Análise: Empyreal

Empyreal é um RPG de ação centrado na recolha de loot e com um forte apelo ao estilo “só mais uma tentativa”, oferecendo uma experiência desafiante, por vezes frustrante, mas também gratificante. Desenvolvido pela Silent Games e publicado pela Secret Mode, Empyreal aposta numa fórmula bastante conhecida no género, mas com alguns elementos únicos que ajudam a refrescar a jogabilidade, nomeadamente o sistema de cartas de níveis, os chamados cartogramas. Lançado para PC, PS5 e Xbox Series X/S, o jogo apresenta-se como uma experiência single-player robusta, ideal para sessões curtas ou longas, sendo particularmente bem adaptado à Steam Deck.

A primeira impressão que o jogo transmite pode ser enganadora. Apesar do seu aspecto inicialmente algo monótono e da dificuldade desproporcional logo nos primeiros níveis, há aqui um jogo que se transforma à medida que o jogador compreende as suas várias camadas mecânicas. Empyreal não é um RPG de ação acessível, mas para quem estiver disposto a mergulhar nos seus sistemas, existe uma recompensa em forma de progressão desafiante e um leque interessante de decisões tácticas. Contudo, essa exigência constante pode também ser uma barreira para muitos jogadores que esperavam uma experiência mais equilibrada e menos punitiva.

Jogabilidade

O grande foco de Empyreal está no seu sistema de loot e personalização. Existem cinco elementos principais que se cruzam com três estilos de ataque, todos eles modificáveis através do equipamento recolhido. É possível mudar estatísticas, desbloquear habilidades, alterar tempos de recarga e procurar loot ultra-raro com base nas pistas que os cartogramas oferecem. Este sistema é surpreendentemente profundo e detalhado, obrigando o jogador a pensar cuidadosamente nas sinergias entre os diferentes efeitos, habilidades e armas. A customização é quase infinita, e dominar estas combinações é essencial para sobreviver. No entanto, o jogo não perdoa. Mesmo nos níveis considerados Muito Fáceis, é frequente morrer em poucos segundos se não se estiver completamente preparado. Não há lugar para improviso aqui; Empyreal exige conhecimento dos sistemas e um planeamento rigoroso de cada encontro. A jogabilidade em combate é directa e satisfatória, com destaque para o telegráfico dos ataques inimigos: uma barra laranja indica quando e que tipo de ataque será desferido. Isto permite decisões tácticas mais refinadas, embora em combates contra vários inimigos em simultâneo a informação possa tornar-se confusa e difícil de gerir. As armas disponíveis são bastante distintas e têm um impacto real na forma como se joga. Desde a glaive, uma arma de longo alcance com capacidade de dash, ao escudo e maça focados em parry, até ao canhão com um sistema de recarga baseado em skill similar ao que encontramos em Monster Hunter, as escolhas têm peso. O canhão, por exemplo, altera completamente o ritmo de jogo e oferece uma jogabilidade mais estratégica. No entanto, há momentos em que a ausência de resposta rápida devido às animações pode ser fatal, algo que agrava a sensação de rigidez em momentos de aperto.

Mundo e história

Empyreal decorre numa estrutura alienígena colosal, o Ziggurat, construída por uma civilização antiga e envolta em mistério. O jogador assume o papel de um mercenário contratado para explorar esta estrutura, teoricamente para libertar algo que está preso no seu interior. Apesar desta premissa interessante, a história é apenas uma moldura funcional para a jogabilidade. Existe algum desenvolvimento narrativo através de diálogos com NPCs na área central do jogo, e até algumas escolhas de diálogo que podem alterar os finais possíveis, mas tudo isto é secundário face ao foco na progressão e combate. Ainda assim, há pormenores curiosos que dão vida ao mundo. As áreas variam entre biomas, cada um com as suas características visuais e desafios, e há pequenas cinemáticas que introduzem os bosses, dando-lhes algum carisma. Alguns NPCs surgem nos níveis durante as missões, oferecendo uma sensação de narrativa emergente, embora algo superficial. O humor seco e directo dos diálogos, em particular com o barman da zona central, ajuda a quebrar o tom sério e por vezes excessivamente austero do jogo. A progressão está ligada à recolha de novos cartogramas que desbloqueiam zonas e bosses, criando um ciclo viciante de tentar, falhar, melhorar o equipamento e voltar a tentar. A duração média de cada incursão ronda os 10 a 20 minutos, o que torna o jogo muito adequado para sessões rápidas, mas também propício a longas maratonas quando se entra na espiral de progressão.

