O ano de 2025 está a ser um verdadeiro paraíso para os fãs de roguelikes com construção de baralhos, e “Become the Moon” junta-se ao pelotão da frente com uma proposta inesperadamente viciante. Desenvolvido pela Feldspar Games, este título distingue-se ao ir beber inspiração não tanto ao tradicional Slay the Spire, mas sim ao modo Battlegrounds de Hearthstone. Esta abordagem dá-lhe uma identidade única num mercado saturado, oferecendo combates automáticos baseados em estratégia e construção progressiva do baralho, onde a gestão do risco é tão importante como a sorte. Com uma jogabilidade envolvente, apresentação cativante e um ritmo viciante, Become the Moon é uma das melhores surpresas do ano no género.
Jogabilidade
Ao começar uma partida, o jogador escolhe um entre vários líderes disponíveis. Cada líder oferece uma vantagem distinta, como reservar um lugar extra para um lacaio, ganhar uma cópia adicional de cada relíquia obtida ou usar pontos de vida em vez de mana. Após esta escolha inicial, a partida começa sempre na academia, onde escolhemos uma relíquia inicial e começamos o processo de draft. As cartas dividem-se entre feitiços, lacaios e relíquias, e cada tipo tem impacto direto na nossa estratégia. O combate funciona como num auto-battler: os jogadores jogam as suas cartas com o mana disponível e, depois de pressionarem “fim do turno”, os lacaios entram em confronto automaticamente. A batalha decorre até que uma das equipas fique sem lacaios. Os sobreviventes da equipa vencedora causam um ponto de dano cada ao líder inimigo, e quando os lacaios desaparecem, são os próprios líderes que entram em combate, até que apenas um permaneça em pé. A gestão de recursos e o posicionamento tático tornam-se rapidamente fundamentais, sobretudo porque a quantidade de mana inicial é muito limitada e só com o tempo se começa a explorar o verdadeiro potencial estratégico do baralho.

Mundo e história
Become the Moon não aposta numa narrativa densa ou num mundo com lore extensivo. Em vez disso, apresenta um pano de fundo ligeiramente misterioso com uma progressão centrada na ascensão até ao confronto final sob a lua. A academia funciona como ponto de partida de cada jornada, e à medida que se avança, surgem desafios que testam o domínio das mecânicas e a capacidade de adaptação. Há uma atmosfera quase mitológica no design dos líderes e relíquias, mas a história está mais implícita do que diretamente contada. Este estilo funciona bem, já que o foco está totalmente no gameplay, mas pode deixar os fãs de histórias mais elaboradas a desejar por mais profundidade narrativa.
Grafismo
Visualmente, Become the Moon aposta num estilo artístico cartoonesco que, além de apelativo, contribui para uma sensação de aventura e fantasia. A inspiração em Hearthstone é evidente, principalmente no design da interface e das cartas, mas a Feldspar Games conseguiu criar uma identidade própria. Cada carta é facilmente distinguível, com cores vivas e ícones bem delineados, o que facilita bastante a leitura do que se passa no ecrã, mesmo nos momentos de maior ação. As animações de combate são simples mas eficazes, transmitindo a ação de forma clara e mantendo o foco na estratégia.

Som
A banda sonora de Become the Moon cumpre a sua função sem se destacar em demasia. É atmosférica, com tons ligeiros de mistério e aventura, ajudando a compor o ambiente sem se tornar repetitiva. Os efeitos sonoros, por outro lado, têm um papel mais marcante, com sons distintos para cada tipo de carta, ataque e efeito. Isto ajuda a criar feedback auditivo imediato sobre as nossas ações, algo essencial num jogo onde cada movimento pode ser decisivo. Não é uma banda sonora memorável, mas serve perfeitamente a experiência e contribui para o ritmo viciante dos combates.
Conclusão
Become the Moon é uma prova de que ainda há espaço para inovação dentro dos roguelikes de construção de baralho. Ao adotar mecânicas típicas de auto-battlers e ao estruturar a progressão como uma sequência de decisões estratégicas com elementos de azar controlado, o jogo consegue diferenciar-se e tornar-se altamente viciante. O sistema de evolução, onde cada vez que o baralho é reciclado o jogador sobe de nível e adiciona novas cartas, introduz um ciclo viciante de melhoria e experimentação. A variedade de líderes e a presença de um modo diário garantem longevidade, e a dificuldade, embora desafiante, nunca se sente injusta.
É evidente que Become the Moon foi feito com atenção ao detalhe, tanto no equilíbrio entre sorte e estratégia como na apresentação visual. A facilidade com que se recomeçam novas partidas, aliada a um ritmo rápido mas tático, cria uma experiência que pede sempre mais uma tentativa. Pode não ter o peso narrativo de outros títulos nem reinventar totalmente o género, mas o que faz, faz com imenso estilo e eficácia. Com uma jogabilidade bem afinada, visuais encantadores e uma estrutura que recompensa a experimentação e o domínio progressivo, Become the Moon posiciona-se como um dos grandes roguelikes do ano. Mesmo num mercado cheio de propostas de qualidade, este é um jogo que merece ser descoberto por qualquer fã do género.