Análise: Mother Machine

Mother Machine é o mais recente projeto do estúdio indie alemão Maschinen-Mensch, conhecido por títulos como Curious Expedition. Apresentado como uma proposta inovadora no espaço dos jogos cooperativos, o jogo aposta numa estética peculiar, numa jogabilidade acessível e numa boa dose de humor negro. A promessa é clara: uma experiência cooperativa fresca, com elementos de roguelike, exploração e personalização. No entanto, apesar de algumas ideias interessantes e de um charme visual e narrativo que não passa despercebido, Mother Machine acaba por não cumprir o seu potencial, oferecendo uma experiência que, embora cativante nas primeiras horas, se torna repetitiva e pouco gratificante à medida que o tempo avança.

Jogabilidade

A jogabilidade de Mother Machine combina várias influências conhecidas. A exploração e os sistemas de resistência e buffs remetem diretamente para jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild, enquanto o sistema de mutações lembra os emblemas de Super Mario Wonder. A movimentação é um dos pontos fortes do jogo, com saltos e rolamentos bem implementados e com uma física que confere peso e fluidez às ações do jogador. O combate, por outro lado, é rudimentar e rapidamente se torna enfadonho. Basicamente, resume-se a carregar repetidamente num botão de ataque e desviar ocasionalmente dos inimigos. Existem seis tipos diferentes de missões disponíveis, jogáveis a solo ou em cooperação com até quatro jogadores. Cada missão implica realizar pequenas tarefas para desbloquear áreas, recolher recursos e ativar satélites, que servem de pré-requisito para avançar na campanha principal. O jogo permite desbloquear mutações que alteram ligeiramente o estilo de jogo, como um salto duplo com gás ou uma cura em grupo. Contudo, apenas uma pode estar ativa de cada vez, o que limita bastante a profundidade estratégica e a sensação de progressão. Apesar do sistema parecer promissor, rapidamente se percebe que a variedade é escassa. Os níveis, gerados proceduralmente, acabam por se parecer demasiado entre si, e os tipos de missão, embora teoricamente diferentes, acabam por partilhar a mesma estrutura base. Uma exceção interessante é a missão de entrega de baterias, onde os jogadores têm de proteger um drone em movimento, exigindo maior cooperação. Infelizmente, é uma exceção num mar de repetição.

Mundo e história

O universo de Mother Machine apresenta uma premissa curiosa: um planeta alienígena habitado por autómatos descontrolados, onde uma entidade conhecida como Mother Machine é capaz de clonar os seus filhos indefinidamente para realizar missões. Esta premissa dá lugar a um humor negro que marca presença sobretudo no início do jogo, com diálogos mordazes e uma abordagem satírica à ideia de sacrifício e repetição. No entanto, este tom irreverente acaba por se diluir com o tempo, sem conseguir evoluir ou oferecer momentos realmente memoráveis. A narrativa é entregue principalmente através de caixas de texto e diálogos ocasionais com a Mother Machine, o que contribui para a sensação de que se trata de uma oportunidade perdida. Apesar de se perceber uma intenção clara de criar um universo coerente e com personalidade, a falta de desenvolvimento narrativo e a superficialidade dos eventos tornam difícil manter o interesse. As missões de história, que deveriam representar os momentos altos da campanha, não se distinguem significativamente das missões normais, exceto por algumas linhas de diálogo adicionais. O resultado é uma narrativa que parece secundária, quase um acessório ao loop de jogabilidade repetitivo.

Grafismo

Visualmente, Mother Machine apresenta um estilo artístico simpático e peculiar, que mistura elementos de sci-fi com um toque cartoon. As personagens clonadas têm um design caricato, com traços exagerados que combinam bem com o humor do jogo. A direção de arte procura um equilíbrio entre o estranho e o acessível, e nesse aspeto, o jogo consegue criar uma identidade visual própria. Contudo, a repetição visual dos níveis torna-se evidente demasiado cedo. Apesar da geração procedural, as diferenças entre áreas são mínimas e insuficientes para manter o ambiente fresco ou surpreendente. A expansão Misty Grove, que prometia oferecer novos visuais, acaba por ser apenas uma nova camada estética aplicada aos mesmos conteúdos e estruturas. A sensação de déjà vu instala-se rapidamente, prejudicando a imersão e a curiosidade do jogador.

Som

A componente sonora de Mother Machine cumpre o mínimo, mas pouco mais do que isso. A banda sonora é funcional e acompanha a ação de forma discreta, sem nunca se destacar verdadeiramente. A ausência de faixas memoráveis ou variação musical condiz com o resto da experiência: competente, mas sem impacto. Os efeitos sonoros, embora adequados, carecem de peso e de variedade. O combate, já de si limitado, torna-se ainda mais monótono devido à repetição dos mesmos sons de ataque e dano. As falas da Mother Machine, apesar de esporádicas, são o ponto alto da componente sonora, contribuindo para o tom sarcástico do jogo. Ainda assim, o voice acting é limitado, e grande parte da história é transmitida apenas através de texto.

Conclusão

Mother Machine é um projeto que, à partida, tinha tudo para oferecer uma experiência cooperativa diferente e envolvente. Tem ideias interessantes, um estilo visual distinto e um sentido de humor que lhe confere identidade. No entanto, estas qualidades são insuficientes para sustentar um jogo que falha naquilo que é mais importante: manter o interesse e oferecer variedade. Com apenas duas lutas contra bosses durante toda a campanha, um número reduzido de mutações relevantes e uma progressão que rapidamente se esgota, o jogo começa a dar sinais de cansaço ao fim de poucas horas. O facto de as missões principais serem quase indistinguíveis das missões secundárias agrava ainda mais o problema. A expansão Misty Grove, longe de revitalizar a experiência, limita-se a replicar os mesmos conteúdos com uma nova paleta de cores. A performance técnica também deixa a desejar. Mesmo em máquinas recentes o jogo sofre quebras de fluidez. Na Steam Deck, o desempenho é ainda mais instável. No fim, Mother Machine sente-se mais como uma demo prolongada do que como um jogo completo. A base está lá, mas falta-lhe profundidade, polimento e, sobretudo, variedade. É uma experiência que pode entreter durante uma ou duas horas, especialmente com amigos, mas dificilmente deixará uma marca duradoura.

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