Grafismo

Empyreal apresenta um visual detalhado, com texturas de qualidade, boa iluminação e um excelente alcance visual. Apesar de não ser um jogo com grande personalidade estética, os ambientes têm alguma beleza, especialmente nas zonas mais naturais onde ruínas se misturam com vegetação e quedas de água. Há aqui ecos visuais de jogos como Metroid Prime, particularmente nas zonas que evocam os Chozo Ruins, mas sem alcançar a mesma riqueza atmosférica. O jogo corre de forma bastante competente mesmo em hardware mais modesto, como a minha Nvidia RTX 3060 e a versão para Steam Deck é surpreendentemente fluida, mantendo-se jogável com as definições por defeito. Os modelos das personagens são talvez o elo mais fraco em termos visuais, com pouca expressividade e animações algo rígidas, o que contribui para a sensação geral de falta de carisma.

Os menus são funcionais, embora nem sempre claros. A ausência de um mapa torna a navegação por vezes frustrante, especialmente quando já se percorreu toda a área e não se encontra a saída. A repetição visual entre algumas áreas também pode cansar, e falta algum impacto visual nos bosses para os tornar mais memoráveis.

Som

A banda sonora de Empyreal cumpre o seu papel sem se destacar particularmente. As faixas são discretas, muitas vezes atmosféricas, com o objetivo de criar tensão mais do que marcar presença. Há uma sensação de vazio em alguns momentos, que pode ou não ser intencional, mas que reforça a ideia de um mundo solitário e desolado. O design sonoro nos combates é eficaz, com sons distintos para os ataques, parries e habilidades, o que ajuda a manter o ritmo do combate claro e satisfatório.

Não há vozes em abundância, mas os efeitos sonoros dos inimigos e do ambiente cumprem a sua função. Ainda assim, falta um pouco mais de personalidade no som para elevar a experiência a outro patamar. Certos bosses mereciam faixas musicais mais dramáticas ou imponentes, de forma a tornarem-se momentos memoráveis. Neste campo, Empyreal é competente, mas pouco ousado.

Conclusão

Empyreal é um jogo exigente, por vezes implacável, mas que recompensa quem estiver disposto a investir tempo e esforço nos seus sistemas. É um RPG de ação profundamente técnico e centrado na personalização do equipamento, com um loop de jogo viciante e muito bem pensado. A ideia dos cartogramas como sistema de progressão é uma das suas melhores inovações, permitindo prever com algum grau de segurança o tipo de desafio e recompensas de cada incursão.

Contudo, não é um jogo para todos. A dificuldade excessiva nos primeiros níveis, aliada à ausência de um sistema de navegação ou tutoriais claros, pode afastar muitos jogadores logo ao início. O ritmo de progressão também abranda consideravelmente perto do meio do jogo, exigindo muitas horas de grinding antes de se conseguir avançar. Mesmo com equipamento de nível máximo, o sucesso nunca é garantido, o que pode tornar a experiência desgastante. Apesar disso, quem persistir encontrará um jogo desafiante, com sistemas profundos, combates tácticos e uma longevidade surpreendente. Empyreal não reinventa o género, mas apresenta ideias sólidas, execução competente e uma estrutura de jogo pensada para quem gosta de experimentar builds, otimizar equipamentos e dominar sistemas complexos. É uma proposta de nicho, mas com qualidades suficientes para se destacar no panorama dos RPGs de ação baseados em loot.

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