Spirit of the North 2 é a sequela de um título que ficou marcado pelo seu tom contemplativo, pela ausência de diálogo e pela beleza natural dos seus cenários. Este novo capítulo continua a explorar a ligação entre a raposa e o mundo espiritual, aprofundando a mitologia e oferecendo uma experiência mais ambiciosa em termos de escala e mecânicas. A serenidade que definiu o primeiro jogo continua presente, mas agora acompanhada de um conjunto mais variado de interações, desafios e momentos de pura beleza visual. A estrutura do jogo mantém-se fiel ao original, com a exploração a ser o elemento central, mas nota-se um esforço claro por parte dos desenvolvedores em evitar que a fórmula se torne repetitiva. Spirit of the North 2 tenta equilibrar o seu espírito contemplativo com uma abordagem ligeiramente mais orientada para a progressão, oferecendo áreas maiores, puzzles mais complexos e habilidades novas que tornam a jornada da raposa mais envolvente. Ainda assim, a experiência continua a ser relaxante e introspectiva, ideal para quem procura algo mais atmosférico do que competitivo.
Jogabilidade
A principal novidade de Spirit of the North 2 em relação ao seu antecessor está na forma como evolui a jogabilidade sem perder a simplicidade. Continuamos a controlar a mesma raposa vermelha, agora mais ligada ao mundo espiritual, e o objetivo volta a ser o de restaurar um mundo corrompido, mas desta vez com uma estrutura mais aberta e um leque de interações mais robusto.
As habilidades espirituais ganharam novas camadas. Podemos agora usar diferentes tipos de energia para interagir com o ambiente, ativar mecanismos, manipular elementos como o vento ou a água, e até mesmo criar pequenos campos de purificação temporários. Estas novas ferramentas servem para resolver puzzles mais criativos, mas também para tornar a travessia do mundo mais interessante. O jogo introduz também segmentos mais elaborados de plataformas. Há agora secções verticais com saltos precisos, momentos em que temos de usar o impulso de correntes de ar ou saltar entre plataformas instáveis. Embora o controlo da raposa continue a não ser o mais refinado, existe uma melhoria clara na forma como o movimento responde. Ainda assim, persistem alguns momentos frustrantes, especialmente em zonas mais apertadas ou em plataformas irregulares.
Outra novidade são pequenas secções onde controlamos brevemente o espírito da raposa de forma autónoma, permitindo atravessar paredes ou alcançar locais que a forma física não consegue. Estes momentos quebram bem o ritmo e trazem alguma variedade sem comprometer a identidade tranquila do jogo.

Mundo e história
Tal como no primeiro jogo, não existem diálogos, textos ou qualquer tipo de narração explícita. Toda a história de Spirit of the North 2 é contada através da observação. Restos de civilizações antigas, símbolos gravados em pedra, esboços em paredes ou a simples disposição do ambiente sugerem acontecimentos de um passado trágico. A ausência de vida humana continua a ser um elemento fundamental do ambiente, reforçado por ruínas, esqueletos e artefactos deixados para trás. A grande diferença nesta sequela está na escala. O mundo de Spirit of the North 2 é mais vasto e mais variado, com zonas bem distintas umas das outras. Há uma sensação de viagem mais acentuada, com passagens por montanhas cobertas de neve, desertos espirituais, florestas densas e áreas submersas. Cada nova região traz também novos mistérios, e embora a história continue a ser aberta à interpretação, existe uma linha temática mais clara que une os locais visitados. Percebe-se que a ligação entre a raposa e o espírito do Norte é mais profunda nesta nova aventura, sugerindo um passado partilhado ou um destino comum. A sensação de purificação e cura que permeava o primeiro jogo mantém-se, mas agora está mais ligada a uma narrativa de renascimento, como se estivéssemos não apenas a curar a terra, mas a reconstruir um equilíbrio antigo perdido.
Grafismo
Visualmente, Spirit of the North 2 é impressionante. A direção artística segue a linha do primeiro jogo, com ambientes que parecem pinturas em movimento. A utilização da cor é magistral, com cada área a ter uma paleta própria que define o seu tom emocional. O céu escarlate, as flores azuis, os brilhos espirituais e os ambientes naturais densos convivem numa harmonia visual que nos prende do início ao fim.
A iluminação é outro dos pontos fortes. Há um cuidado especial na forma como a luz interage com os elementos do mundo, especialmente em zonas onde o espiritual e o natural se misturam. Raios de sol filtrados por árvores, reflexos em superfícies aquáticas e brilhos que emanam das pedras espirituais criam momentos que ficam na memória. As animações foram também melhoradas. A raposa move-se com mais fluidez, com pequenos detalhes como o abanar da cauda, o escorregar nas descidas ou o olhar atento perante elementos do cenário a contribuírem para uma maior ligação emocional com o animal. As interações com o espírito e os efeitos visuais associados às habilidades foram refinados, dando um toque mais mágico à experiência sem a tornar demasiado fantasiosa.

Som
Se há algo que Spirit of the North já fazia bem, era a sua banda sonora, e esta sequela não desilude. A música continua a ser orquestral, suave e profundamente emocional. Pianos, cordas e sopros compõem temas que acompanham perfeitamente o ambiente, intensificando a melancolia, a paz ou a maravilha conforme o momento. O som ambiental é também muito bem trabalhado. O som da neve a ceder sob as patas, o vento a passar pelas árvores, o som distante de uma cascata ou os efeitos místicos das energias espirituais contribuem para uma imersão total. É um daqueles jogos que se recomenda jogar com auscultadores, tal é a qualidade do design sonoro. Há também uma evolução subtil ao longo do jogo, com a música a ganhar mais camadas à medida que nos aproximamos do final. Este crescendo emocional é bem conseguido e reforça a ligação do jogador com a jornada da raposa. É uma banda sonora que funciona não só dentro do jogo como também se presta a ser ouvida isoladamente.
Conclusão
Spirit of the North 2 é uma sequela que entende perfeitamente o que tornou o original especial e que consegue expandir essa base sem a descaracterizar. Mantém-se um jogo calmo, contemplativo e visualmente encantador, mas agora oferece mais profundidade, variedade e ambição. A ausência de narrativa tradicional continua a ser uma das suas forças, permitindo que o jogador interprete a sua viagem de forma pessoal e emocional. Os problemas de jogabilidade não desapareceram completamente, e quem procura desafios mais intensos ou mecânicas elaboradas poderá sentir-se algo desapontado. No entanto, para quem valoriza uma experiência mais emocional, onde a ligação entre a natureza, o espiritual e o silêncio é o foco, Spirit of the North 2 é uma proposta cativante.
É uma caminhada serena por um mundo que parece estar entre dois planos, um lugar onde o passado sussurra através das pedras e onde uma raposa, aparentemente comum, carrega consigo a esperança de redenção. Não será para todos, mas para aqueles que se deixarem envolver, será uma viagem inesquecível.