Frontiers Reach é uma ode retro-futurista aos jogos de combate aéreo e espacial, misturando elementos de simulação e arcade com uma forte componente narrativa. Criado por uma pequena equipa de desenvolvimento, este título transporta-nos para o ano 2230, quando a humanidade se vê prestes a mergulhar numa guerra interplanetária de proporções épicas. À semelhança de outras produções independentes do género, como Sky Rogue ou Project Wingman, Frontiers Reach tenta encontrar o seu próprio espaço ao apostar numa jogabilidade única, numa direcção artística inspirada e numa narrativa com ambição cinematográfica. Apesar de vários problemas técnicos e escolhas de interface discutíveis, o jogo demonstra um empenho palpável e uma visão criativa que o distingue da concorrência. Se procuras algo que fuja do molde habitual dos jogos de combate aéreo — especialmente daqueles demasiado inspirados em Ace Combat — Frontiers Reach apresenta-se como uma proposta que vale a pena explorar.
Jogabilidade
Frontiers Reach não é um shooter espacial tradicional. A sua jogabilidade mistura as leis da física com liberdade total de movimento num espaço tridimensional, forçando o jogador a repensar como se pilota uma nave. A inércia desempenha um papel fundamental, tornando cada curva e manobra num exercício de precisão e antecipação. Em vez de seguir uma linha reta como em muitos simuladores de voo, aqui é como guiar um carro com pneus de drift através do vácuo, o que exige alguma habituação. A curva de aprendizagem é acentuada. O tutorial inicial demora o seu tempo, e é necessário paciência para dominar os comandos — sobretudo se estiveres habituado a jogos com modelos de voo mais simplificados. A ausência de limites de velocidade como o stall permite uma liberdade total, mas requer controlo absoluto sobre o impulso e a orientação. Existem mais de 30 naves, cada uma com características únicas. A personalização é extensa: pintura, armas, módulos e componentes permitem adaptar o veículo à tua maneira de jogar. Contudo, nem tudo funciona bem. A falta de feedback nas armas torna difícil perceber se acertaste nos alvos, e a mira é tão pequena que em situações intensas a precisão desaparece.

Mundo e história
A história de Frontiers Reach decorre num universo ficcional que bebe influências claras da Guerra Fria e da estética retro-futurista do século XX. No ano 2230, a humanidade encontra-se dividida entre duas grandes facções: a Confederação Solar, envelhecida e corrupta, e a República da Fronteira, um poder emergente com ambições próprias. Incapazes de negociar a paz, as duas forças preparam-se para uma guerra que poderá destruir planetas inteiros.
No meio deste cenário, seguimos a Capitã Anya Zuban e o Primeiro Oficial Rhen Malavik, que preparam a sua nave, a Heliosiren, para escapar com um grupo de sobreviventes para regiões desconhecidas do espaço. Esta premissa dá o mote para mais de 30 missões principais e 15 secundárias, espalhadas por uma galáxia dinâmica com mais de 2000 variações possíveis de cenário. Apesar do enredo promissor, a narrativa peca por alguma falta de profundidade e desenvolvimento dos personagens. Ainda assim, o pano de fundo é suficientemente interessante para motivar o jogador a explorar o universo e a descobrir mais sobre os conflitos que assolam esta fronteira galáctica.
Grafismo
O grande trunfo visual de Frontiers Reach está na sua direcção artística. Inspirado por movimentos como o Atompunk, Cassette Futurism e a arte retro dos anos 50 e 60, o jogo apresenta um estilo marcante e distintivo. As naves, estações espaciais e planetas têm um charme vintage que remete para as capas de ficção científica pulp e para filmes clássicos do género. No entanto, essa estética única nem sempre é acompanhada por clareza visual. Os alvos terrestres são pequenos e difíceis de distinguir, especialmente em combate. A falta de tracers visíveis ou feedback visual torna muitas batalhas um exercício de adivinhação, onde o HUD se enche de marcadores pouco informativos. O dimensionamento dos elementos também contribui para a confusão, transformando bases inimigas em manchas indistintas no ecrã.
A interface sofre dos mesmos problemas. A tipografia amarela e os menus em estilo retro são visualmente coerentes com o mundo do jogo, mas pouco práticos. Informações importantes sobre armas ou naves são difíceis de encontrar, e seria útil poder comparar naves ou filtrar por funções de forma mais intuitiva.

Som
O som de Frontiers Reach acompanha bem o ambiente proposto, ainda que sem grande destaque técnico. As composições são atmosféricas e ajudam a reforçar a sensação de isolamento e tensão nas missões. Não há temas particularmente memoráveis, mas o trabalho sonoro é funcional. Onde o áudio falha de forma evidente é na ausência de feedback eficaz durante o combate. Os efeitos das armas são pouco impactantes, e torna-se difícil perceber se os disparos estão a surtir efeito. Faltam sons de impacto convincentes, explosões marcantes ou avisos sonoros úteis durante o voo. Esta ausência reduz a sensação de recompensa ao acertar nos alvos e prejudica o ritmo das batalhas.
Apesar disso, os sons das naves e dos motores estão bem conseguidos, transmitindo uma boa sensação de potência e massa. Com algumas melhorias no design sonoro das armas e efeitos visuais correspondentes, o sistema de combate poderia transformar-se num dos pontos fortes do jogo.
Conclusão
Frontiers Reach é um projeto ambicioso, com uma identidade visual forte, uma jogabilidade exigente e um universo narrativo promissor. Não é um jogo para todos. O modelo de voo baseado em física, a falta de indicadores visuais claros e os problemas técnicos frequentes — incluindo múltiplas falhas ao iniciar o jogo — tornam-no uma experiência frustrante para quem procura uma aventura polida. No entanto, é evidente o carinho e dedicação da equipa de desenvolvimento. Para um jogo indie, apresenta uma riqueza de conteúdo surpreendente: dezenas de missões, dezenas de naves e um sistema de guerra dinâmica com mais de duas mil variações possíveis. Com melhorias na interface, no feedback de combate e na estabilidade geral, Frontiers Reach pode vir a ocupar um lugar de destaque ao lado de outros títulos indie de culto no género. Neste momento, a melhor recomendação é manter o jogo na lista de desejos e acompanhar o seu desenvolvimento. Se és fã de combate espacial e gostas de desafios técnicos, a demo oferece um vislumbre promissor do que poderá ser uma grande aventura. É uma proposta com falhas, mas também com alma — e isso é algo cada vez mais raro.