Análise: Dawn of Ages

Dawn of Ages é um título recente no mundo dos jogos de estratégia que chega ao mercado com uma proposta que se distingue da maioria dos seus concorrentes. Lançado oficialmente a 28 de abril de 2025 pela Stratosphere Games em parceria com a BoomBit, o jogo está disponível tanto na Steam como na Epic Games Store e inclui também versões para dispositivos móveis. O que imediatamente diferencia Dawn of Ages é o seu compromisso com o realismo histórico, afastando-se da tendência dominante de incorporar elementos de fantasia como dragões, feitiçaria ou criaturas míticas. Em vez disso, aposta numa abordagem centrada na veracidade histórica, oferecendo aos jogadores a oportunidade de comandar civilizações medievais reais e utilizar armamento e táticas baseadas em factos documentados. O jogo apresenta-se com um modelo free-to-play e suporte completo para jogo cruzado entre plataformas, o que o torna acessível a um vasto leque de jogadores.

Num panorama repleto de clones e fórmulas repetitivas, Dawn of Ages pretende ser uma lufada de ar fresco para os fãs da estratégia, propondo uma experiência que combina batalhas em larga escala, construção de cidades e uma profunda gestão de recursos e tropas. Apesar de algumas limitações técnicas, sobretudo na versão PC, o jogo demonstra ambição e um foco claro em oferecer uma experiência envolvente e desafiante. A sua estrutura assenta num ciclo de progressão por capítulos, o que permite ao jogador avançar por diferentes períodos históricos e desbloquear conteúdo de forma faseada, sem nunca sentir que está a ser forçado a gastar dinheiro para progredir.

Jogabilidade

A jogabilidade de Dawn of Ages é construída em torno de três pilares fundamentais: combate estratégico, construção de cidade e personalização de tropas. As batalhas são um dos elementos centrais do jogo e apresentam-se com uma escala impressionante, colocando dezenas de unidades em campo em confrontos onde a táctica supera o número. A disposição das tropas, o tipo de armamento utilizado e a compreensão da Matriz de Dano são elementos determinantes para alcançar a vitória. Esta matriz divide os tipos de dano em três categorias principais: cortante, perfurante e contundente. Saber qual o tipo mais eficaz contra cada inimigo é essencial e torna cada batalha num pequeno quebra-cabeças táctico. As lutas decorrem num sistema inspirado em auto-chess, onde o jogador organiza a sua formação antes do início da batalha e depois observa o desenrolar do combate, podendo ativar habilidades especiais dos comandantes e utilizar cartas chamadas Tacticards para alterar o rumo da luta. Estas cartas introduzem um nível adicional de profundidade estratégica, oferecendo efeitos ofensivos, defensivos ou utilitários que exigem escolha e timing cuidados.

Para além do combate, existe uma componente robusta de construção e gestão de cidade. Começando com uma simples aldeia, o jogador é convidado a desenvolver o seu império, construindo edifícios como o mercado, a forja, a câmara municipal e os quartéis. Cada construção pode ser evoluída, aumentando a produção de recursos ou desbloqueando novas funcionalidades. A gestão eficiente destes edifícios e dos trabalhadores que neles operam é tão importante como a preparação para o combate.

Outro destaque vai para a personalização das tropas. O jogo oferece mais de uma centena de armas, escudos e peças de armadura, todas com características distintas. Estas podem ser melhoradas na forja, permitindo a criação de builds especializadas. É possível, por exemplo, focar uma equipa em escudos pesados para maior defesa ou apostar em armas de duas mãos para maximizar o dano.

