Análise: The Voidness – Lidar Horror Survival Game

Steelkrill, criador independente responsável por The Backrooms 1998, regressa com um novo projeto de terror na primeira pessoa: The Voidness. Depois de nos deixar inquietos com o ambiente opressivo do seu jogo anterior, o desenvolvedor dá agora um passo em frente ao mergulhar no horror psicológico com um toque de ficção científica. The Voidness é mais do que um jogo assustador. É uma experiência sensorial, onde o desconhecido se revela lentamente à medida que o jogador tenta dar sentido a um mundo envolto em escuridão. O título encontra-se em acesso antecipado, mas apresenta já uma estrutura sólida e uma visão clara daquilo que pretende ser. A principal inovação reside na utilização de uma mecânica inspirada na tecnologia LIDAR, que obriga o jogador a explorar ativamente um ambiente invisível, revelando-o pouco a pouco com um dispositivo de digitalização. Esta abordagem confere ao jogo um ritmo único e uma sensação de constante descoberta que se alia muito bem ao tom opressivo da narrativa.

Jogabilidade

The Voidness oferece uma jogabilidade centrada na exploração cuidadosa e na gestão da tensão. O dispositivo LIDAR é a nossa principal ferramenta, e a sua utilização está no centro de tudo o que fazemos. Através dele, projetamos partículas que revelam aos poucos o cenário à nossa volta, construindo visualmente o ambiente em tempo real. Este método obriga o jogador a estar constantemente atento, apontando em todas as direções, o que contribui para o sentimento de vulnerabilidade e solidão. A mecânica de varrimento tem um alcance limitado, e é possível fazer melhorias ao dispositivo para alargar o feixe ou direcioná-lo com mais precisão. Esta progressão permite adaptar a exploração às necessidades de cada momento, exigindo decisões estratégicas quanto à visibilidade e ao nível de risco. Os ambientes são monocromáticos e labirínticos, o que torna fácil perder o rumo se não prestarmos atenção às referências visuais.

A jogabilidade é enriquecida por um sistema de cores que indica diferentes tipos de interações. Verde representa segurança e objetos interativos, como portas, terminais e itens essenciais. Vermelho indica perigo, monstros e pistas como pegadas e manchas que nos ajudam a seguir o caminho certo. Por fim, o laranja está associado a elementos ruidosos do cenário, como água ou destroços, que podem atrair inimigos. A combinação destas mecânicas dá origem a uma experiência intensa e constantemente imprevisível.

Mundo e história

A narrativa de The Voidness transporta-nos para uma missão espacial de investigação. Francesca Lee, juntamente com uma equipa de oito especialistas da NSAS, aterra num planeta desconhecido chamado Tenebris. Este novo mundo está mergulhado numa escuridão absoluta, uma anomalia que parece ligar-se a outra dimensão, ainda incompreendida pela ciência. O vazio não é apenas uma condição física, mas uma ameaça ativa, e depressa percebemos que não estamos sozinhos. A história divide-se entre duas realidades: o mundo real, onde ocorrem os momentos mais narrativos, e o mundo sombrio, onde se desenrola a maior parte da jogabilidade. Esta dualidade é interessante, mas também cria alguns desafios técnicos, como abordaremos mais à frente. A ligação entre os dois mundos alimenta a sensação de paranóia e reforça o tom psicológico do jogo. À medida que avançamos, vamos descobrindo fragmentos de informação sobre o que está a acontecer em Tenebris e qual o papel da nossa protagonista. Embora a narrativa não seja o foco principal, está bem integrada e oferece motivações suficientes para manter o jogador envolvido. Há também espaço para surpresas e mudanças de ritmo que tornam a exploração mais recompensadora.

Grafismo

Graficamente, The Voidness opta por uma apresentação estilizada e minimalista. O mundo é revelado através de partículas emitidas pelo scanner, criando um efeito visual único que faz lembrar experiências artísticas como Scanner Sombre. Este estilo contribui para a identidade do jogo e reforça a sensação de estar num lugar inóspito e alienígena. O uso do LIDAR como elemento visual principal transforma o ato de ver num processo ativo, o que é raro nos videojogos. Em vez de sermos espectadores passivos, somos nós que construímos o ambiente à nossa volta, iluminando-o pouco a pouco com a nossa curiosidade. Este efeito cria momentos impressionantes, sobretudo quando um espaço se revela de forma inesperada ou quando algo se move nas sombras que acabámos de desvendar. Apesar do estilo visual funcionar bem no geral, existem problemas técnicos que afectam a experiência, especialmente na segunda metade do jogo. Quebras de framerate e falhas ocasionais no funcionamento do scanner comprometem a imersão em momentos cruciais. Espera-se que estes problemas sejam resolvidos com futuras atualizações.

Som

O design sonoro de The Voidness é um dos seus maiores trunfos. O jogo faz uso do silêncio de forma inteligente, criando um ambiente de constante tensão. Os poucos sons que ouvimos – o eco dos nossos passos, o zumbido do scanner, os ruídos distantes no escuro – têm um peso emocional significativo. A ausência de música tradicional é compensada por efeitos ambientais e sons subtis que acentuam a solidão da protagonista. Um detalhe particularmente eficaz é a utilização do microfone do jogador como mecânica de jogabilidade. Tal como em The Backrooms 1998, os inimigos conseguem ouvir sons reais, obrigando o jogador a manter o silêncio absoluto ou a manipular o ambiente para enganar as criaturas. Esta ligação entre o mundo do jogo e o real cria momentos de verdadeiro pânico e aumenta o envolvimento do jogador. A ambientação sonora é complementada por sons direcionalizados, que ajudam a localizar perigos ou a perceber a aproximação de ameaças invisíveis. O som, em The Voidness, é tanto uma ferramenta como um inimigo.

Conclusão

The Voidness é uma proposta inovadora dentro do género de terror psicológico, que aposta na exploração sensorial e na descoberta gradual do desconhecido. A utilização da mecânica de LIDAR não é apenas um truque visual, mas uma base sólida para toda a experiência de jogo. A tensão, a atmosfera e a constante incerteza criam um jogo que consegue realmente inquietar. Ainda que o jogo sofra de alguns problemas técnicos, nomeadamente nas secções mais exigentes do mundo real, o seu potencial é evidente. A estrutura já implementada é coesa e interessante, e com algumas melhorias de desempenho, poderá tornar-se numa das experiências de terror mais marcantes do ano. Steelkrill demonstra mais uma vez que sabe trabalhar o medo e criar universos envolventes com poucos recursos. The Voidness não é um jogo para todos, mas para quem procura algo fora do comum e com uma forte componente imersiva, é uma recomendação clara. Um passo em frente para o criador, e uma viagem ao desconhecido que merece ser explorada.

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