Análise: Wild Hearts S

A Capcom criou praticamente um novo género com a sua série Monster Hunter, e desde então várias tentativas surgiram para replicar a fórmula, como Dauntless ou God Eater. No entanto, nenhuma conseguiu alcançar a mesma magia. Em 2023, a Koei Tecmo, através da sua equipa Omega Force, mais conhecida por Dynasty Warriors, lançou Wild Hearts como uma alternativa direta, mas apesar de críticas positivas nunca chegou a afirmar-se totalmente. Agora, com o lançamento da Nintendo Switch 2, a produtora decidiu revisitar a experiência com Wild Hearts S, uma versão ajustada e adaptada ao novo hardware que pretende preencher o vazio de um título de caça a monstros no arranque da consola.

Embora não traga a revolução que alguns poderiam esperar, Wild Hearts S mantém-se como uma experiência divertida e envolvente, sobretudo para quem nunca experimentou o original. O jogo aposta em mecânicas familiares, adiciona algumas particularidades próprias e oferece uma boa dose de desafio e recompensa para quem se deixa prender pelo ciclo de caça e progressão.

Jogabilidade

A jogabilidade de Wild Hearts S segue de muito perto a fórmula popularizada por Monster Hunter. O objetivo principal é enfrentar os enormes Kemono, criaturas inspiradas na natureza que ameaçam as aldeias e o equilíbrio do mundo. Existem mais de 20 espécies de Kemono, distribuídas por quatro biomas distintos, cada um com a sua temática sazonal. Cada monstro apresenta ataques elementais e padrões de combate que obrigam o jogador a estudar os seus movimentos antes de encontrar a melhor oportunidade para atacar.

As primeiras batalhas tendem a ser frustrantes, com golpes devastadores que facilmente colocam o caçador no chão. No entanto, a repetição e a atenção aos padrões de ataque tornam-se recompensadoras, permitindo compreender quando atacar e quando recuar. A vitória sobre um Kemono resulta na obtenção de materiais únicos que podem ser usados para criar ou melhorar armas e armaduras. Este ciclo de combate, derrota, progressão e repetição é viciante e cria um forte incentivo para continuar a jogar.

Tal como em Monster Hunter, a progressão em Wild Hearts S combina evolução do jogador com melhorias de equipamento. À medida que se ganha prática e se domina os monstros, a sensação de crescimento pessoal soma-se ao aumento de estatísticas proporcionado pelas armas e armaduras criadas. Além disso, os materiais obtidos têm uma componente aleatória, o que estimula o clássico “só mais uma caçada” até conseguir o item necessário para a próxima melhoria.

O grande diferencial de Wild Hearts é o sistema Karakuri, uma mecânica que permite invocar construções no campo de batalha. Estas vão desde caixas para bloquear investidas, molas que impulsionam o caçador, até névoas curativas que restauram vida em área. Este sistema acrescenta variedade às batalhas e permite que cada jogador personalize a sua abordagem, já que diferentes pessoas podem privilegiar construções distintas. O desbloqueio contínuo de novos Karakuri através de uma árvore de habilidades garante também uma progressão adicional para além das armas e armaduras.

Outro ponto forte é a variedade de armas. Desde opções tradicionais como a katana ou o arco até escolhas mais excêntricas como o Wagasa, um guarda-chuva com lâminas que permite aparar ataques, cada arma altera profundamente o estilo de combate. Experimentar diferentes tipos abre espaço para estratégias únicas e dá longevidade à jogabilidade, evitando a monotonia de repetir caçadas semelhantes.

Mundo e história

A narrativa de Wild Hearts S coloca-nos na pele de um caçador itinerante que chega à terra de Azuma em busca de trabalho e de propósito, após ver a procura pelos seus serviços desaparecer noutras regiões. O mundo está ameaçado pelos Kemono, monstros de proporções colossais que perturbam o equilíbrio natural e ameaçam as comunidades humanas.

