O panorama indie de jogos de terror tem sido fértil em experiências curtas, mas marcantes, e Hell Dive é mais um exemplo dessa tendência. Desenvolvido claramente com inspiração em Iron Lung, este título mergulha-nos num ambiente opressivo, claustrofóbico e profundamente atmosférico, onde a exploração subaquática se cruza com o horror sobrenatural. Apesar de algumas limitações evidentes e uma execução algo crua, Hell Dive consegue criar uma experiência imersiva e inquietante em apenas cerca de uma hora de jogo. A simplicidade mecânica e a sua curta duração jogam a favor do ritmo, mas não são suficientes para esconder algumas das suas fragilidades mais notórias.
Jogabilidade
Hell Dive começa por nos dar a sensação de que vamos passar o jogo a pilotar um pequeno submarino por túneis apertados, como em Iron Lung, mas rapidamente percebemos que essa é apenas uma fração da experiência. O verdadeiro foco do jogo está na exploração das estações submarinas abandonadas que vamos encontrando ao longo da missão. Cada estação transforma-se num pequeno labirinto onde o jogador tem de encontrar e reativar sistemas, gerir recursos e evitar ou sobreviver a ameaças misteriosas.
A jogabilidade baseia-se em mecânicas muito simples. Movemo-nos por corredores, recolhemos recursos, gerimos o uso da lanterna e do combustível, e vamos cumprindo objetivos bastante diretos. No entanto, o jogo consegue criar tensão através da incerteza constante do que se esconde à nossa volta. Apesar de haver uma sugestão inicial de que a gestão de recursos será crítica, rapidamente percebemos que é improvável ficar sem o necessário, desde que exploremos com alguma atenção e coragem. Este equilíbrio retira parte da pressão que poderia dar mais profundidade ao jogo, mas mantém o ritmo fluído e acessível.

Mundo e história
O enredo de Hell Dive é funcional, mas claramente subdesenvolvido. Assumimos o papel de Daniel, um operador solitário que recebe como missão reativar a COLÓNIA 1265, uma instalação de mineração e investigação submersa. Acompanhado pela IA chamada VIRGIL, Daniel vai navegando entre várias estruturas espalhadas pelo fundo do oceano, tentando restabelecer os sistemas e descobrir o que aconteceu naquele local abandonado. A premissa, apesar de interessante, acaba por não ser devidamente explorada. A ligação entre o protagonista e a missão é pouco desenvolvida, e o final chega de forma demasiado abrupta, sem que se sintam verdadeiras consequências ou revelações significativas. A sensação de mistério está presente ao longo de toda a jornada, mas falta-lhe um desfecho mais satisfatório ou pelo menos mais coerente com o crescendo de tensão que o jogo vai construindo. Ainda assim, o mundo subaquático apresentado é eficaz em transmitir isolamento e desconforto. Cada estação tem o seu próprio tema visual e propósito narrativo, passando por locais como um matadouro, uma mina, um hospital, uma creche e até um hotel inspirado no de The Shining. Estas variações tornam a progressão interessante e imprevisível, mesmo que o fio condutor da narrativa se mantenha ténue.
Grafismo
Visualmente, Hell Dive não impressiona. Os gráficos são simples, com texturas rudimentares e iluminação básica. O ambiente é funcional, mas sente-se que o jogo poderia beneficiar de uma camada adicional de polimento visual. As áreas por onde nos movemos são escuras, com um design algo genérico, e a baixa visibilidade pode gerar frustração, especialmente porque as definições de brilho por defeito dificultam bastante ver o que está à frente do jogador. Apesar destas limitações, há mérito na forma como a atmosfera é construída. O design minimalista das instalações e a escolha de espaços desconcertantes contribuem para um ambiente opressivo. Não é um jogo bonito, mas sabe usar o pouco que tem para criar desconforto. A inspiração em espaços estranhamente familiares, como os que se encontram em jogos inspirados em The Backrooms, está bem presente e ajuda a reforçar a sensação de que algo está sempre fora do lugar.

Som
O som é uma das maiores forças de Hell Dive. Sem recorrer a uma banda sonora memorável ou a efeitos sonoros complexos, o jogo consegue manter uma tensão constante graças ao design sonoro eficaz. O silêncio predomina, intercalado por ruídos estranhos, ecos distantes e sons mecânicos que se tornam desconfortáveis pelo seu carácter imprevisível. Os sustos não são abundantes, mas estão bem colocados e tiram partido da ausência de música para criar momentos de choque genuínos. A primeira vez que somos perseguidos, o susto é real e inesperado, sobretudo porque o jogo não o anuncia com grandes artifícios visuais ou sonoros. É precisamente essa contenção que torna o terror mais eficaz. A voz da IA VIRGIL, embora limitada em presença, ajuda a reforçar a solidão do protagonista e acrescenta alguma variedade ao ambiente sonoro.
Conclusão
Hell Dive é uma experiência curta, direta e com um ambiente bem conseguido, que vai agradar sobretudo a quem gosta de jogos de terror experimentais e atmosféricos. Não é uma produção polida, nem particularmente inovadora, mas mostra criatividade na forma como reutiliza elementos familiares para criar algo novo. A inspiração em títulos como Iron Lung é evidente, mas o jogo esforça-se por construir a sua própria identidade com ambientes distintos, tensão constante e uma estrutura simples, mas eficaz. Os problemas mais evidentes estão na narrativa mal desenvolvida, nos gráficos pouco trabalhados e num final que sabe a pouco. No entanto, estes defeitos não impedem que o jogo seja uma proposta interessante para uma noite de terror curta e intensa. Quem procura uma experiência rápida, com sustos eficazes e um ambiente desconcertante, encontrará em Hell Dive um título que, apesar das suas falhas, cumpre.