Tormented Souls 2 surge como uma continuação direta do primeiro título lançado em 2021, com a promessa de manter viva a essência clássica dos jogos de terror e sobrevivência que marcaram os anos 90. Com uma demo que oferece cerca de 90 minutos de jogo, a proposta é clara: não reinventar a roda, mas sim reforçar o legado nostálgico com algumas melhorias pontuais. Desenvolvido com base nos mesmos alicerces que definiram o seu antecessor, este segundo capítulo traz de volta Caroline Walker, agora numa nova jornada onde o mistério, o horror e o desconforto caminham lado a lado. Embora a narrativa siga caminhos bastante previsíveis e se escore em lugares-comuns do género, a atmosfera e a estrutura mecânica procuram manter o jogador imerso num universo sombrio e inquietante.
Jogabilidade
Em termos de jogabilidade, Tormented Souls 2 aposta em manter-se fiel ao estilo clássico, com controlo tipo tank e câmaras fixas que remetem imediatamente para os tempos áureos do survival horror. Estas escolhas podem dividir opiniões: se por um lado apelam ao saudosismo de quem viveu intensamente os Resident Evil e Silent Hill originais, por outro lado podem afastar jogadores mais habituados a mecânicas modernas e fluídas. Apesar disso, o sistema de movimento foi ligeiramente refinado, apresentando respostas mais suaves e intuitivas, sobretudo no controlo em 3D, que facilita a exploração e o combate. A grande novidade em termos de mecânica é a introdução de um menu rápido, semelhante ao de Resident Evil 4 Remake, que permite pré-selecionar quatro itens – entre armas e objetos de cura – para uso imediato. Esta adição torna o combate mais fluido e dinâmico, embora a sua execução ainda careça de polimento. O inventário e o menu geral continuam a ser lentos, uma herança do jogo anterior que poderia ter sido otimizada nesta continuação.
Ainda que o sistema de câmaras fixas contribua para a ambientação, também apresenta limitações. Em várias situações, especialmente em combates, o posicionamento da câmara favorece os inimigos, tornando difícil antecipar ataques ou posicionar-se estrategicamente. Contudo, há mérito na forma como algumas câmaras são utilizadas para valorizar a direção artística, criando enquadramentos que reforçam o ambiente opressivo.

Mundo e história
A narrativa de Tormented Souls 2 começa com Caroline Walker a procurar ajuda para a sua irmã Anna, atormentada por visões estranhas. Esta premissa, embora funcional, assenta em clichés demasiado explorados dentro do género. Desde logo, as intenções maléficas das personagens secundárias são demasiado óbvias, e o desenrolar dos acontecimentos segue um percurso previsível, levando Caroline a mais uma situação absurda onde o terror se manifesta de forma grotesca e perturbadora. Apesar da falta de originalidade, a atmosfera consegue compensar em parte essa previsibilidade, criando um sentimento constante de desconforto. A sexualização de Caroline, como já acontecia no primeiro jogo, continua presente, num misto de fragilidade e sensualidade que se mistura com o horror. A ambientação é construída com base em elementos religiosos e institucionais – neste caso, uma clínica gerida por freiras – que oferecem um cenário ideal para um terror psicológico mais psicológico e simbólico, ainda que não seja plenamente explorado. Segundo a desenvolvedora, o jogo completo irá expandir o universo para locais como um centro comercial e uma escola abandonada, e introduzirá a mecânica de alternância entre realidades para alterar o passado e o presente. No entanto, nenhuma dessas promessas está presente na demo, o que limita a perceção do verdadeiro alcance narrativo do jogo.
Grafismo
Visualmente, Tormented Souls 2 apresenta melhorias notáveis em relação ao seu antecessor. A riqueza de detalhes nas texturas, a iluminação e os efeitos visuais são mais refinados, especialmente na clínica onde decorre a demo. No entanto, é impossível não notar a forte semelhança entre os objetos, mobiliário e decoração em relação ao jogo anterior, o que pode dar uma sensação de déjà vu demasiado frequente. A utilização da escuridão como elemento central continua a ser eficaz, mantendo a tensão elevada e reforçando a sensação de vulnerabilidade constante. Caroline continua sensível à escuridão, e permanecer demasiado tempo sem iluminação resulta em morte certa, um elemento que obriga o jogador a gerir bem os seus recursos e a sua movimentação. Apesar do bom trabalho artístico, a demo sofre de alguns problemas técnicos. A ausência de opções de configuração mais específicas, como o ajuste de iluminação, torna a experiência visual por vezes frustrante, principalmente em áreas demasiado escuras. Há também quedas de resolução em certos momentos, que se espera venham a ser corrigidas na versão final. As cenas cinemáticas, embora esteticamente apelativas, não são tão fluídas quanto se esperaria, algo que se nota especialmente em ambientes exteriores.

Som
O som em Tormented Souls 2 mantém-se como um dos pilares fundamentais da imersão. A ausência de uma banda sonora constante dá espaço a ruídos ambiente inquietantes, como passos distantes, sussurros ou o som metálico de correntes, que aumentam significativamente a tensão. A utilização do silêncio como ferramenta narrativa continua a ser bem explorada, criando um contraste eficaz com os momentos de maior intensidade. Os efeitos sonoros associados aos inimigos e ao ambiente são eficazes, embora a atuação vocal das personagens deixe a desejar em certos momentos. As vozes por vezes soam artificiais ou exageradas, quebrando um pouco a ilusão de realismo pretendida. Ainda assim, o trabalho de som no geral consegue manter o jogador em alerta constante, contribuindo para a construção de um ambiente verdadeiramente opressivo.
Conclusão
Tormented Souls 2, pelo que é possível experimentar na demo, promete uma sequela fiel ao espírito do primeiro jogo, sem grandes ousadias, mas com um conjunto de melhorias que procuram refinar a fórmula estabelecida. A falta de inovação, tanto na narrativa como nos cenários, pode desiludir alguns jogadores, mas para os fãs do original e do género survival horror clássico, este regresso será certamente bem-vindo. A introdução do menu rápido é uma melhoria importante que contribui para um ritmo mais fluido nos combates, enquanto os gráficos mais detalhados e o som ambiente continuam a ser pontos fortes. No entanto, a manutenção de algumas mecânicas ultrapassadas e a repetição de conceitos já usados podem comprometer o impacto do jogo completo, caso a desenvolvedora não arrisque mais nos capítulos seguintes da narrativa. Se o teu desejo for mergulhar novamente num pesadelo onde a nostalgia reina e o desconforto é constante, Tormented Souls 2 tem tudo para satisfazer. Mas se esperas algo revolucionário dentro do género, talvez seja melhor manter as expectativas contidas.