Análise: Backrooms Level X

Backrooms Level X é mais uma incursão no fascinante e perturbador universo dos Backrooms, esse subgénero emergente que mistura horror psicológico, exploração e a estética dos espaços liminares. Desenvolvido de forma independente, o jogo transporta-nos para um mundo onde a lógica desapareceu e a realidade foi distorcida ao ponto da alienação total. A premissa é simples: após um acidente estranho em Albuquerque, Novo México, em 1986, uma cassete VHS regista os eventos que levam o jogador a ficar preso neste pesadelo labiríntico. É a partir daqui que começa uma experiência envolvente, desconfortável e repleta de tensão. Com uma forte aposta na atmosfera e no design ambiental, Backrooms Level X tenta destacar-se dentro de um género saturado, mas nem sempre o faz com sucesso.

Jogabilidade

A base da jogabilidade em Backrooms Level X assenta na exploração em primeira pessoa de ambientes repetitivos, claustrofóbicos e inquietantes. O jogador deambula por corredores infinitos, salas desertas e zonas mal iluminadas, enquanto tenta encontrar saídas e sobreviver a ameaças desconhecidas. Cada nível apresenta um novo desafio, sendo necessário resolver pequenos puzzles ou ultrapassar obstáculos ambientais para progredir. A presença de inimigos misteriosos, que surgem muitas vezes sem aviso, adiciona uma camada de tensão constante. Contudo, existem falhas significativas que prejudicam a experiência, a começar por um bug que impede o jogador de se mover, obrigando a libertar e voltar a pressionar a tecla de avanço. Este problema, por si só, compromete momentos cruciais em que a fuga é essencial. Além disso, o campo de visão é extremamente reduzido, criando uma sensação desconfortável que, embora possa ter sido pensada como parte da imersão, acaba por tornar os controlos artificiais e antiquados. Outro ponto negativo é o design de certos segmentos, como a área que sucede às piscinas, onde a saída surge de forma aleatória. Esta aleatoriedade parece mais um artifício barato para alongar artificialmente a duração do jogo do que uma mecânica bem pensada.

Mundo e história

A narrativa de Backrooms Level X é minimalista e deliberadamente ambígua. O acidente de 1986 é pouco mais que um ponto de partida simbólico, com a gravação em VHS a funcionar como metáfora de uma realidade fragmentada e em decomposição. O jogo não oferece explicações ou diálogos — tudo é transmitido através da atmosfera, dos sons, dos espaços vazios e dos detalhes subtis. A experiência desenrola-se num universo sem lógica, onde o jogador deve aceitar a ausência de narrativa tradicional e submeter-se à sensação constante de desorientação. Os diferentes níveis introduzem ambientes com temas próprios, como escritórios abandonados, corredores húmidos ou piscinas vazias, todos marcados por um sentimento de isolamento e estranheza. As entidades que habitam os Backrooms não têm rosto, nome ou explicação. Existem apenas como ameaças latentes, símbolos de um mundo onde nada faz sentido. Para os apreciadores de horror ambiental e narrativas fragmentadas, esta abordagem pode ser extremamente eficaz. Para outros, poderá parecer simplesmente vago ou incompleto.

Grafismo

Visualmente, Backrooms Level X aposta tudo numa estética VHS retro, que remete imediatamente para os anos 80 e 90. O filtro constante de distorção de imagem dá ao jogo um aspeto desgastado e analógico, muito em linha com o conceito de espaços liminares e memórias distorcidas. No entanto, este efeito é excessivamente agressivo nos primeiros minutos, podendo causar desconforto visual significativo, como olhos a lacrimejar ou dor de cabeça. Não existe, infelizmente, uma opção para reduzir ou desligar este filtro, o que limita a acessibilidade e poderá afastar alguns jogadores. Outro problema evidente é o uso de sombras em locais onde não fazem sentido, como áreas totalmente iluminadas. Este tipo de escolhas estilísticas pode ser interpretado como tentativa de criar um visual surreal, mas na prática fazem com que o jogo pareça inacabado ou mal otimizado. O detalhe dos ambientes é aceitável, mas nada impressionante. O campo de visão estreito prejudica ainda mais a perceção espacial e contribui para uma sensação constante de rigidez. Apesar de alguns momentos visualmente impactantes, o grafismo carece de polimento e equilíbrio entre estilo e funcionalidade.

Som

O som é, de longe, o aspeto mais bem conseguido de Backrooms Level X. Em vez de recorrer a uma banda sonora tradicional, o jogo utiliza ruídos ambientes e sons ambientais para criar uma tensão contínua. O zumbido das luzes fluorescentes, o eco dos passos em corredores vazios, os estalidos repentinos e os murmúrios distantes constroem uma paisagem sonora opressiva e envolvente. Esta abordagem contribui fortemente para o sentimento de desconforto e incerteza, reforçando a ideia de que estamos num lugar onde não deveríamos estar. Quando uma entidade se aproxima, os sons mudam subtilmente, criando uma antecipação eficaz sem recurso a sustos fáceis. Esta contenção é rara nos jogos de terror mais modernos, que muitas vezes abusam de efeitos sonoros para provocar reações imediatas. Aqui, o horror é mais psicológico, mais sugerido do que explícito. E é precisamente nessa sugestão que o jogo encontra o seu ponto forte. Se todo o resto tivesse o mesmo nível de cuidado que o som, estaríamos perante uma experiência de terror verdadeiramente memorável.

Conclusão

Backrooms Level X é uma obra curiosa e, por vezes, fascinante, mas também cheia de imperfeições. É uma experiência curta — cerca de uma hora e meia é suficiente para explorar todos os níveis e desbloquear a maioria das conquistas — e isso, aliado aos bugs e limitações técnicas, impede que o jogo vá além de uma curiosidade atmosférica. A estética VHS e o foco na ambientação liminar agradarão a um público muito específico, mas a ausência de opções para ajustar efeitos visuais e a fraca otimização gráfica podem afastar os restantes. Ainda assim, há mérito na tentativa. A visão do criador é clara, mesmo que a execução nem sempre esteja à altura. A atmosfera está bem conseguida, o som é excelente e o conceito, embora não novo, continua a ter um apelo inegável. Com mais tempo, ajustes técnicos e uma maior profundidade narrativa, este poderia ser um título de referência no seu nicho.

Neste momento, é uma experiência breve, intensa e algo desequilibrada, mas que merece atenção por parte dos fãs de terror psicológico e espaços liminares. Se és desses jogadores que gostam de sentir desconforto sem saber exatamente porquê, Backrooms Level X pode valer a pena — pelo menos enquanto esperas por algo mais polido.

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