Seafrog é um daqueles jogos que à primeira vista parecem uma curiosidade digital, mas que rapidamente conquistam o jogador com a sua proposta irreverente e uma execução surpreendentemente sólida. Desenvolvido pela OhMyMe Games, este título coloca-nos na pele de uma pequena rã digital com uma missão peculiar: explorar navios perdidos num mar misterioso enquanto faz acrobacias numa espécie de chave inglesa voadora. O conceito é estranho, mas cativante, especialmente para quem cresceu a jogar títulos como Tony Hawk’s Pro Skater ou Skate. A abordagem mistura a nostalgia dos jogos de skate com elementos de exploração, combate leve e progressão narrativa, tudo embrulhado num estilo visual vibrante e animado. Embora à primeira vista Seafrog possa parecer apenas mais um indie curioso com uma mascote engraçada, o jogo mostra rapidamente que há substância por detrás do estilo.
Jogabilidade
É na jogabilidade que Seafrog brilha com mais intensidade. A base do jogo assenta numa estrutura de níveis ligados por uma espécie de hub central, com cada navio a representar uma nova zona a explorar. O jogador salta, desliza por corrimões, executa manobras e combate inimigos com fluidez. As mecânicas são simples de entender, mas existe uma curva de aprendizagem bem calibrada que vai agradar tanto aos iniciantes como aos fãs mais exigentes do género. As acrobacias são realizadas automaticamente durante os saltos, mas é o jogador quem deve controlar a aterragem, os manuais e a utilização do boost, que é essencial para alcançar plataformas elevadas ou eliminar inimigos. O jogo recompensa o domínio dos controlos com momentos de pura satisfação, onde se encadeiam manobras com fluidez e precisão.
Os inimigos estão bem distribuídos e representam um desafio leve, mas constante. O combate nunca é o foco principal, mas está suficientemente bem integrado para dar variedade e manter o ritmo interessante. As missões dentro de cada navio alternam entre desafios de acrobacias, batalhas e objetivos específicos, como executar manobras em frente a marcos do cenário. Existe também uma boa diversidade nos objetivos secundários, o que contribui para a longevidade do jogo.

Mundo e história
A narrativa de Seafrog é simples, mas eficaz. A personagem principal é uma pequena rã digital, presa numa espécie de taça oceânica virtual. A sua única companhia é um pirata digital que fornece orientações e algum contexto narrativo. A missão principal passa por recolher combustível para explorar novos navios, cada um com os seus desafios únicos e habitantes peculiares. Embora a história não seja o elemento mais desenvolvido, cumpre o seu papel ao fornecer um fio condutor para a progressão e justificar a estrutura em ilhas ou navios. Os NPCs espalhados pelos níveis oferecem pequenas interações, algumas com informação útil, outras apenas com um toque de humor. A presença destes personagens ajuda a dar personalidade ao mundo e impede que este se torne repetitivo. Cada navio representa um novo cenário com um conjunto distinto de inimigos, obstáculos e elementos visuais. Apesar de manterem o mesmo tema náutico, são suficientemente diferentes entre si para manter a exploração interessante. Existe também um navio central onde o jogador regressa entre missões, sem inimigos ou perigos, ideal para fazer uma pausa ou trocar melhorias. As batalhas contra bosses são outro elemento de destaque, surgindo em momentos-chave e exigindo alguma estratégia e domínio dos controlos. São desafios que adicionam um grau de intensidade à jogabilidade e quebram a rotina dos níveis normais.
Grafismo
Seafrog apresenta um estilo visual encantador e coerente com o seu tom descontraído. A estética é fortemente influenciada por desenhos animados, com cores vivas, explosões exageradas e texto estilizado sempre que se realiza uma manobra. É uma escolha que combina bem com o ritmo acelerado da jogabilidade e que nunca cansa os olhos. O jogo utiliza uma perspetiva side-scroller em 2.5D, que se revelou a decisão acertada. Permite uma boa visibilidade do cenário e facilita a execução de truques e saltos, sem sacrificar a profundidade visual. Apesar de em alguns momentos os visuais parecerem ligeiramente desfocados, especialmente em movimento, nunca chegam a prejudicar a experiência ou a legibilidade da ação. A variedade de animações é outro ponto a favor, com as diferentes manobras a serem visualmente distintas e facilmente reconhecíveis. Os efeitos visuais como faíscas nas rampas, trilhos de fogo deixados pelo boost e pequenas animações nas aterragens contribuem para uma sensação de velocidade e impacto muito bem conseguida. É um jogo que se apresenta com personalidade e que nunca se leva demasiado a sério, o que resulta muito bem no contexto em que se insere.

Som
No que toca ao som, Seafrog acompanha o seu estilo visual com uma banda sonora variada e bem integrada na ação. Algumas faixas são mais calmas e atmosféricas, enquanto outras puxam mais para o rock leve, acompanhando o tom rebelde e acelerado do jogo. Nenhuma música se destaca por si só, mas em conjunto funcionam bem e mantêm o ambiente animado. Os efeitos sonoros estão igualmente bem conseguidos. O som dos trilhos metálicos ao serem percorridos, o impulso do boost, os saltos e os pequenos estalidos ao eliminar inimigos oferecem um bom feedback ao jogador. Não sendo particularmente complexos, estes sons são claros, agradáveis e contribuem para o ritmo rápido da ação. Os NPCs não têm vozes completas, mas cada um possui sons próprios que os distinguem, o que evita a repetição e ajuda a dar-lhes um pouco mais de vida. Este cuidado com os pequenos detalhes sonoros reforça a atenção da equipa de desenvolvimento na criação de um jogo coeso.
Conclusão
Seafrog é uma agradável surpresa no panorama dos jogos independentes. Com uma proposta original, uma execução sólida e um equilíbrio muito bem conseguido entre exploração, acrobacias e combate leve, o jogo consegue oferecer horas de diversão descontraída sem nunca se tornar repetitivo. A mistura entre um sistema de skate simplificado, ambientação náutica e personagens peculiares resulta numa experiência única e divertida. Apesar de pequenos problemas com a navegação nos primeiros níveis e algum desfoque gráfico ocasional, são aspetos menores face ao conjunto geral. O jogo é acessível, tem personalidade e apresenta desafios suficientes para manter o interesse ao longo do tempo. Para os fãs de jogos de skate que procuram algo diferente ou para jogadores que gostam de ação leve com um toque de humor e criatividade, Seafrog é uma aposta certeira. É um daqueles títulos que não precisa de ser grandioso para ser memorável, e que certamente deixará uma impressão positiva em quem lhe der uma oportunidade.