The Horror at Highrook é uma proposta singular da Nullpointer Games que procura fundir a intensidade do terror psicológico com a complexidade estratégica dos jogos de tabuleiro. Numa altura em que muitos jogos tentam ser apenas experiências visuais rápidas, este título mergulha profundamente numa atmosfera densa, evocando obras como Arkham Horror e Mansions of Madness, mas no formato digital. Embora seja um videojogo, a sua estrutura mecânica e narrativa revela uma forte inspiração nos jogos físicos, com cartas, tabuleiros, personagens e interações que poderiam facilmente estar numa mesa rodeada de jogadores à luz de velas. Esta mistura resulta numa experiência envolvente e misteriosa que, mesmo não sendo perfeita, se destaca pela sua identidade e pelo respeito que demonstra pelo género de horror.
Jogabilidade
A jogabilidade de The Horror at Highrook é construída sobre uma estrutura muito próxima de um jogo de tabuleiro moderno. O jogador controla uma equipa de investigadores que explora a mansão Highrook em busca de pistas sobre o desaparecimento da família Ackeron. Cada personagem é representada por uma carta com atributos próprios, e o cenário é composto por várias divisões, inicialmente trancadas, que vão sendo desbloqueadas ao longo do jogo. O jogo baseia-se na colocação estratégica de personagens e itens em certas divisões da casa para desencadear eventos, resolver puzzles ou encontrar novos recursos. As ações possíveis variam conforme as estatísticas das personagens, sendo a escolha de quem faz o quê um dos elementos centrais da tomada de decisões. O tempo avança constantemente, o que obriga a uma gestão rigorosa das tarefas, dos recursos e do estado físico e mental dos personagens.
Além disso, o jogo introduz elementos de sobrevivência como fome, fadiga e sanidade, que precisam de ser monitorizados com atenção. Há também eventos aleatórios e guionados que vão surgindo, muitos deles com consequências imprevisíveis. O sistema, apesar de simples, é eficaz, e faz lembrar Cultist Simulator pela forma como mistura aleatoriedade e estratégia com uma camada narrativa bem integrada. Cada jogada parece carregar um peso real, e as consequências das decisões acumulam-se, o que torna a progressão desafiante, mas nunca frustrante.

Mundo e história
A narrativa de The Horror at Highrook é uma das suas maiores forças. Inspirada nos contos clássicos de horror gótico e nas obras de autores como Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, a história desenrola-se ao longo de vários capítulos que aprofundam o mistério em torno da família Ackeron. O desaparecimento da família, envolto em rumores de cultos obscuros e rituais proibidos, é o ponto de partida para uma investigação que rapidamente se transforma numa luta pela sanidade e pela sobrevivência. À medida que o jogador explora a mansão, vão sendo reveladas novas peças do puzzle, e a própria casa ganha uma presença quase viva. Highrook não é apenas um cenário; é um antagonista subtil que se vai tornando cada vez mais hostil, mais opressivo. Este crescendo é bem conseguido e contribui para uma sensação de urgência que alimenta a tensão narrativa. As personagens jogáveis têm personalidade e passado próprios, o que ajuda a criar empatia e investimento emocional. Apesar de alguns erros ortográficos e frases mal construídas que surgem ocasionalmente e quebram um pouco a imersão, a narrativa mantém-se sólida e envolvente, incentivando o jogador a avançar para descobrir a verdade.
Grafismo
Visualmente, The Horror at Highrook é um jogo discreto mas eficaz. Não se apoia em grandes efeitos ou gráficos realistas, mas sim numa direcção artística coesa que serve perfeitamente o seu propósito. O ambiente é escuro, carregado de sombras, com luzes que se movem de forma subtil e criam uma sensação constante de inquietação. A estética lembra jogos como Darkest Dungeon, com uma paleta de cores sombria e contrastes fortes. O tabuleiro digital que representa a casa é detalhado o suficiente para ser funcional, mas tem também pequenos toques artísticos que reforçam o ambiente. O design das cartas é claro, com ilustrações estilizadas e textos legíveis, e os menus são simples e intuitivos. Nada no visual do jogo parece desnecessário ou exagerado, e tudo serve para sustentar a atmosfera que a narrativa pretende criar. Mesmo sem grandes recursos técnicos, o grafismo consegue ser imersivo, mantendo sempre o foco na experiência do jogador.

Som
O trabalho sonoro em The Horror at Highrook é fundamental para o impacto emocional do jogo. A banda sonora é discreta mas inquietante, composta por temas atmosféricos que variam conforme o estado da investigação e a progressão na história. Há momentos em que a música desaparece quase por completo, deixando apenas o som ambiente — e é nesses momentos que o jogo brilha em termos de tensão. Os efeitos sonoros são usados com parcimónia, mas de forma inteligente. O ranger do soalho, o sopro do vento nas janelas, o eco distante de vozes — todos estes elementos contribuem para uma sensação constante de que algo está errado. Há também momentos em que sons mais intensos irrompem de forma repentina, criando sustos bem posicionados, mas sem cair no exagero dos sustos fáceis. O som aqui é mais psicológico do que físico, mais sugestão do que impacto, o que é inteiramente apropriado para o tipo de terror que o jogo pretende explorar.
Conclusão
The Horror at Highrook é uma experiência pensada para os amantes do terror e dos jogos de tabuleiro. A sua abordagem única, que mistura mecânicas de jogos físicos com uma narrativa digital bem construída, resulta numa proposta original e envolvente. Apesar de não ter os maiores valores de produção ou um sistema complexo de combate, aquilo que faz, faz bem — e com um claro respeito pelo género a que pertence. A sua estrutura por capítulos, a progressão gradual da dificuldade e a constante sensação de mistério tornam-no difícil de largar. Mesmo com algumas falhas pontuais de linguagem ou interface, o jogo consegue manter o jogador preso à sua história até ao fim. É uma obra que, tal como os melhores contos de horror, permanece na memória muito depois do fim da última página — ou neste caso, da última carta. Para quem procura uma experiência de terror mais cerebral, mais próxima de um jogo de mesa do que de um shooter, The Horror at Highrook é uma aposta segura e recompensadora. Não é para todos, mas para os que entrarem na mansão de mente aberta, há um mistério fascinante à espera de ser desvendado.