Shotgun Cop Man é o mais recente título do estúdio sueco DeadToast Entertainment, responsável por My Friend Pedro. Apesar de manter o ADN de acção estilizada e ritmo acelerado, Shotgun Cop Man aposta numa abordagem mais focada e essencial, deixando de lado a narrativa elaborada para se concentrar quase exclusivamente na jogabilidade pura. Esta aposta resulta numa experiência coesa, viciante e surpreendentemente refinada. Com uma jogabilidade que mistura combate e mobilidade num só sistema, Shotgun Cop Man é uma carta de amor aos jogos de plataformas difíceis e cheios de personalidade, ao estilo de Super Meat Boy e Celeste, mas com identidade própria e um humor muito próprio.
Jogabilidade
O grande trunfo de Shotgun Cop Man está no seu sistema de controlo, que transforma o recuo das armas numa ferramenta central. Com uma configuração de dois analógicos, o jogador controla os movimentos do protagonista com a ajuda do disparo da caçadeira, que o impulsiona na direção oposta ao tiro. Esta mecânica é tanto uma arma de destruição como uma forma de locomoção aérea. A caçadeira é poderosa mas limitada a três disparos antes de precisar de recarregar, o que obriga o jogador a eliminar inimigos para reabastecer a munição em pleno voo. Este ciclo de tiro, movimento e recarga cria uma dança frenética que exige atenção constante e precisão cirúrgica.
Além da caçadeira, existe uma arma secundária que pode ser trocada ao longo dos níveis. Pistolas, Uzis, lança-chamas e até miniguns surgem como opções viáveis, oferecendo cadências de tiro diferentes e recuo mais controlado. Estas armas são ideais para manter o protagonista no ar durante mais tempo ou para eliminar inimigos mais numerosos. Cada nível transforma-se assim num puzzle de movimentação e destruição, onde a improvisação e o domínio das mecânicas são recompensados. O jogo introduz também objetivos opcionais que acrescentam uma camada de desafio para os mais dedicados: completar níveis dentro de um tempo limite, eliminar todos os inimigos e sair ileso. Conquistar os três objetivos em simultâneo obriga a uma execução perfeita, oferecendo motivos de sobra para repetir os níveis até à exaustão. Os combates contra bosses acrescentam variedade e servem como testes à capacidade de adaptação do jogador, com inimigos que mudam de forma, invocam aliados e se deslocam rapidamente.

Mundo e história
Shotgun Cop Man não perde tempo com uma narrativa complexa. A premissa é simples: cinco anos após o seu treino, o protagonista é enviado ao Inferno com a missão de prender Satanás. Esta missão é praticamente toda a história do jogo, sendo desenvolvida apenas através de curtas cutscenes entre mundos onde Shotgun Cop Man exige a rendição do Diabo, que responde sempre com um gesto obsceno antes de fugir. Este tom irreverente e caricatural está presente em toda a experiência. O humor absurdo é uma constante, desde o próprio conceito de um polícia voador armado com uma caçadeira, até à forma como reage à morte com uma expressão resignada de I DIE enquanto a câmara foca a sua cara desiludida. O coração que salta do corpo quando se é atingido e pode ser recuperado para evitar a morte é outro exemplo de como o jogo combina humor e mecânica de forma elegante. Apesar de simples, este universo funciona bem dentro da lógica do jogo. O Inferno serve de pano de fundo para os níveis, mas não existe qualquer pretensão narrativa ou construção de mundo aprofundada. Aqui, a acção fala mais alto e tudo o resto é acessório.
Grafismo
Visualmente, Shotgun Cop Man segue uma linha estética próxima de títulos como Super Meat Boy. As personagens são pequenas, com traços simples e animações exageradas, mas muito expressivas. A escolha de uma perspetiva ampla permite ver uma grande parte do cenário, o que ajuda imenso na leitura das ameaças e planeamento dos movimentos. Os ambientes, por outro lado, são algo repetitivos. O jogo recorre a um tema industrial constante, com plataformas metálicas, serras circulares e maquinaria pesada, o que acaba por retirar alguma variedade visual ao longo dos muitos níveis. Apesar disso, a clareza visual nunca é posta em causa, com elementos bem definidos e contrastes adequados para não confundir o jogador. A apresentação geral é sólida, polida e funcional. Shotgun Cop Man não pretende deslumbrar com visuais elaborados, mas sim garantir que tudo o que está no ecrã serve o propósito de reforçar a jogabilidade.

Som
A componente sonora do jogo é particularmente eficaz a transmitir o ritmo frenético da acção. A banda sonora assenta em batidas electrónicas fortes, quase sempre com um ritmo intenso que se adapta bem à natureza acelerada dos níveis. Esta música, que não destoaria numa pista de dança, mantém o jogador em estado de alerta constante e reforça a sensação de urgência. Os efeitos sonoros são igualmente satisfatórios, com disparos potentes, explosões impactantes e salpicos de sangue bem audíveis. Há também pequenos detalhes que enriquecem a experiência, como o som abafado quando o protagonista perde o coração, criando uma sensação de estar submerso e reforçando visual e auditivamente o estado de perigo. Tudo isto contribui para uma experiência auditiva coerente com a identidade visual e mecânica do jogo, sem sobrecarregar nem distrair.
Conclusão
Shotgun Cop Man é um excelente exemplo de como simplicidade bem executada pode resultar numa experiência memorável. O foco na mecânica de movimentação baseada no recuo da caçadeira é inovador e bem explorado, oferecendo algo fresco num género saturado. A combinação entre combate e mobilidade cria um ritmo alucinante que, apesar de exigente, raramente frustra, graças a um sistema de checkpoints generoso e controlos responsivos. A ausência de uma história desenvolvida não prejudica o jogo, que aposta tudo na jogabilidade e vence com mérito. A longevidade é garantida não só pela quantidade de níveis e bosses, mas também pelos objetivos opcionais que incentivam a perfeição. Apesar de algum cansaço visual nos cenários, Shotgun Cop Man mantém-se sempre interessante e desafiante.
Divertido, caótico, bem humorado e extremamente satisfatório, este é um jogo que facilmente se poderá tornar num clássico de culto para os fãs de plataformas difíceis e experiências com identidade. DeadToast Entertainment mostra aqui uma maturidade surpreendente e deixa a promessa de um futuro brilhante, especialmente se continuar a explorar ideias ousadas com este nível de polimento.