Análise: Abyssus

À primeira vista, Abyssus pode fazer lembrar BioShock, principalmente pela sua estética retro-futurista e pelo mundo subaquático que apresenta. No entanto, rapidamente se percebe que este jogo tem a sua própria identidade e uma abordagem distinta. Desenvolvido pela DoubleMoose Games e publicado pela The Arcade Crew, Abyssus é um roguelite em primeira pessoa que combina elementos de exploração, combate frenético e progressão constante, colocando os jogadores nas profundezas de um templo misterioso escondido no fundo do mar.

No jogo, assumimos o papel de um membro de uma segunda expedição enviada para investigar os eventos que levaram ao desaparecimento de uma equipa anterior. Até quatro jogadores podem juntar-se nesta aventura cooperativa, explorando ruínas antigas, enfrentando inimigos bizarros e tentando desvendar os segredos que se escondem nas profundezas. A ação centra-se essencialmente no combate, mas existe uma forte componente de progressão e personalização, o que incentiva o jogador a regressar para mais uma tentativa sempre que falha.

Abyssus procura misturar influências de vários géneros e jogos conhecidos, oferecendo uma experiência que se torna mais cativante à medida que avançamos, sobretudo quando jogado em grupo. Embora a comparação com títulos consagrados seja inevitável, este jogo consegue criar uma experiência divertida e com bastante potencial.

Jogabilidade

A jogabilidade de Abyssus é rápida, intensa e baseada em combates curtos mas perigosos. O objetivo principal é sobreviver a cada incursão, derrotando inimigos e completando missões em áreas interligadas, até alcançar os desafios mais difíceis no fundo do templo. Cada run oferece recompensas que podem ser usadas para desbloquear novas armas, habilidades e melhorias permanentes para o personagem.

As armas são o grande destaque da jogabilidade. Cada uma possui disparos primários e secundários, oferecendo diferentes formas de abordagem aos combates. Por exemplo, a espingarda de caçadeira não só tem um disparo normal poderoso como também um disparo secundário devastador que pode empurrar o jogador para trás, permitindo reposicionamento em pleno combate. Este sistema torna o tiroteio dinâmico e lembra a fluidez de jogos como Doom, onde a movimentação e o ataque se fundem num ritmo contínuo.

Existe ainda uma terceira habilidade, que inicialmente são granadas regeneráveis, mas que pode ser substituída por outras opções desbloqueáveis. Algumas destas habilidades têm um impacto significativo na estratégia, como os tentáculos etéreos que emergem do chão ou os ataques de corrente elétrica que atingem múltiplos inimigos.

Apesar da variedade, o sistema de desbloqueio de armas e habilidades demora algum tempo a ganhar ritmo. As primeiras horas podem parecer lentas, com opções limitadas, mas à medida que o jogador avança começa a sentir a progressão e a possibilidade de criar combinações mais complexas e eficazes.

Mundo e história

Abyssus apresenta um mundo fascinante e envolvente, situado num templo submerso repleto de mistério. A narrativa acompanha a segunda expedição enviada para explorar esta estrutura, tentando descobrir o que aconteceu à equipa anterior e os segredos que se escondem no fundo do mar.

A base de operações serve como ponto central, localizada numa gruta rodeada de destroços de navios e submarinos. É aqui que o jogador prepara a próxima incursão, equipa novas armas e coordena a equipa antes de descer para as profundezas através de uma enorme campânula de mergulho.

Cada run leva os jogadores a explorar salas interligadas, com objetivos que variam entre eliminar inimigos, proteger zonas ou destruir torres. Embora as salas em si sejam estáticas, a sua ordem muda a cada tentativa, garantindo alguma variedade. Existem 64 salas diferentes, o que ajuda a manter o jogo fresco durante algum tempo, mesmo que a exploração seja bastante linear e com pouca liberdade.

A narrativa é contada de forma ambiental, através da própria arquitetura e dos detalhes espalhados pelos cenários. Há uma sensação constante de mistério e perigo, reforçada pela presença de inimigos estranhos, como criaturas anfíbias e autómatos flutuantes. No entanto, a história não se desenvolve de forma profunda, funcionando mais como pano de fundo para a ação.

Grafismo

Visualmente, Abyssus impressiona pelo seu mundo subaquático rico em detalhes e pela estética retro-futurista inspirada em mitos de Cthulhu e na atmosfera de BioShock. As áreas são visualmente apelativas, cheias de elementos intrigantes que despertam a curiosidade do jogador.

Os inimigos têm um design variado e criativo, com diferentes habilidades e comportamentos que obrigam a adaptar a estratégia durante os combates. No entanto, existem alguns problemas técnicos, como paredes invisíveis e pontos de aparecimento mal posicionados, que podem quebrar a imersão.

Apesar destes problemas, a direção artística mantém-se forte e ajuda a criar uma atmosfera única, onde o mistério e a sensação de perigo constante são sempre palpáveis. O jogo consegue transmitir a sensação de estar num ambiente hostil e desconhecido, onde cada passo em falso pode ser fatal.

Som

A componente sonora de Abyssus desempenha um papel fundamental na imersão. Os efeitos sonoros das armas são satisfatórios e bem trabalhados, especialmente no caso de armas como a espingarda, que transmite uma sensação de poder a cada disparo.

A música é discreta, reforçando a atmosfera sem se sobrepor à ação. Durante os combates mais intensos, as composições aceleram, criando um ambiente tenso e entusiasmante. Já nos momentos de exploração, a banda sonora assume tons mais calmos, ajudando a construir a sensação de mistério.

Os sons ambientes, como o eco distante de criaturas ou o ranger das estruturas metálicas submersas, contribuem para a sensação de estar num local perigoso e desconhecido. Estes detalhes sonoros reforçam a imersão e tornam a experiência mais envolvente.

Conclusão

Abyssus é um roguelite em primeira pessoa que consegue destacar-se graças à sua atmosfera única, ao combate intenso e à possibilidade de jogar em cooperação com amigos. Embora tenha algumas falhas, como a progressão inicial lenta e pequenos problemas técnicos, o jogo oferece uma experiência divertida e envolvente, especialmente em grupo.

O seu mundo subaquático, aliado a uma estética marcante e a inimigos variados, cria um cenário fascinante para explorar. A jogabilidade brilha principalmente nos momentos de combate, com armas variadas e habilidades especiais que incentivam diferentes abordagens estratégicas.

Apesar de não revolucionar o género, Abyssus consegue entregar uma experiência sólida que recompensa a persistência do jogador. Com mais algum polimento e ajustes na progressão, tem potencial para se tornar um título de referência dentro dos shooters roguelite cooperativos. Para quem procura uma aventura intensa e cheia de ação nas profundezas do oceano, Abyssus é uma aposta segura.

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