Warside chega ao panorama dos jogos de estratégia por turnos como mais um herdeiro espiritual de Advance Wars, procurando captar o entusiasmo dos nostálgicos e dos fãs do género. Desenvolvido pelo estúdio indie LAVABIRD e publicado pela First Break Labs, Warside posiciona-se como uma experiência táctica de ritmo rápido, que favorece o movimento e o confronto constante em vez da defesa e da espera. Numa altura em que o remake de Advance Wars reacendeu o interesse por este tipo de jogos, Warside procura destacar-se com uma campanha recheada de missões, um editor de mapas e modos multijogador, ainda que sem grandes inovações no género.
Apesar de ainda se encontrar numa fase inicial em termos de conteúdo complementar, Warside apresenta uma base sólida e polida, com um núcleo jogável competente e visualmente apelativo. No entanto, à medida que se avança na campanha, torna-se claro que este é um título que aposta mais na familiaridade do que na ousadia, oferecendo uma experiência coesa mas algo limitada. A ausência de certos elementos fundamentais, como um modo escaramuça ou uma narrativa mais envolvente, levanta dúvidas sobre o seu estado de lançamento e levanta expectativas quanto ao futuro desenvolvimento.
Jogabilidade
O coração de Warside reside no seu sistema de combate por turnos em grelha, onde o jogador comanda unidades terrestres, aéreas e marítimas em batalhas estratégicas. O jogo incentiva uma abordagem ofensiva, pressionando o jogador a conquistar edifícios e a manter uma linha de produção de unidades constante. Cada unidade possui características distintas e papéis bem definidos no campo de batalha, desde infantaria básica até unidades pesadas de artilharia ou bombardeiros. A economia do jogo assenta na captura de edifícios, que fornecem recursos vitais para a construção de novas unidades, criando um ciclo constante de expansão e reforço. A IA é competente o suficiente para desafiar o jogador, especialmente ao nível da escolha de alvos e uso de contra-ataques. Existe uma lógica clara de pedra-papel-tesoura entre unidades, com cada tipo a ter forças e fraquezas bem delineadas. No entanto, a IA demonstra fragilidades na protecção do seu território, permitindo por vezes que unidades do jogador se infiltrem e capturem edifícios sem resistência. Este desequilíbrio contribui para missões que, apesar de divertidas, raramente representam um verdadeiro desafio tático, sobretudo em dificuldades normais.
A ausência de um botão de desfazer movimentos é particularmente frustrante. Um clique errado pode arruinar completamente uma jogada, forçando o jogador a reiniciar a missão caso pretenda evitar consequências desastrosas. Esta limitação, combinada com a falta de um modo de escaramuça para partidas rápidas, acaba por tornar a experiência menos fluida do que poderia ser.

Mundo e história
Se há área em que Warside falha claramente é na construção do seu mundo e narrativa. A campanha, embora longa o suficiente para entreter durante várias horas, apresenta uma história genérica de facções em guerra por uma superarma. Apesar da existência de quatro facções com cores e comandantes distintos, as diferenças entre elas são mínimas. Cada facção apenas possui uma unidade única, e as habilidades dos comandantes, embora distintas, raramente mudam de forma significativa a abordagem do jogador. Os diálogos são básicos, com personagens pouco desenvolvidas e com apenas um retrato cada, sem grande profundidade emocional ou carisma. O enredo avança sem surpresas, recorrendo a clichés já bem conhecidos do género. Em alguns momentos, surgem referências humorísticas, como citações a memes antigos de filmes, mas mesmo essas parecem deslocadas e sem impacto. O final da campanha, além de abrupto, transmite uma sensação de incompletude. Após cerca de 23 missões, o jogo termina de forma tão repentina que muitos jogadores poderão ficar convencidos de que faltam fases. A discrepância entre o número de missões publicitado (mais de 30) e o que é realmente oferecido reforça esta percepção. É possível que mais conteúdo esteja planeado, mas na versão atual o fecho da narrativa deixa um sabor amargo.
Grafismo
Visualmente, Warside aposta numa estética pixel art tradicional, claramente inspirada por clássicos do género. O trabalho artístico é limpo e funcional, com unidades bem diferenciadas entre si, o que facilita a leitura do campo de batalha. As animações de combate, apesar de algo demoradas, são satisfatórias e reforçam a sensação de impacto dos confrontos. Os mapas incluem os biomas típicos, como florestas, desertos, zonas costeiras e ilhas, mas a variedade não vai muito além disso. Felizmente, a disposição dos terrenos nas missões principais inclui elementos como estradas, pontos de estrangulamento e zonas de difícil acesso, o que contribui para alguma diversidade táctica. A interface é clara e eficiente, permitindo ao jogador acompanhar facilmente o estado do campo de batalha e identificar as unidades que ainda podem agir. Um dos destaques visuais é o editor de mapas, que embora simples, é bastante intuitivo. É fácil criar novos campos de batalha personalizados, o que abre portas para conteúdo criado pela comunidade. Infelizmente, a ausência de um modo escaramuça funcional limita o uso prático dessas criações, a não ser que se consiga organizar partidas com amigos.

Som
A componente sonora de Warside cumpre a sua função sem se destacar. A banda sonora acompanha os combates com faixas energéticas, mas genéricas, que servem como pano de fundo sem roubar protagonismo. Não há grande variedade musical ao longo da campanha, o que leva a alguma repetição ao fim de várias horas de jogo. Os efeitos sonoros são satisfatórios e ajudam a reforçar o impacto das ações em campo. Cada unidade tem sons próprios ao atacar ou mover-se, o que contribui para uma identidade sonora coesa. No entanto, o jogo não inclui vozes ou narração, o que poderia ter ajudado a dar mais vida aos personagens e à história. No geral, o som em Warside é competente, mas não memorável. Serve como suporte ao gameplay sem atrapalhar, mas também sem elevar a experiência.
Conclusão
Warside é um jogo que vive da sua base táctica sólida e do apelo visual da sua pixel art. Como experiência de combate por turnos, oferece o suficiente para entreter os fãs do género, especialmente aqueles que procuram uma alternativa a Advance Wars. As batalhas são bem desenhadas, as unidades equilibradas, e o ritmo geral é agradável, com foco na ofensiva e na conquista de território. Contudo, o jogo sofre de várias limitações difíceis de ignorar. A campanha, embora longa, é repetitiva e pouco inspirada. A narrativa é fraca, as diferenças entre facções são superficiais, e a ausência de modos adicionais como escaramuça ou campanhas cooperativas faz-se sentir. A sensação geral é a de um título lançado com o essencial, mas ainda em construção. Faltam-lhe camadas de profundidade, tanto na jogabilidade como no contexto narrativo. Com promessas de mais conteúdo no futuro, Warside tem potencial para crescer. No seu estado atual, é um jogo competente, mas que não consegue ir além do básico. Para quem procura um novo desafio táctico, pode valer a pena explorar. Para quem procura inovação, personalidade ou profundidade, talvez seja melhor esperar por futuras atualizações.