leveza à tensão constante do jogo, ajudando a equilibrar o tom da narrativa.
Grafismo
Visualmente, Finding Frankie é um jogo apelativo e cuidado. Os cenários são bem detalhados, com ambientes variados que vão desde parques de trampolins interiores a corredores claustrofóbicos e túneis escuros. A atmosfera é um dos pontos mais fortes do jogo, conseguindo criar uma sensação de desconforto constante sem recorrer a sustos baratos. A iluminação é usada de forma eficaz, criando contrastes entre áreas vibrantes e coloridas e outras mais escuras e sinistras. O design das personagens, em particular, é digno de destaque. As mascotes possuem uma estética perturbadora que funciona bem dentro do contexto do jogo. Mesmo que nem sempre as vejamos de perto, o simples facto de saber que estão por aí algures já é suficiente para manter a tensão. Os ecrãs de morte, por exemplo, têm uma qualidade gráfica surpreendente e contribuem para a construção do mundo e da ameaça. Infelizmente, a câmara e a animação dos movimentos por vezes deixam a desejar. Certas ações parecem pouco polidas, como os saltos em trampolins horizontais ou as aterragens após uma queda longa. Nada que arruíne a experiência, mas são detalhes que, se melhorados, poderiam tornar o jogo mais satisfatório em termos de feedback visual e resposta.

Som
A componente sonora de Finding Frankie é um dos elementos que mais contribui para a sua identidade. A banda sonora é bem composta, com destaque para o tema do desafio final, uma faixa de dubstep intensa que acompanha perfeitamente o momento de maior tensão do jogo. Apesar de não ser do agrado de todos, a música tem qualidade e ajuda a elevar o ambiente em momentos-chave. Os efeitos sonoros também cumprem bem o seu papel, especialmente nas sequências de perseguição e nos momentos de maior tensão. Os sons ambientes são bem utilizados para criar atmosfera — passos ao longe, portas que rangem, ecos em túneis escuros — e complementam eficazmente o grafismo e o design de níveis. As vozes das personagens são limitadas, mas coerentes com o estilo do jogo. Não há grande foco na atuação vocal, o que é compreensível, dado o tipo de narrativa adotada. No geral, o som é mais uma ferramenta de construção de ambiente do que um elemento narrativo por si só, e nesse papel é bem-sucedido.
Conclusão
Finding Frankie é um jogo com uma ideia interessante e com bastante potencial, mas que ainda não consegue atingir todo o impacto que poderia. A mistura entre terror atmosférico e mecânicas de parkour é cativante, mas o jogo parece hesitar em abraçar plenamente qualquer um dos géneros. O resultado é uma experiência divertida, por vezes intensa, mas que sabe a pouco, tanto em duração como em profundidade. Os controlos poderiam beneficiar de mais opções e polimento, e a ausência de uma verdadeira sensação de progressão narrativa ou de desafio crescente torna a experiência algo inconsistente. Ainda assim, o jogo merece reconhecimento pelo seu estilo visual, pela qualidade técnica e pela forma como consegue manter uma identidade própria mesmo num mercado saturado de jogos de horror com mascotes. Por 15 euros, o conteúdo oferecido talvez fique aquém das expectativas de alguns jogadores, mas há aqui uma base sólida que, com mais tempo e investimento, pode evoluir para algo verdadeiramente especial. É uma estreia promissora para os seus criadores, e quem sabe, talvez Frankie volte num futuro não muito distante, com mais sustos, mais saltos, e uma experiência mais robusta.