Análise: Rendering Ranger™: R² [Rewind]

Rendering Ranger R2 é um dos jogos mais raros da Super Famicom e também um dos mais interessantes. Desenvolvido por Manfred Trenz, criador de Turrican, o jogo foi lançado apenas no Japão, apesar de originalmente estar planeado para chegar ao mercado ocidental sob o nome Targa. Com apenas 10.000 cópias produzidas, tornou-se uma verdadeira relíquia para colecionadores. Agora, com a edição Rewind da Limited Run Games, esta experiência híbrida entre run-and-gun e shoot-‘em-up está finalmente disponível para um público mais amplo. Mas será que a jogabilidade envelheceu bem e que o jogo continua a valer a pena nos dias de hoje?

Jogabilidade

O jogo mistura dois géneros clássicos da era 16-bit, alternando entre secções de plataformas ao estilo de Contra e segmentos de nave que lembram Thunder Force. Nas fases de plataformas, os controlos são responsivos, mas ligeiramente soltos, algo que pode causar alguma frustração quando combinado com knockbacks e posicionamentos de inimigos bastante rigorosos. Felizmente, há uma boa variedade de armas que podem ser trocadas ao longo do jogo, permitindo ao jogador adaptar-se a diferentes situações. Também é possível melhorar o poder de fogo, embora sofrer dano reduza a força do armamento, o que adiciona um elemento estratégico à jogabilidade. As secções de shoot-‘em-up são empolgantes, mas por vezes visualmente confusas. O jogo permite a utilização de três bombas que funcionam de forma diferente consoante a arma equipada e operam num sistema de recarga, tornando-se um recurso valioso durante os momentos mais caóticos. No entanto, os níveis são longos, por vezes até demais, o que pode levar a alguma fadiga ao longo da campanha.

Mundo e história

A história de Rendering Ranger R2 é praticamente inexistente, o que não é surpreendente para um jogo do género. Existe uma vaga premissa sobre defender a Terra contra uma ameaça alienígena, mas o enredo não tem qualquer impacto real na experiência de jogo. O verdadeiro apelo está na jogabilidade e na sua fusão entre dois estilos clássicos, tornando-o uma experiência arcade pura. Ainda assim, para os mais atentos, há alguns detalhes interessantes nos níveis que sugerem um universo mais desenvolvido do que o jogo dá a entender. Algumas fases evocam batalhas espaciais de grande escala, enquanto outras se passam em ambientes industriais e tecnologicamente avançados. O ataque à nave-mãe no nível seis é um dos momentos mais impressionantes, tanto em termos de design como de escala.

Grafismo

Uma das decisões mais marcantes durante o desenvolvimento foi a troca de sprites tradicionais por um estilo pré-renderizado, na tentativa de capitalizar o sucesso de Donkey Kong Country. O resultado é visualmente impressionante, com cenários detalhados e animações fluídas, especialmente para um jogo da Super Famicom. Efeitos em Mode 7 são usados com frequência para criar sequências dinâmicas, como explosões massivas e naves a rodopiar pelo ecrã. No entanto, este estilo visual tem algumas desvantagens. Em certos momentos, os elementos no ecrã podem ser difíceis de distinguir devido à quantidade de detalhes e à paleta de cores utilizada. Isto é particularmente problemático nas secções de shoot-‘em-up, onde inimigos, projéteis e fundos se misturam de forma caótica, prejudicando a legibilidade do jogo. Ainda assim, para um jogo da época, Rendering Ranger R2 continua a ser uma proeza técnica e visual.

Som

A banda sonora segue um estilo eletrónico e intenso, com influências de Turrican, garantindo que a ação nunca perde o ritmo. As faixas são energéticas e complementam bem o tom acelerado do jogo, ainda que não sejam particularmente memoráveis. Os efeitos sonoros são satisfatórios, com explosões e disparos que transmitem bem a sensação de impacto, apesar de algumas repetições ao longo da campanha. O trabalho sonoro não é inovador, mas faz um bom serviço em manter o jogador imerso na experiência. Comparado com outros jogos da época, fica aquém de bandas sonoras icónicas como as de Contra ou Thunder Force, mas não chega a ser um ponto negativo.

Conclusão

Rendering Ranger R2 é um jogo de ação competente que combina dois estilos clássicos de forma eficaz, ainda que com algumas arestas por limar. A jogabilidade é fluída e desafiante, com um bom sistema de armas e momentos de pura adrenalina. No entanto, sofre de algumas falhas técnicas que podem frustrar, como controlos ligeiramente imprecisos, secções visualmente confusas e um sistema de passwords desnecessário na edição Rewind. Para os fãs de Turrican e de jogos de ação da era 16-bit, esta é uma experiência que vale a pena, especialmente considerando a raridade do título original. No entanto, para quem procura um jogo de plataformas ou um shoot-‘em-up mais refinado, há opções melhores no mercado. Mesmo assim, a sua mistura de géneros, armas diversificadas e recarga de bombas tornam-no uma experiência singular, que merece pelo menos uma tentativa. Agora, com um preço acessível, está finalmente ao alcance de mais jogadores, o que é sempre uma boa notícia.

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