Análise: Before Exit: Supermarket

Before Exit: Supermarket é um simulador de caminhada com mecânicas de repetição em loop, desenvolvido e publicado pela Take IT Studio!. Inspirado em jogos como Exit 8, Stairway 7 e Shinkansen 0, esta experiência coloca o jogador na pele de um funcionário de supermercado prestes a terminar o turno da noite. A premissa é simples, mas exigente: completar todas as tarefas atribuídas antes de sair do supermercado e evitar a temida presença do gerente à saída. Apesar de parecer um jogo calmo e quase meditativo, o ambiente torna-se rapidamente tenso à medida que os dias passam e as responsabilidades se acumulam. Testado em PC, Before Exit: Supermarket é uma proposta curiosa e eficaz para quem gosta de jogos baseados em observação e repetição.

Jogabilidade

A jogabilidade de Before Exit: Supermarket assenta num conjunto de tarefas diárias que o jogador deve cumprir antes de poder abandonar o local de trabalho. Estas incluem limpar casas de banho, deitar fora produtos danificados, esfregar o chão, desligar as luzes e mudar o letreiro de aberto para fechado. No entanto, nem todas as tarefas estão imediatamente visíveis: à medida que os dias passam, novas responsabilidades são introduzidas sem aviso prévio, como repor papel higiénico ou remover pão fresco. O jogo não apresenta qualquer tutorial, limitando-se a exibir uma lista genérica de afazeres logo no início. Isto pode causar alguma confusão inicial, mas também incentiva a aprendizagem por tentativa e erro.

Os controlos são bastante simples, utilizando o teclado para interagir com objetos e o rato para controlar a câmara. O cursor branco indica os itens com os quais se pode interagir, e alguns até apresentam a tecla correspondente para facilitar a ação. A tensão cresce quando o jogador se dirige à saída e se depara com o gerente à espera. Se algo ficou por fazer, é emitido um aviso e o dia reinicia. Após três avisos, o jogador é despedido e tem de começar do primeiro dia. Esta estrutura cria uma pressão constante e transforma tarefas aparentemente mundanas em momentos de grande nervosismo.

Mundo e história

O jogo não oferece uma narrativa tradicional, optando por uma abordagem mais subtil e atmosférica. A história é contada através da rotina do protagonista, que assume o papel de funcionário de limpeza num supermercado. Cada dia representa uma nova tentativa de cumprir o trabalho na íntegra, sob a constante vigilância de um gerente que raramente aparece — mas cuja presença é sempre temida. Esta sensação de estar constantemente sob avaliação é o motor emocional do jogo, criando uma experiência que mistura o quotidiano com elementos quase de horror psicológico.

Embora não haja diálogos ou desenvolvimento de personagens, a própria repetição das tarefas e a evolução do ambiente ao longo dos dias vão construindo uma sensação de progressão e urgência. As pequenas alterações no supermercado, a introdução inesperada de novas tarefas e os sustos ocasionais reforçam a ideia de que este não é apenas mais um dia de trabalho. A ameaça de falhar, mesmo depois de cumprir aparentemente tudo, dá ao jogo uma aura de mistério e imprevisibilidade que mantém o jogador alerta.

Grafismo

Visualmente, Before Exit: Supermarket apresenta um estilo semi-realista com um toque ligeiramente cartoonizado. O supermercado é bastante detalhado, com secções bem definidas e cheias de produtos variados como frutas, congelados e lacticínios. Os objetos com que se pode interagir, como os carrinhos de limpeza e os cestos de pão, têm um design funcional e claro. A estética não pretende impressionar com grandes efeitos visuais, mas consegue criar um ambiente crível e imersivo, adequado ao tipo de experiência que oferece. Apesar da simplicidade gráfica, há algo inquietante na forma como o jogo representa o supermercado. A luz fria e constante, a ausência de música e os corredores vazios transmitem uma sensação de vazio e monotonia, transformando um cenário banal num espaço quase opressivo. O gerente, com a sua presença inesperada e ameaçadora, é o único elemento que verdadeiramente quebra esta normalidade, funcionando quase como um jumpscare dentro de um simulador de tarefas.

Som

O trabalho sonoro de Before Exit: Supermarket é discreto mas eficaz. Não existe qualquer banda sonora, o que contribui para uma atmosfera de solidão e tensão. Os sons ambiente — como os passos do protagonista, o barulho das portas a fechar ou o som da descarga nas casas de banho — são realistas e ajudam a reforçar o ambiente de supermercado vazio. A ausência de música pode parecer estranha ao início, mas rapidamente se torna uma vantagem: deixa espaço para o jogador mergulhar nos próprios pensamentos, como se estivesse realmente a fazer um turno sozinho. Para alguns jogadores, esta ausência poderá ser um convite a pôr a sua própria música de fundo, o que pode alterar completamente a experiência, tornando-a mais relaxante ou mais intensa, dependendo da escolha. No entanto, o som mais memorável de todo o jogo será, sem dúvida, o momento em que o gerente aparece subitamente do lado oposto ao habitual, apanhando o jogador desprevenido e terminando o dia com um susto. Estes momentos são raros mas marcantes, quebrando a rotina de forma inesperada.

Conclusão

Before Exit: Supermarket é uma experiência peculiar que transforma o turno de fecho de um supermercado numa prova de atenção, memória e resistência psicológica. A sua simplicidade mecânica esconde uma complexidade crescente à medida que os dias passam e as tarefas se acumulam. O jogo obriga o jogador a manter um olhar atento a todos os detalhes, numa constante corrida contra a própria distração. Apesar da ausência de narrativa ou grande variedade visual, consegue criar uma tensão genuína com base na repetição e na ameaça constante de falhar.

É uma proposta ideal para sessões curtas, dada a sua natureza algo extenuante, mas perfeita para quem gosta de jogos de observação e loop com um toque de mistério. Falta-lhe talvez um sistema de contagem de tarefas ou algum tipo de ajuda visual, mas isso faz parte do desafio. No fim de contas, Before Exit: Supermarket é mais do que um simulador — é uma experiência de pressão silenciosa e vigilância permanente que, paradoxalmente, nos faz pensar duas vezes antes de sair do trabalho.

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