INAYAH – Life after Gods é uma nova proposta no género metroidvania que aposta numa estética 2D desenhada à mão e numa narrativa emocional centrada numa protagonista feminina à procura de um lugar a que possa chamar lar. Apesar de não revolucionar o género, o jogo apresenta uma experiência sólida, com momentos de grande intensidade e uma apresentação visual que o coloca num patamar elevado entre os seus pares. Desenvolvido com um claro amor pelo género, INAYAH é um título que tenta equilibrar uma jogabilidade desafiante com uma história marcante e escolhas com impacto, mesmo que nem todos os seus elementos estejam ao mesmo nível.
Jogabilidade
A jogabilidade de INAYAH segue os pilares clássicos do género metroidvania, oferecendo um vasto mapa interligado com biomas distintos e caminhos secretos a descobrir. O movimento é fluido, com controlos precisos, sobretudo quando se joga com um comando, sendo evidente que foi essa a intenção original dos criadores. O arsenal da protagonista, centrado num artefacto chamado Gauntlet, permite alternar entre três formas principais: lâminas, um mangual e punhos. Cada uma destas armas oferece diferentes estilos de combate e até formas únicas de movimentação, incentivando o jogador a experimentar combinações e abordagens variadas. Existe também um sistema de progressão através de uma árvore de habilidades, que permite especializar a personagem e adaptar o combate ao estilo de cada jogador. Infelizmente, a troca entre armas pode tornar-se algo incómoda durante secções de plataformas mais exigentes, o que pode causar alguma frustração. Fora isso, os combates são satisfatórios, com destaque para as lutas contra os mais de 20 bosses únicos, cada um com padrões distintos e várias fases que exigem adaptação constante.

Mundo e história
O universo de INAYAH é um cenário pós-apocalíptico onde civilizações avançadas colapsaram, dando lugar a clãs brutais e uma luta constante pela sobrevivência. Inayah, a protagonista, é uma órfã e pária em busca do seu povo perdido, sendo esta a premissa que guia a sua jornada. A narrativa é construída com base em interações com NPCs, escolhas morais e descobertas ambientais, sendo possível desbloquear múltiplos finais consoante as decisões tomadas. Apesar de haver um esforço claro em dar profundidade ao mundo e às personagens, há problemas na execução. O diálogo é frequentemente amador, tanto na escrita como na entrega vocal, tornando difícil criar empatia com certas personagens. A própria protagonista, embora visualmente carismática, tende a soar condescendente nas suas interações, o que pode afastar alguns jogadores. A história em si, especialmente na componente de ficção científica, acaba por ser pouco memorável quando comparada com outras obras do género.
Grafismo
Se há algo que verdadeiramente destaca INAYAH entre os muitos títulos do seu género é o grafismo. Todo o jogo é desenhado à mão, com uma atenção ao detalhe impressionante tanto nas personagens como nos cenários. A animação é fluída e meticulosa, com movimentos que se sentem naturais e cheios de personalidade. Há momentos em que o jogador se vê compelido a parar e observar o mundo à sua volta, tal é a beleza dos ambientes apresentados. Contudo, este ponto forte não está isento de falhas. Apesar da beleza estética, muitos dos locais acabam por se sentir repetitivos, partilhando paletas de cores e elementos visuais semelhantes que retiram algum impacto à exploração. Além disso, a estrutura labiríntica do mapa, aliada à falta de atalhos suficientes, torna a navegação frustrante, especialmente quando se é obrigado a revisitar zonas antigas para desbloquear novas áreas.

Som
A componente sonora de INAYAH é competente, com uma banda sonora agradável que complementa bem o ambiente melancólico e por vezes brutal do jogo. A música consegue, em certos momentos, elevar a intensidade das lutas ou acentuar a solidão da protagonista, sem nunca ser intrusiva. É uma trilha sonora discreta, mas eficaz. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito do trabalho de vozes. A qualidade da locução é inconsistente, com interpretações que variam entre o aceitável e o francamente irritante. A voz da protagonista, em particular, é um dos pontos mais fracos do jogo, soando desajustada tanto nas interações com NPCs como na entrega de linhas importantes. Este problema tonal mina a seriedade de certas cenas e quebra a imersão, algo que é especialmente prejudicial num jogo que se apoia fortemente na sua narrativa.
Conclusão
INAYAH – Life after Gods é um título com muito coração, que acerta em cheio na sua componente artística e no design de combate, mas que tropeça em elementos cruciais como o design de níveis, escrita e direção vocal. É uma experiência recomendada para os fãs de metroidvanias que procuram uma aventura com uma apresentação visual distinta e momentos de verdadeira tensão nos combates contra bosses. Apesar das suas falhas, o jogo oferece valor suficiente para justificar uma recomendação, especialmente para quem aprecia histórias com ramificações morais e a exploração de mundos desolados. Não é a próxima grande revolução do género, mas é uma adição digna ao seu catálogo, com alma suficiente para deixar marca em quem conseguir ultrapassar os seus defeitos.