Numa época em que a política norte-americana é simultaneamente omnipresente e exaustiva, não deixa de ser curioso o aparecimento de um jogo como I Am Your President. O título, já disponível no Steam há algum tempo, chega agora à PS5 com a promessa de simular os desafios e a complexidade de liderar os Estados Unidos da América. No entanto, aquilo que podia ser uma sátira mordaz ou uma simulação envolvente revela-se um exercício moroso, limitado e por vezes frustrante. O jogo tenta posicionar-se algures entre a sátira política e a gestão estratégica, mas perde-se entre mecânicas simplificadas, humor pouco eficaz e decisões que raramente têm impacto real. A premissa tinha potencial: colocar o jogador na pele do presidente e obrigá-lo a navegar o caos político moderno, mas a execução raramente corresponde à ambição.
Jogabilidade
A jogabilidade de I Am Your President assenta numa estrutura diária em que, sentado no famoso gabinete oval, o jogador recebe visitas, toma decisões e tenta equilibrar várias métricas que representam a sua popularidade, influência militar, saúde pública e outros pilares da governação. A ideia é simples: sobreviver politicamente sem que nenhuma destas barras chegue a zero. Apesar de existirem testes iniciais que definem a orientação política do jogador e as suas prioridades, o jogo rapidamente mostra que as decisões são na sua maioria binárias, muitas vezes apresentando duas opções igualmente negativas. O que devia ser um sistema de escolhas morais e políticas transforma-se numa rotina repetitiva de minimizar danos em vez de realmente governar.
As opções de ação incluem aprovar ou vetar legislação, reorganizar o gabinete, interagir com a imprensa e responder a eventos globais. No entanto, tudo isto é feito com uma superficialidade gritante. Reorganizar o gabinete, por exemplo, não exige qualquer consideração pelas competências das figuras políticas, apenas pelos bónus passivos que oferecem. Há também uma tentativa de simular o quotidiano presidencial com discursos, conferências de imprensa e publicações numa rede social fictícia, o Squawker. Infelizmente, estas atividades são curtas, pouco interativas e não oferecem profundidade ou recompensa suficiente para manter o interesse. O jogador passa mais tempo a ler blocos de texto do que a tomar decisões significativas.

Mundo e história
O mundo de I Am Your President tenta refletir a realidade política atual dos Estados Unidos, com referências a teorias da conspiração, crises internacionais, escândalos mediáticos e problemas domésticos. Desde acusações de que o presidente é um alienígena até decisões sobre monitorizar redes sociais para aumentar a influência militar, o jogo mistura elementos sérios com absurdos. Infelizmente, essa mistura raramente resulta. Ao contrário de séries como Tropico, que conseguem equilibrar sátira e gestão com humor eficaz, I Am Your President não acerta no tom. O jogo parece indeciso entre ser uma crítica à máquina política americana ou um simulador realista. No fim, não consegue ser convincente em nenhum dos papéis. A história baseia-se numa figura fictícia, um homem branco que em criança fazia piadas sobre presidentes e que agora se vê no cargo mais poderoso do mundo. Logo nos primeiros dias, o jogador depara-se com um casamento em ruínas e uma série de dilemas sem solução, o que não ajuda a criar empatia com a personagem ou motivação para continuar.
Apesar de existirem objetivos como lançar uma missão tripulada a Marte ou melhorar o sistema de saúde, o caminho até esses pontos é tão opaco e aleatório que o progresso nunca parece recompensador. O jogo falha em criar uma narrativa coesa ou uma sensação de evolução. Cada dia parece igual ao anterior, e o impacto das decisões é frequentemente irrelevante.
Grafismo
Graficamente, I Am Your President está muito aquém do esperado, especialmente numa consola como a PS5, mesmo considerando máquinas da geração anterior. O ambiente do gabinete oval é funcional, mas genérico e sem carisma. Pior ainda são os modelos das personagens que entram no escritório: recortes mal renderizados de fotografias reais aplicados em silhuetas de madeira que destoam completamente do cenário. Este estilo visual parece tentar fazer uma declaração sobre a desumanização da política ou a superficialidade dos intervenientes no governo, mas a execução é tão pobre que a mensagem perde-se. Em vez de provocador ou artístico, o resultado final é simplesmente desconfortável e inestético. Além disso, a interface é pouco inspirada, com menus que parecem retirados de aplicações de produtividade antigas. Não há qualquer sensação de dinamismo ou de evolução visual ao longo do jogo. É tudo estático, repetitivo e com uma aparência de projeto inacabado.

Som
O som de I Am Your President é, surpreendentemente, o aspeto mais aceitável do jogo. A banda sonora aposta num estilo orquestral, com temas que tentam acompanhar o tom dos eventos do dia. Ainda assim, as faixas são curtas e rapidamente começam a repetir, tornando-se monótonas após algumas horas de jogo. Não há vozes, o que reduz o impacto das interações com conselheiros, jornalistas ou outras figuras. Tudo é transmitido por texto, o que acentua ainda mais a sensação de que estamos perante um jogo passivo e pouco envolvente. Apesar de não ser desagradável, o som também não contribui de forma significativa para a imersão ou para a construção do ambiente. É funcional, mas pouco memorável. Fica a sensação de que com um pouco mais de atenção ao detalhe, poderia ter elevado a experiência.
Conclusão
I Am Your President é um jogo que, apesar de partir de uma premissa interessante e relevante, falha redondamente na sua execução. Em vez de oferecer uma experiência desafiante, envolvente ou até divertida, o jogo transforma a liderança do mundo livre num exercício burocrático, repetitivo e desinspirado. A falta de profundidade nas escolhas, o humor mal calibrado, os visuais pobres e a ausência de narrativa coerente contribuem para uma experiência frustrante. Mesmo os momentos que podiam ser interessantes, como a gestão de crises ou a formulação de políticas, são reduzidos a decisões binárias sem verdadeiro impacto. Para quem procura uma sátira política inteligente ou um simulador estratégico exigente, I Am Your President não oferece nem uma coisa nem outra. E para os jogadores fora dos Estados Unidos, o jogo perde ainda mais apelo, sendo difícil imaginar qualquer razão convincente para recomendá-lo.