Zombie Cure Lab é uma proposta refrescante e original dentro do género dos city-builders. Em vez de nos colocarem a lutar contra hordas de mortos-vivos, os desenvolvedores da Thera Bytes optaram por uma abordagem inesperada: curá-los. Lançado em Acesso Antecipado em dezembro de 2022, este título distingue-se pela sua combinação de simulação de colónia, construção de cidade e gestão de recursos com uma camada humorística e irónica que o torna encantador. Publicado pela Aerosoft, Zombie Cure Lab está disponível apenas para PC e promete agradar a quem aprecia jogos como Timberborn, Oxygen Not Included ou Two Point Hospital. Nesta análise vamos explorar como esta mistura invulgar de elementos se traduz numa experiência cativante, mesmo que com algumas arestas por limar.
Jogabilidade
Zombie Cure Lab é, antes de mais, um jogo de gestão e planeamento. A jogabilidade baseia-se na construção e desenvolvimento de um laboratório numa zona infestada por zombies. Desde o início, o jogador é desafiado a planear bem o posicionamento das estruturas iniciais: zonas de armazenamento, postos de transporte e recolha de recursos. A localização é crucial, pois é necessário encontrar um local defensável e rico em materiais. Felizmente, o jogo oferece uma pequena ajuda inicial com uma base cercada por vedações, garantindo alguma segurança na primeira noite. Ao contrário da maioria dos jogos do género, aqui não temos cidadãos genéricos ou trabalhadores especializados. Todos os nossos operacionais são cientistas – vindos do Canadá, curiosamente –, responsáveis tanto pelas tarefas científicas como pela recolha de recursos e construção. Para manter estes cientistas produtivos, é essencial satisfazer as suas necessidades básicas através da construção de cozinhas, dormitórios e, claro, laboratórios.
O ciclo de jogo revolve em torno da recolha de recursos (como madeira, metal, pedra, comida e frutos especiais), gestão dos mesmos e investigação científica. Estes pontos de ciência permitem desbloquear novas tecnologias, o que por sua vez abre acesso a estruturas mais complexas e sistemas mais eficientes. A mecânica central, no entanto, gira em torno da captura e cura de zombies, que ocorre maioritariamente durante a noite. Os cientistas podem operar torres que congelam os zombies em vez de os destruir, permitindo posteriormente o seu transporte para o laboratório. Uma vez capturados, os zombies passam por várias fases de cura. A primeira transformação resulta em “Humbies” – híbridos entre humano e zombie que podem realizar tarefas básicas ou ser enviados de volta à base principal para continuar o processo de cura. Este sistema de progressão e utilização dos Humbies como força de trabalho secundária é um dos aspectos mais interessantes da jogabilidade, conferindo uma sensação de evolução contínua.

Mundo e história
O universo de Zombie Cure Lab é simultaneamente familiar e peculiar. A história assenta na premissa clássica de um apocalipse zombie, mas dá-lhe uma reviravolta positiva e quase satírica: em vez de destruir, o nosso objectivo é salvar. Embora não exista uma narrativa tradicional com diálogos ou desenvolvimento de personagens, o conceito em si já é suficientemente forte para sustentar o interesse. O facto de estarmos a tentar restaurar a humanidade a estas criaturas infectadas dá um toque de esperança num cenário normalmente dominado pelo desespero. Ao mesmo tempo, a escolha estética e a leveza do tom impedem o jogo de se tornar demasiado sombrio. Esta abordagem alternativa ao apocalipse zombie acaba por conferir-lhe personalidade própria, tornando-o memorável mesmo num mar de jogos sobre mortos-vivos. Apesar disso, seria interessante ver uma maior expansão do lore ou alguns elementos narrativos mais marcantes ao longo da progressão. Algo que aprofundasse a origem do vírus ou explicasse melhor o papel da nossa organização traria uma camada adicional de envolvimento. Ainda assim, o foco permanece firmemente na jogabilidade e na gestão, com a história a servir como pano de fundo funcional.
Grafismo
Visualmente, Zombie Cure Lab apresenta um estilo colorido e algo caricatural que ajuda a suavizar o tom do jogo. Os modelos das personagens, tanto cientistas como zombies, têm um design cartunesco e divertido, o que contribui para o charme geral do jogo. A escolha de cores vibrantes e a iluminação clara tornam o ambiente apelativo e acessível, mesmo durante os segmentos nocturnos. No entanto, nem tudo é positivo. O menu de construção peca por um uso excessivo de cores brilhantes que, em algumas situações, dificulta a leitura dos pontos de entrada e ligação das estruturas. Esta escolha estética pode levantar problemas de acessibilidade, especialmente para jogadores com daltonismo. Seria benéfico incluir opções para personalização de cores ou, pelo menos, ajustes de brilho e contraste. Em termos de animações, o jogo faz um trabalho competente, com detalhes simpáticos nos movimentos dos zombies e nos processos de cura. As transformações visuais dos Humbies ao longo das fases são visíveis e bem conseguidas, o que reforça a sensação de progresso. Ainda assim, o jogo não impressiona tecnicamente. Trata-se de uma apresentação funcional e coerente com o tom leve da proposta, mas que não arrisca ou surpreende.

Som
O som em Zombie Cure Lab cumpre o seu papel sem grandes destaques. Não há vozes ou diálogos audíveis, o que é uma pena, considerando que os cientistas são descritos como canadenses – teria sido engraçado ouvir alguns comentários com sotaque. A ausência de voice acting retira alguma vida às personagens e torna a base um pouco silenciosa, especialmente durante os momentos mais calmos. A música de fundo é agradável e adequada ao ambiente. As faixas alternam entre tons leves e um pouco mais tensos consoante o ciclo dia/noite, criando uma boa atmosfera sem nunca se tornar intrusiva. Os efeitos sonoros são eficazes, com destaque para os sons associados aos zombies, ao gelo e aos sistemas de defesa, que reforçam a acção e ajudam na imersão. Apesar disso, nota-se alguma repetição nos efeitos sonoros e falta de variedade nas músicas. Uma banda sonora mais rica ou a inclusão de efeitos mais distintos para diferentes estruturas poderia elevar a experiência sonora. Ainda assim, tendo em conta o estado de Acesso Antecipado, é possível que o jogo receba melhorias neste campo.
Conclusão
Zombie Cure Lab é um título promissor e com um conceito refrescante dentro do género de city-builder. A ideia de curar zombies em vez de os destruir oferece uma abordagem original e bem-humorada, apoiada por mecânicas sólidas de gestão e progressão tecnológica. A jogabilidade é desafiante e recompensadora, mesmo que por vezes se torne algo repetitiva devido ao ritmo de recolha de recursos e ao excesso de requisitos para certos upgrades. A estética cartunesca e o tom leve ajudam o jogo a destacar-se, apesar de alguns problemas visuais e de interface que carecem de afinação. A ausência de vozes e uma banda sonora limitada não estragam a experiência, mas deixam margem para melhorias. A boa notícia é que o plano de desenvolvimento do Acesso Antecipado aponta para uma evolução contínua, com novas funcionalidades e ajustes baseados no feedback da comunidade. Zombie Cure Lab é recomendado para quem gosta de jogos de simulação com uma boa dose de criatividade e originalidade. Se és fã de títulos como Two Point Hospital, Timberborn ou Oxygen Not Included, vais certamente encontrar aqui uma experiência diferente mas igualmente viciante. Com mais algum polimento, poderá tornar-se uma referência no género. Neste momento, é já um dos city-builders mais originais dos últimos anos.