Análise: Kid Mystic: Enchanted Edition

Kid Mystic: Enchanted Edition é um daqueles jogos que à primeira vista pode passar despercebido. Com uma apresentação simples e um estilo visual que remete imediatamente para finais dos anos 90, é fácil ignorá-lo entre os muitos lançamentos diários que enchem as plataformas digitais. No entanto, por trás desta aparência retro encontra-se um RPG com personalidade própria, sentido de humor e uma dose surpreendente de desafio. A versão Enchanted Edition é uma reedição melhorada do original de 1999, com várias melhorias de qualidade de vida que tornam a experiência mais acessível aos padrões actuais. Produzido pela Hamumu Games, o jogo encontra-se disponível no Steam por um preço acessível, e oferece uma aventura invulgar, nostálgica e, por vezes, frustrante, mas que consegue prender os jogadores pela sua simplicidade e charme.

Jogabilidade

A jogabilidade de Kid Mystic: Enchanted Edition é bastante directa. Trata-se de um RPG com vista aérea, onde controlamos o jovem Kid Mystic enquanto percorre diferentes níveis recheados de inimigos, puzzles e itens coleccionáveis. À medida que avançamos, vamos desbloqueando feitiços, melhorando habilidades e adquirindo runas que reforçam a capacidade de sobrevivência e eficácia do protagonista. A acção é rápida, e o combate ganha uma nova dimensão assim que melhoramos o feitiço de bola de fogo, tornando-se quase terapêutico eliminar múltiplos inimigos de uma só vez.

No entanto, o jogo não facilita. A morte significa perder o progresso dentro do nível, o que pode ser bastante frustrante, sobretudo em áreas mais extensas onde a dificuldade se faz sentir de forma repentina. Os inimigos podem, por vezes, eliminar grande parte da nossa vida em segundos, o que nos obriga a manter uma postura cautelosa e estratégica. Os puzzles presentes em cada nível variam entre o trivial e o engenhoso, havendo alguns momentos em que nos sentimos genuinamente desafiados, como foi o caso de um puzzle com placas de pressão no quarto capítulo que poderá fazer qualquer jogador coçar a cabeça durante vários minutos.

Mundo e história

A narrativa de Kid Mystic não é o ponto central da experiência, mas ainda assim apresenta uma premissa suficientemente curiosa para sustentar a progressão. Controlamos um rapaz que nunca prestou atenção nas aulas de magia, excepto quando se falava de bolas de fogo, e que agora se vê encarregado de salvar o mundo de Tulipton do terrível Bobby Khan. É uma história leve, com bastante humor e diálogos que não se levam demasiado a sério, o que combina bem com o espírito descontraído do jogo.

Os NPCs espalhados pelo mundo são bastante básicos, na sua maioria com pouco a acrescentar para além de pequenas informações ou chaves para avançar no jogo. Apesar disso, há um certo charme em interagir com estas figuras algo caricatas, que ajudam a criar uma atmosfera descontraída e até absurda em certos momentos. O universo do jogo, embora não muito elaborado, é coeso dentro da sua lógica simples e serve bem a função de pano de fundo para a acção.

Grafismo

Graficamente, Kid Mystic: Enchanted Edition é uma viagem ao passado. Os visuais remetem para a era dos jogos independentes dos anos 90, com sprites simples e animações rudimentares. No início, este estilo pode parecer demasiado básico ou mesmo datado, mas com o tempo acaba por revelar um certo charme. Curiosamente, o estilo artístico recorda jogos como Baldi’s Basics, com modelos que parecem feitos com ferramentas rudimentares e uma certa sensação de improviso visual que acaba por funcionar em favor da identidade do jogo.

Os inimigos apresentam uma progressão interessante: começamos com criaturas comuns como cogumelos e aranhas, mas rapidamente o jogo introduz monstros mais bizarros, como olhos voadores e outras aberrações, o que contribui para manter a curiosidade e o entusiasmo do jogador. Os ambientes, apesar de simples, são funcionais e suficientemente variados para evitar monotonia, embora o design de níveis maiores possa ser confuso e até causar alguma desorientação devido ao movimento da câmara.

Som

O som em Kid Mystic: Enchanted Edition cumpre a sua função sem grandes destaques. A banda sonora acompanha bem o estilo retro do jogo, com faixas que complementam os ambientes sem se tornarem intrusivas. Não há temas particularmente memoráveis, mas a música ajuda a manter o ritmo e a atmosfera de cada nível. Os efeitos sonoros são simples e eficazes. Os feitiços, ataques e interacções com o ambiente estão acompanhados por sons básicos, mas suficientemente claros para transmitir o impacto da acção. Em alguns momentos, a ausência de variedade sonora pode tornar-se um pouco repetitiva, mas tendo em conta o tipo de jogo e a sua origem, é compreensível. Não existe qualquer tipo de voice acting, o que se enquadra na estética retro e minimalista do jogo.

Conclusão

Kid Mystic: Enchanted Edition é um jogo peculiar, que mistura simplicidade com desafio de forma bastante competente. Apesar do seu visual datado e algumas limitações técnicas, consegue oferecer uma experiência divertida e envolvente, especialmente para os fãs de RPGs clássicos e jogos com um toque nostálgico. A curva de dificuldade algo irregular, a movimentação da câmara e a dificuldade em encontrar níveis são os principais pontos negativos, mas que não chegam a comprometer a experiência global. O combate, a progressão de habilidades e a resolução de puzzles formam o núcleo da jogabilidade, e conseguem manter o interesse do jogador durante as várias horas necessárias para completar o jogo. A apresentação artística, embora básica, ganha personalidade própria com o tempo, e o humor subtil da narrativa ajuda a tornar o mundo de Tulipton mais agradável de explorar.

Para quem procura uma aventura leve mas desafiante, e não se importa com gráficos simples ou algumas frustrações ocasionais, Kid Mystic: Enchanted Edition é uma boa aposta. É um daqueles jogos que nos surpreendem quando menos esperamos e que, apesar das suas falhas, nos fazem voltar, nível após nível, pela pura diversão de jogar.

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