Análise: ANTRO

ANTRO é um jogo de plataformas 2.5D que mergulha o jogador num mundo subterrâneo pós-apocalíptico, onde a humanidade, reduzida a apenas 1% da sua população original, tenta sobreviver debaixo das ruínas da antiga Barcelona. Desenvolvido com uma paixão evidente pela música urbana e pela estética distópica, ANTRO mistura ação, puzzles, exploração e uma forte componente narrativa, tudo embalado ao ritmo de Hip Hop, Drill, R&B e música eletrónica. O jogo convida-nos a assumir o papel de Nittch, um estafeta solitário e cínico, que sem saber o que transporta, inicia uma missão que pode mudar o destino do seu mundo.

Jogabilidade

A jogabilidade de ANTRO assenta numa combinação interessante de exploração lateral com momentos de ação rítmica e segmentos de plataformas. O movimento é fluido e intuitivo, com mecânicas de parkour que permitem ao jogador escalar, saltar, deslizar e fugir a grande velocidade pelas diferentes áreas da cidade subterrânea. Um dos elementos mais criativos da jogabilidade está na forma como esta se sincroniza com a música. Há secções inteiras em que os obstáculos, os inimigos e o próprio ambiente reagem ao ritmo da batida sonora, obrigando o jogador a manter a cadência certa para ultrapassar os desafios. Além dos segmentos musicais, existem secções mais calmas focadas na resolução de puzzles ambientais, que oferecem um bom equilíbrio ao ritmo do jogo. Estas pausas ajudam a valorizar os momentos de tensão e permitem absorver melhor a atmosfera opressiva do mundo. Apesar de relativamente curto – entre uma a duas horas para terminar a campanha principal – o jogo mantém-se envolvente do início ao fim, com desafios bem distribuídos e uma curva de dificuldade equilibrada.

Mundo e história

O universo de ANTRO é um dos seus maiores trunfos. Situado sob as ruínas de Barcelona, este mundo subterrâneo é dividido por estratos sociais, onde os mais pobres vivem nos níveis mais profundos, sujeitos a trabalhos forçados, enquanto os mais ricos e poderosos controlam tudo a partir do topo, através de um regime totalitário chamado La Cúpula. Nesta sociedade distorcida, a arte e a música foram proibidas, e qualquer forma de expressão é censurada. É neste ambiente de opressão que surge uma resistência, conhecida como Los Discordantes, que pretende restaurar a liberdade e a dignidade do povo. A história acompanha Nittch, um protagonista solitário e descrente que apenas quer cumprir mais uma entrega. No entanto, ao aceitar uma missão com destino desconhecido, acaba por se envolver, contra a sua vontade, numa luta que abala as fundações do sistema. O arco narrativo é simples, mas eficaz. A transformação de Nittch de um indivíduo apático para um agente involuntário da mudança é bem construída e permite ao jogador identificar-se com a sua jornada, mesmo sem diálogos extensos.

Grafismo

Visualmente, ANTRO aposta num estilo sombrio e industrial que encaixa perfeitamente no tom da narrativa. A estética do jogo faz lembrar títulos como Inside ou Limbo, com ambientes escuros, iluminação limitada e cenários detalhados que transmitem uma sensação constante de decadência e vigilância. A verticalidade da cidade é bem representada, reforçando a ideia de hierarquia social, e os contrastes entre os diferentes níveis são visíveis tanto na arquitetura como na iluminação e atmosfera. Apesar da simplicidade gráfica, o jogo consegue criar momentos visuais memoráveis, principalmente quando combina os efeitos visuais com a música em cenas de perseguição ou ação rítmica. A escolha de uma perspetiva 2.5D permite manter o foco no design dos cenários sem sacrificar a clareza da jogabilidade, o que contribui para uma experiência visualmente coesa e eficaz.

Som

A banda sonora é, sem dúvida, o coração de ANTRO. Mais do que um simples pano de fundo, a música é parte integrante da jogabilidade e da narrativa. Os géneros musicais presentes – Hip Hop, Drill, R&B e eletrónica – não só definem o tom do jogo, como também influenciam diretamente a forma como este se joga. A sincronização entre música e ação é notável, especialmente nas secções em que os saltos, obstáculos e inimigos seguem o ritmo da batida, criando uma simbiose perfeita entre som e movimento. Mesmo para quem não entende as letras, o impacto emocional da música é claro. As faixas acompanham a tensão narrativa, acentuam o perigo durante perseguições e ajudam a estabelecer uma identidade única para cada nível. A ausência de liberdade musical dentro da narrativa faz com que cada batida, cada verso, represente também um ato de resistência. A música é mais do que estilo; é uma arma.

Conclusão

ANTRO é um jogo curto, mas poderoso. A sua combinação de jogabilidade rítmica, narrativa distópica e um estilo visual e sonoro coeso fazem dele uma experiência memorável dentro do género de plataformas 2.5D. Embora não apresente grande inovação nas mecânicas de base, a forma como utiliza a música como componente central do design é original e bem executada. É um título que deixa marca não tanto pela sua duração, mas pela intensidade da sua proposta e pela maneira como aborda temas como repressão, desigualdade social e resistência através da arte. Para os fãs de jogos como Inside ou GRIS, mas com um toque urbano e político mais vincado, ANTRO é uma escolha certeira. Pode ser terminado numa tarde, mas as suas ideias e o seu ambiente permanecem na memória por muito mais tempo.

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