Sand é um daqueles jogos que imediatamente chama a atenção pela sua proposta fora do comum. Num mundo alternativo anterior à Primeira Guerra Mundial, onde a tecnologia evoluiu num rumo peculiar, os jogadores assumem o controlo de enormes veículos com pernas, conhecidos como Tramplers. Estes colossos metálicos não são apenas meios de transporte – são fortalezas ambulantes, armadas até aos dentes, que servem de base móvel numa luta constante pela sobrevivência e pelo lucro. Combinando elementos de PvPvE, exploração e construção, Sand oferece uma experiência singular que se destaca no panorama dos jogos de sobrevivência. Este não é um shooter frenético onde tudo acontece a mil à hora. Em vez disso, Sand impõe um ritmo mais metódico, onde cada decisão conta. A bordo do teu Trampler, juntamente com a tua tripulação, vais explorar os desertos do planeta Sophie, em busca de loot valioso, enfrentando outras equipas e tentando sair vivo – e rico – do outro lado. A atmosfera, inspirada na era dos couraçados e do Velho Oeste, dá ao jogo um charme único que mistura o steampunk com o industrial decadente.
Jogabilidade
A jogabilidade de Sand gira em torno do Trampler, o teu colossal veículo com pernas, que funciona como base, meio de transporte e principal ferramenta de combate. O controlo destes monstros mecânicos é intencionalmente lento e pesado, dando a sensação de pilotar um verdadeiro navio terrestre. A movimentação requer coordenação entre os membros da equipa: enquanto o piloto manobra, o navegador traça rotas, e os restantes membros cuidam das armas, manutenção ou operações de assalto. As batalhas entre Tramplers são momentos intensos e demorados. Atingir um alvo enquanto o teu veículo cambaleia pelas dunas não é tarefa fácil, e acertar diretamente na sala das máquinas do inimigo pode ser a única forma eficaz de os destruir. Caso contrário, a opção mais arriscada é abordar o Trampler inimigo, eliminar a tripulação e capturar o controlo do navio. Cada combate exige reflexão: vale a pena o risco? O inimigo terá loot que justifique a investida? Afinal, podes passar quinze minutos a persegui-lo apenas para descobrires que ele está vazio. Sand não se limita ao combate. O loot e a construção são partes centrais da jogabilidade. A recolha de recursos na superfície do planeta é essencial para expandir e melhorar o teu Trampler. Há uma limitação clara naquilo que podes carregar contigo, obrigando-te a procurar contentores ou armazenar tudo no teu navio. As armas têm comportamentos distintos, com a necessidade de apontar antes de disparar, o que reforça o peso de cada escolha de armamento.

Mundo e história
O planeta Sophie é um lugar desolado, coberto por desertos intermináveis onde outrora existiram oceanos. Vestígios dessa antiga civilização estão por todo o lado: destroços de navios, ruínas de aldeias insulares e estruturas corroídas pelo tempo. Cada expedição é uma viagem ao desconhecido, onde a recompensa pode ser um novo armamento, peças para o Trampler ou apenas alguns mantimentos para aguentar mais uma ronda. Apesar de ainda não haver uma narrativa central muito desenvolvida, o contexto do mundo alternativo anterior à Primeira Guerra Mundial é suficiente para instigar a curiosidade. O estilo visual e o design dos objetos sugerem uma linha temporal alternativa onde o progresso tecnológico tomou um rumo muito distinto. Pistolas de tambor, rifles com coronhas de madeira, maquinaria repleta de rebites e vapor, tudo contribui para um mundo coerente e intrigante. É possível imaginar que, à medida que o desenvolvimento do jogo avance, mais histórias e elementos de lore venham a ser acrescentados. Por enquanto, o principal foco está mesmo na sobrevivência, na exploração e nos confrontos com outras tripulações – mas o potencial para um desenvolvimento narrativo mais rico está bem presente.
Grafismo
Visualmente, Sand aposta numa estética retro-industrial muito marcante. O mundo é dominado por tons de areia, ferrugem e metal, transmitindo bem a sensação de decadência e abandono. Os Tramplers são, sem dúvida, o ponto alto do design gráfico. Cada um pode ser personalizado até ao mais ínfimo detalhe, desde a localização das portas até às varandas de combate. Esta liberdade criativa permite criar veículos verdadeiramente únicos, que não só refletem a funcionalidade desejada como também o estilo da equipa que os construiu. As animações contribuem para a imersão, com os movimentos pesados dos Tramplers a darem uma sensação de peso e realismo. A física dos disparos e das colisões também reforça este sentimento, tornando cada batalha um espetáculo visual próprio. O ambiente do planeta Sophie é vasto e inóspito, com paisagens que conseguem ser ao mesmo tempo desertas e cheias de pequenos pormenores que contam histórias: uma torre semi-enterrada, os restos de um farol, as marcas deixadas por uma antiga civilização. Apesar de ainda se notar que o jogo está em desenvolvimento, com alguns detalhes gráficos que poderiam ser mais polidos, a direcção artística é clara e eficaz. Sand não procura realismo absoluto, mas sim coerência visual e estilo, e nisso é extremamente bem-sucedido.

Som
O ambiente sonoro de Sand reforça o sentimento de solidão e perigo constante. O som metálico dos passos dos Tramplers, o assobiar do vento nas dunas e os estalidos das armas antigas criam uma paisagem auditiva envolvente e tensa. Cada som contribui para o ambiente, desde os ruídos mecânicos dos motores aos gritos abafados durante um confronto dentro de um Trampler inimigo. A música, quando surge, é discreta e serve para reforçar momentos de tensão ou descoberta. Grande parte da experiência é vivida apenas com os sons do ambiente e da tripulação, o que aumenta o realismo e a imersão. A comunicação entre jogadores, presumivelmente feita por voz, acaba por ser o canal principal de som, reforçando o espírito de equipa e coordenação que o jogo exige. Embora a banda sonora ainda não seja um destaque por si só, há espaço para crescer. Dado o estilo do jogo, composições inspiradas em música de época com toques industriais poderiam funcionar muito bem, aprofundando ainda mais a atmosfera steampunk.
Conclusão
Sand é uma proposta refrescante no género dos jogos de sobrevivência e combate em mundo aberto. A sua abordagem mais lenta e estratégica, aliada a um setting único e a uma estética industrial muito bem conseguida, fazem deste título algo digno de atenção. Ao misturar elementos de exploração, construção, combate tático e personalização detalhada, Sand oferece uma experiência que recompensa a paciência, a cooperação e a criatividade. Não é um jogo para todos – quem procura ação rápida ou sistemas simplificados pode sentir-se frustrado com o seu ritmo deliberado e a complexidade dos sistemas. No entanto, para quem aprecia jogos como Rust ou Sea of Thieves, onde o planeamento e a cooperação são fundamentais, Sand apresenta-se como uma evolução natural e empolgante. Ainda há espaço para melhorias, especialmente ao nível da história e da diversidade de conteúdo, mas o esqueleto do jogo está bem montado. Com uma comunidade dedicada e atualizações regulares, Sand pode tornar-se numa referência dentro do género. Por agora, é uma promessa sólida com um pé no passado e outro num futuro alternativo de ferro, pólvora e aventura.