Análise: Particle Hearts

Particle Hearts é uma das propostas mais intrigantes que surgiu no Steam Next Fest de Junho de 2025. Desenvolvido por um único criador no estúdio Underwater Fire Games e publicado pela First Break Labs, este puzzle platformer apresenta-se com uma estética muito própria e uma proposta narrativa enigmática. Disponível em formato digital para Nintendo Switch, PC, PlayStation 5 e Xbox Series, o jogo promete uma experiência visual e emocional distinta, colocando o jogador num mundo composto inteiramente por partículas, onde cada cenário, objeto e personagem é uma coleção de pontos coloridos que lembram uma obra de pontilhismo em movimento.

Jogabilidade

A jogabilidade de Particle Hearts baseia-se numa combinação de exploração livre e desafios de plataformas e quebra-cabeças. Cada nível oferece ao jogador a liberdade de vaguear pelo ambiente, descobrir locais de interesse e interagir com elementos essenciais à progressão. Os pontos mais destacados do mapa são estruturas brancas que se destacam no meio das cores vibrantes do cenário. É nestas estruturas que encontramos os chamados Portões de Fragmento, portais que transportam o jogador para desafios específicos, com uma abordagem reminiscente dos santuários de The Legend of Zelda: Breath of the Wild.

As habilidades do protagonista, conhecido apenas como o Errante, evoluem gradualmente ao longo do jogo. No início, contamos apenas com o salto e um movimento de impulso (Dash), que pode ser usado também no ar. No entanto, à medida que avançamos, novas habilidades são desbloqueadas, como o “Burst”, uma técnica que permite ao Errante transformar-se numa nuvem de partículas, atravessando obstáculos e acedendo a zonas de outra forma inacessíveis. Esta constante adição de novas ferramentas mecânicas promete manter a jogabilidade fresca e desafiante até ao final. Além dos desafios principais, os níveis escondem pequenos sinos de vento que o jogador pode recolher. Estes sinos servem como colecionáveis opcionais que desbloqueiam fragmentos da narrativa, pistas sobre o caminho a seguir e talvez até detalhes sobre a identidade do narrador enigmático que comunica com o protagonista.

Mundo e história

O mundo de Particle Hearts é um lugar misterioso e melancólico, repleto de símbolos e metáforas visuais. Tudo é composto por partículas: o chão que pisamos, os obstáculos que enfrentamos e até o próprio protagonista. Esta abordagem estética não é apenas uma escolha visual, mas também está intrinsecamente ligada à temática do jogo. O protagonista, o Errante, embarca numa missão para salvar alguém – embora não esteja claro se essa pessoa está viva, morta ou perdida noutra dimensão.

A narrativa é deliberadamente ambígua e convida o jogador a interpretá-la por si próprio. Não há tutoriais extensivos nem indicações óbvias. O jogador é lançado neste mundo sem uma mão orientadora, o que reforça o sentimento de desorientação e descoberta. As mensagens que vamos recolhendo, através dos sinos de vento e de outros elementos escondidos, provêm de uma voz desconhecida, talvez o próprio objetivo da nossa missão. Esta voz tenta comunicar com o Errante da única forma possível, deixando pequenos fragmentos de texto que compõem o pano de fundo emocional da jornada.

A presença de criaturas vivas no mundo, como um veado e sua cria que aparecem na demonstração, dá alguma vida ao ambiente, mas também introduz a ideia de que nem todos os seres são amigáveis. O elemento furtivo, ainda que ausente na demo, está previsto para entrar em jogo em fases mais avançadas, adicionando outra camada de complexidade à experiência.

Grafismo

Visualmente, Particle Hearts é arrebatador. O estilo gráfico é inteiramente baseado em partículas, criando uma estética de pontilhismo animado que é simultaneamente única e expressiva. Cada nível apresenta uma paleta cromática distinta, com o primeiro a mostrar um ambiente sombrio e carregado, dominado por tons escuros e pela presença ameaçadora de um enorme braço demoníaco que emerge do solo. Esta figura, onde o jogador deve depositar os primeiros dois Fragmentos recolhidos, poderá ou não ser um vilão, mas cumpre claramente uma função simbólica e mecânica no desenrolar da ação.

Em contraste, o segundo nível é muito mais leve e vibrante, com árvores vermelhas e amarelas que evocam uma paisagem outonal. Esta mudança de tom entre níveis indica que cada área de Particle Hearts terá a sua própria identidade visual e atmosférica, o que contribui para o sentimento de progresso e descoberta. A fluidez com que as partículas se movimentam e transformam dá vida ao mundo de forma quase hipnótica. Seja no movimento do protagonista ou nos efeitos visuais das habilidades, tudo parece cuidadosamente animado, transmitindo uma sensação de coesão visual impressionante, sobretudo tendo em conta que o jogo foi desenvolvido por apenas uma pessoa.

Som

A componente sonora de Particle Hearts acompanha bem a sua estética visual e narrativa. Ainda que a demo seja limitada em termos de conteúdo áudio, é possível sentir o cuidado colocado na criação de um ambiente sonoro que reforça a atmosfera de cada cenário. No primeiro nível, por exemplo, a música é discreta, melancólica e quase opressiva, sublinhando o tom sombrio da paisagem e a solidão do protagonista. A sonoplastia é subtil, mas eficaz, com sons ambientais que ajudam a mergulhar o jogador no universo do jogo. O contraste entre níveis também se reflete na música. No segundo, com cores mais quentes e uma paisagem mais acolhedora, o som é mais leve e etéreo, reforçando a mudança de tom e o alívio momentâneo da tensão inicial. Espera-se que, à medida que o jogo avança, o áudio continue a desempenhar um papel importante no reforço da narrativa e no envolvimento emocional do jogador.

Conclusão

Particle Hearts é uma proposta singular que combina jogabilidade de plataformas com puzzles e uma narrativa fragmentada que desafia o jogador a interpretar o seu significado. Com uma estética visual deslumbrante baseada em partículas, ambientes visualmente distintos e mecânicas de jogo que se expandem progressivamente, o jogo promete uma experiência imersiva e emocional. A sua recusa em segurar a mão do jogador poderá afastar quem prefere direções mais claras, mas será precisamente esse mistério e liberdade que atrairá os fãs de jogos mais contemplativos e experimentais. Ainda em desenvolvimento, Particle Hearts mostra já um enorme potencial, especialmente considerando que é fruto da visão de um único criador. Se conseguir manter a qualidade demonstrada na demo ao longo de toda a aventura, poderá vir a tornar-se numa das pérolas independentes mais marcantes de 2025.

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