O protagonista ganha um novo poder após ser derrotado por um Deathstalker, um lobo gigantesco de gelo. Uma figura misteriosa concede-lhe o uso do Karakuri, energia espiritual capaz de dar forma a construções úteis. A partir daí, a aventura leva-o até Minato, uma cidade que serve como base central e que precisa desesperadamente de ajuda para lidar com a ameaça crescente dos Kemono.

Embora a história não seja particularmente complexa, consegue manter o jogador minimamente investido, oferecendo motivações claras e uma ligação ao mundo. A presença da cidade de Minato e das suas personagens dá alguma identidade ao jogo, ainda que este se foque mais na ação do que na narrativa. A ambientação japonesa inspira-se fortemente no período feudal, com elementos de fantasia naturalista, resultando num cenário que serve de pano de fundo eficaz às batalhas épicas.

Grafismo

Graficamente, Wild Hearts S deixa uma impressão mista. É verdade que o facto de estar disponível na Switch 2 permite agora jogá-lo em modo portátil, o que representa uma conveniência assinalável. No entanto, a performance continua a ser problemática. A versão original já apresentava instabilidades e essa herança foi transportada para esta edição.

As quedas de framerate são frequentes, prejudicando a fluidez da ação, sobretudo em momentos mais intensos contra os monstros maiores. A resolução tende a parecer algo desfocada e as texturas carecem de detalhe, criando um contraste com a ambição visual do design dos Kemono e dos cenários. Não é um desastre técnico, mas há momentos em que as falhas visuais quebram a imersão.

Ainda assim, o design artístico compensa algumas limitações técnicas. Os Kemono são visualmente impressionantes, misturando elementos animais com características inspiradas na natureza, como rochas, flores ou gelo. Os biomas sazonais acrescentam variedade, indo de florestas primaveris a paisagens cobertas de neve. Apesar das limitações técnicas, a direção artística garante que o jogo mantém uma identidade forte e memorável.

Som

O som desempenha um papel fundamental na experiência de Wild Hearts S. A música utiliza composições épicas com forte inspiração japonesa, combinando instrumentos tradicionais com arranjos orquestrais. Cada batalha contra os Kemono ganha intensidade através da banda sonora, que acompanha a escalada de tensão e recompensa a vitória com temas triunfantes.

Os efeitos sonoros são igualmente eficazes. O rugido dos Kemono, o impacto das armas e o som ambiente das áreas de caça contribuem para criar uma atmosfera envolvente. Os próprios Karakuri ganham identidade sonora própria, ajudando o jogador a reconhecer rapidamente quando uma construção está ativa.

No que toca às vozes, estas cumprem o essencial, ainda que não se destaquem de forma significativa. O destaque vai sobretudo para a música e para a qualidade do design de som nas batalhas, que aumenta a sensação de grandeza e perigo.

Conclusão

Wild Hearts S é uma boa adição ao catálogo inicial da Nintendo Switch 2, mas fica aquém do potencial que poderia ter atingido. O ciclo de caça e progressão mantém-se viciante e recompensador, o sistema Karakuri diferencia-o da concorrência e a variedade de armas garante muitas horas de experimentação e personalização. A possibilidade de jogar em cooperação com até quatro jogadores reforça ainda mais o apelo para sessões prolongadas.

Contudo, as limitações técnicas prejudicam a experiência, com quedas de framerate e visuais abaixo do esperado para o hardware. Além disso, a ausência de conteúdo adicional relevante em relação à versão original torna-o menos apelativo para quem já o jogou noutras plataformas.

Para novos jogadores, Wild Hearts S continua a ser uma excelente porta de entrada no género de caça a monstros, oferecendo uma alternativa sólida à série da Capcom. Para veteranos, é uma oportunidade de revisitar o jogo em formato portátil, mas talvez valha a pena esperar por uma promoção. No balanço final, Wild Hearts S não é espetacular, mas é satisfatório e garante muitas horas de diversão a quem se deixar prender pelo ciclo viciante de caçar, derrotar e evoluir.

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