Análise: Stratogun

Stratogun é um novo título desenvolvido pela Horsefly e publicado pela Numskull Games que mergulha de cabeça na nostalgia dos clássicos shoot ‘em ups, com uma apresentação moderna e suporte para realidade virtual. Foi um dos destaques recentes do Steam Next Fest, onde esteve disponível em formato de demo com suporte para PC VR. Inspirado em títulos como Super Stardust Ultra e Geometry Wars, Stratogun combina ação frenética com visuais vibrantes e uma jogabilidade clássica que promete conquistar os fãs do género. Ainda que não traga grandes inovações ao panorama atual, o jogo consegue cativar pela intensidade do desafio e pela clareza com que homenageia os jogos arcade do passado.

Apesar de o suporte para VR não alterar profundamente a essência da experiência, oferece um toque adicional de imersão, especialmente para quem já tem um headset. No entanto, mesmo em ecrã plano, Stratogun mostra-se sólido e envolvente, com uma curva de dificuldade exigente e um espírito competitivo marcado pelas tabelas de pontuação online. Com lançamento marcado para este mês, a demo deixou boas indicações e uma sensação clara de que este é um jogo feito para os puristas dos arcades.

Jogabilidade

Stratogun apresenta uma jogabilidade simples, mas eficaz. O jogador controla uma nave que se move em torno de um planeta esférico, disparando contra ondas de inimigos, asteróides e armadilhas. O sistema de controlo é intuitivo, especialmente com comando, e oferece a precisão necessária para lidar com os desafios colocados em cada nível. Não há aqui grandes segredos: é preciso disparar, desviar e sobreviver o tempo suficiente até enfrentar o chefe da zona. A estrutura dos níveis lembra bastante Super Stardust Ultra, com o jogador sempre a orbitar um corpo celeste, o que permite uma movimentação circular que é tanto divertida como taticamente relevante. A mecânica do multiplicador de pontuação acrescenta tensão à jogabilidade, já que qualquer toque inimigo faz com que este regresse imediatamente a zero. Apesar disso, o jogo não adopta uma lógica de morte instantânea. A nave possui um sistema de saúde representado por cores — verde, amarelo e vermelho — que vai diminuindo à medida que se sofre dano, e também está indicado na interface do lado esquerdo do ecrã. Ao longo dos níveis, inimigos e obstáculos largam power-ups que aumentam o poder de fogo da nave ou oferecem bombas capazes de limpar tudo numa área curta. Estas bombas são limitadas, o que obriga a uma gestão cuidadosa dos recursos. Não há upgrades permanentes ou elementos roguelite — quando se morre, é mesmo voltar ao início. Esta decisão de design reforça a sensação arcade e coloca ainda mais ênfase na habilidade do jogador.

Mundo e história

Como é comum nos clássicos do género, Stratogun não aposta numa narrativa complexa ou num universo rico em lore. O foco está totalmente na ação e na progressão arcade. Não há personagens a desenvolver, nem diálogos ou explicações elaboradas sobre o mundo em que decorre a ação. O jogador assume simplesmente o papel de um piloto solitário, numa missão de destruição de tudo o que se atravesse no caminho. Ainda assim, a estrutura dos níveis esféricos e a variedade de inimigos dão a entender que existe alguma lógica interna no mundo do jogo. Cada zona tem um chefe distinto, com padrões de ataque próprios, e os desafios aumentam de forma considerável à medida que se avança. A ausência de narrativa não é uma falha, mas sim uma escolha coerente com o tipo de experiência que Stratogun quer proporcionar — uma experiência arcade pura, sem distrações.

Grafismo

O estilo visual de Stratogun é um dos seus pontos mais fortes. O jogo adopta uma estética de grelha neon, com cores vibrantes que piscam e se sobrepõem num fundo escuro, criando um ambiente visualmente intenso e apelativo. Este estilo remete imediatamente para jogos como Geometry Wars, mas com uma apresentação mais limpa e adaptada à realidade virtual. O design dos inimigos e das explosões é eficaz, e os efeitos visuais das armas e power-ups são particularmente satisfatórios. A destruição de alvos gera partículas que se dispersam no espaço, aumentando a sensação de impacto. Quando jogado em VR, o efeito de partículas e luzes a surgirem à volta do jogador torna-se ainda mais imersivo, proporcionando uma sensação envolvente que acrescenta à experiência, mesmo que não a transforme por completo.

Apesar do caos visual inerente ao género, Stratogun consegue manter tudo legível e claro, o que é fundamental num jogo em que a leitura rápida da ação é essencial para sobreviver. A utilização da cor para indicar o estado de saúde da nave é uma solução inteligente, embora pudesse ser complementada com opções mais acessíveis para jogadores com dificuldades de perceção visual.

Som

O ambiente sonoro de Stratogun acompanha perfeitamente a ação intensa do jogo. A banda sonora é composta por faixas eletrónicas energéticas, com batidas rápidas que ajudam a criar tensão e urgência durante as batalhas. É um estilo musical que encaixa bem no género e mantém o jogador focado, funcionando como motor adicional para a adrenalina. Os efeitos sonoros são igualmente competentes. Os disparos da nave, as explosões e os alertas de dano transmitem bem o impacto das ações e ajudam a criar uma sensação de presença, especialmente em realidade virtual. Embora não exista grande variedade nos sons de fundo ou nos ambientes, a consistência e a clareza dos efeitos mantêm a experiência coesa e eficaz. Não há vozes nem narrativas sonoras, o que está em linha com a ausência de uma história elaborada. Tudo é funcional e ao serviço da jogabilidade. O som não tenta roubar protagonismo, mas antes reforçar a ação frenética que acontece no ecrã.

Conclusão

Stratogun é uma carta de amor aos clássicos dos arcades, embrulhada numa apresentação moderna e polida. Com uma jogabilidade acessível, mas desafiante, e uma estética visual forte, o jogo tem tudo para agradar aos fãs de shoot ‘em ups que procuram uma experiência pura e sem rodeios. O suporte para realidade virtual é um bónus interessante, mesmo que não essencial, e oferece uma forma alternativa de desfrutar do jogo com mais imersão. A ausência de upgrades permanentes e de narrativa aprofundada pode afastar alguns jogadores habituados a experiências mais modernas e complexas, mas para quem aprecia o estilo arcade clássico, esses elementos não farão falta. A curva de dificuldade acentuada, aliada à presença de tabelas de pontuação online, incentiva à repetição e à melhoria constante, criando aquele ciclo viciante de tentar mais uma vez. Ainda que não revolucione o género, Stratogun mostra-se competente e apaixonado naquilo que pretende oferecer. É uma experiência focada, intensa e divertida, perfeita para sessões curtas mas memoráveis. Se gostas de ação rápida, desafios exigentes e visuais retro-futuristas, Stratogun merece definitivamente a tua atenção.

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