Deadzone: Rogue é um jogo em acesso antecipado que nos coloca numa experiência intensa de FPS roguelike em pleno espaço sideral. Desenvolvido e publicado pela Prophecy Games, apresenta-se como uma aposta ambiciosa num género já saturado, mas com espaço para inovação. O jogador desperta numa nave espacial, sem memória do seu passado ou do motivo da sua presença ali, e rapidamente se vê forçado a sobreviver a ondas de inimigos mecânicos e biológicos, enquanto tenta descobrir a verdade por trás do caos. Com mais de 30 horas investidas nesta análise, é evidente que o jogo oferece mais do que aparenta à primeira vista.
Jogabilidade
A jogabilidade de Deadzone: Rogue é, sem dúvida, o seu ponto mais forte. A movimentação é fluida e agradável, transmitindo uma sensação de leveza e rapidez essencial num shooter moderno. Inicialmente, o sistema de corrida, que funciona como um impulso curto em vez de um sprint contínuo, pode parecer estranho, mas acaba por se revelar uma ferramenta útil em combates mais intensos. O combate, por sua vez, é extremamente satisfatório. O disparo com mira ou sem mira sente-se bem calibrado, e o combate corpo a corpo rapidamente se torna numa escolha preferencial. Infelizmente, a variedade de armas deixa a desejar nesta fase de desenvolvimento. O sistema de augments traz profundidade e variedade à jogabilidade, permitindo alterar significativamente o estilo de jogo. Ao escolher um augment inicial, o jogador desbloqueia três perks principais, cada um com ramificações que permitem afinar ainda mais as capacidades da personagem. Existe um elemento de sorte envolvido, mas com alguma estratégia é possível fazer qualquer build funcionar.
Para além das missões principais, existem desafios extra que forçam o jogador a experimentar estilos de jogo fora da sua zona de conforto. Estes testes são úteis para compreender melhor as ferramentas disponíveis e diversificar as abordagens ao combate. Também há um sistema de trinkets e habilidades que, juntamente com os augments, prometem sinergias ainda por explorar à medida que o jogo evolui.

Mundo e história
A narrativa de Deadzone: Rogue começa com um tom misterioso e mantém esse ambiente de incerteza ao longo da progressão. O jogador vai recolhendo fragmentos de lore através de Data Pads espalhados pelas missões e observações ambientais cuidadosamente colocadas. Estas peças narrativas vão dando forma ao enredo, revelando pequenos detalhes sobre o que correu mal na nave e qual o papel do protagonista naquele universo sombrio. A zona inicial do jogo peca por uma narrativa fraca, algo desinspirada, mas a situação muda drasticamente quando o jogador chega à Zona 2. Aqui, as revelações surgem em catadupa e despertam verdadeiro interesse na continuidade da história. Este desequilíbrio levanta dúvidas sobre a estrutura narrativa inicial, que poderia ter beneficiado de um início mais forte. Ainda assim, tendo em conta que o jogo está em acesso antecipado, é possível que o estúdio reveja esse aspeto antes da versão final.
Outro ponto positivo está na presença de missões secundárias, que expandem a exploração para além da história principal e aprofundam o lore da nave. A variedade de contextos apresentados, desde simples problemas logísticos a fenómenos mais inquietantes, ajudam a construir uma atmosfera de tensão constante.
Grafismo
Graficamente, Deadzone: Rogue não tenta reinventar a roda, mas oferece um visual competente e eficaz dentro do seu estilo. O design dos ambientes é funcional, com zonas distintas e detalhadas o suficiente para criar uma sensação de progressão e descoberta. A nave onde decorre a ação está bem concebida, alternando entre corredores claustrofóbicos e áreas mais amplas, o que ajuda a manter o ritmo visual interessante. A direção artística segue uma linha sóbria e escura, adequada ao tom misterioso do jogo. Os inimigos, tanto mecânicos como biológicos, apresentam designs variados, embora a maior criatividade só se revele na segunda zona. A primeira zona padece de alguma repetição visual e falta de originalidade, algo que felizmente é corrigido mais à frente.
As animações são competentes, mas existe uma cutscene repetitiva no início de cada nova tentativa que se torna cansativa com o tempo. Esta sequência, em que o protagonista acorda com visão turva e dor de cabeça, poderia ser reservada para momentos de maior impacto narrativo, em vez de se repetir a cada reinício.

Som
O som em Deadzone: Rogue é funcional, mas há espaço para melhorias. Os efeitos sonoros das armas são satisfatórios e contribuem para a imersão do combate. Os sons ambiente ajudam a reforçar a atmosfera opressiva e solitária da nave, criando um pano de fundo tenso que acompanha bem a ação. No entanto, a componente vocal precisa de ser trabalhada. Algumas das vozes soam monótonas e carecem de emoção, o que reduz o impacto de certas linhas narrativas. Um trabalho de voz mais envolvente daria outra vida aos momentos dramáticos e ajudaria a aprofundar a ligação emocional com o universo do jogo. A música é discreta, mas eficaz. Não pretende tomar o protagonismo, preferindo acompanhar de forma subtil os momentos de combate e exploração. Essa abordagem funciona bem, embora alguns temas mais memoráveis ou intensos em momentos-chave não seriam mal-vindos.
Conclusão
Deadzone: Rogue é um exemplo promissor de como um jogo em acesso antecipado pode já oferecer uma experiência sólida e envolvente. Apesar de algumas falhas e desequilíbrios, especialmente na narrativa inicial e no design de inimigos da primeira zona, o jogo compensa com uma jogabilidade refinada, progressão interessante e uma base narrativa que vai ganhando força com o tempo. A presença de cooperação online, mesmo ainda em afinação, adiciona uma camada extra de diversão, tornando a exploração da nave e o combate contra as ameaças alienígenas mais envolventes. A comunidade parece ativa, tal como os desenvolvedores, o que é um bom indicador do futuro do projeto. Com atualizações previstas e mais conteúdo a caminho, incluindo a esperada Zona 3, há razões para acreditar que o jogo só irá melhorar. Pelo preço, pode parecer um risco para alguns, mas para fãs de roguelikes e FPS exigentes, Deadzone: Rogue já oferece mais do que tempo de jogo suficiente para justificar o investimento. É um título que poderá brilhar ainda mais com o tempo, e que vale a pena acompanhar de perto.