Mundo e história

Embora Dawn of Ages não tenha uma narrativa tradicional com personagens e enredo linear, o seu contexto histórico funciona como pano de fundo envolvente para toda a experiência. O jogo inicia-se com quatro civilizações disponíveis: Teutões, Francos, Anglo-Saxões e Vikings. Cada uma tem comandantes únicos e estilos de combate diferentes, o que incentiva o jogador a experimentar múltiplas abordagens. Com o progresso, é possível desbloquear outras culturas, como os Espanhóis ou o Império Mongol, através de eventos especiais ou conquistas dentro do jogo. O avanço no tempo é feito através de um sistema de capítulos, onde cada capítulo representa uma era distinta da história medieval. Esta estrutura narrativa subtil, embora não conte uma história no sentido clássico, oferece uma progressão temática coerente e motivadora. As recompensas obtidas ao concluir as fases de cada capítulo incentivam o jogador a continuar a expandir o seu império e a experimentar novas unidades e estratégias. A ausência de elementos fantasiosos reforça a sensação de estar a participar num conflito histórico real. Ao contrário de muitos jogos de estratégia onde a suspensão da descrença é necessária para aceitar feitiços ou bestas voadoras, Dawn of Ages mantém os pés bem assentes na terra, proporcionando uma experiência mais crua, mas também mais credível e intelectualmente estimulante.

Grafismo

No que diz respeito ao grafismo, Dawn of Ages apresenta um trabalho funcional mas que não impressiona, especialmente na versão para PC. Os modelos das unidades são simples e o detalhe nos cenários é reduzido, o que acaba por tirar alguma força às batalhas mais caóticas. A clareza visual é suficiente para manter o jogador informado sobre o que se passa em campo, mas falta-lhe o nível de polimento que se esperaria num jogo para computador lançado em 2025. É compreensível que parte destas limitações visuais se devam à necessidade de garantir compatibilidade com dispositivos móveis, onde o jogo de facto se destaca mais. A adaptação ao PC, contudo, podia ter sido acompanhada de melhorias visuais e uma maior atenção aos pormenores. A falta de diferenciação visual entre os vários esquadrões e comandantes também contribui para que algumas batalhas percam impacto, tornando-se por vezes difíceis de distinguir umas das outras. No geral, o grafismo cumpre a sua função, mas não eleva a experiência nem cria momentos memoráveis a nível visual. Para um jogo que pretende oferecer imersão histórica, uma direcção artística mais ambiciosa teria sido bem-vinda.

Som

O trabalho sonoro em Dawn of Ages acompanha o estilo do jogo, com uma banda sonora que opta por um tom mais sóbrio e tradicional. Os temas musicais reforçam a atmosfera medieval sem serem demasiado dramáticos ou intrusivos, funcionando como pano de fundo eficaz durante as secções de gestão e combate. Os efeitos sonoros são competentes, com sons distintos para cada tipo de arma e impacto, o que ajuda a perceber o que está a acontecer no campo de batalha. Não existem vozes nem diálogos, o que é compreensível dada a natureza do jogo, mas talvez uma maior variedade de sons de ambiente e reacções das tropas pudesse ter tornado a experiência sonora mais envolvente. Não é um jogo que se destaque particularmente nesta componente, mas também não compromete. O som cumpre o seu papel e mantém-se em sintonia com o resto da experiência.

Conclusão

Dawn of Ages é uma proposta refrescante dentro do género de estratégia, apostando numa abordagem realista e historicamente fundamentada que o distingue da concorrência. O seu sistema de combate, a gestão de cidade e as possibilidades de personalização oferecem profundidade suficiente para manter o interesse ao longo de muitas horas de jogo. A compatibilidade entre plataformas e o modelo gratuito são factores que jogam a seu favor, tornando-o acessível e apelativo para um público variado. Contudo, a versão para PC deixa algo a desejar em termos visuais, e a falta de maior diversidade estética nas unidades e comandantes pode afetar a longevidade da experiência. Apesar disso, a dedicação à autenticidade histórica e a ausência de artifícios fantasiosos conferem-lhe uma identidade própria e um charme discreto, capaz de agradar a jogadores que procuram um desafio estratégico mais sóbrio e realista.

Para quem aprecia estratégia baseada em táticas reais, sem artifícios mágicos ou exageros épicos, Dawn of Ages é uma escolha sólida. Com espaço para crescer e melhorar, sobretudo na componente visual, o jogo demonstra potencial e ambição suficientes para justificar a atenção dos fãs do género.

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