Análise: Katanaut

Katanaut é o mais recente jogo da Voidmaw, um rogue-like de ação e exploração que mistura combate intenso com uma atmosfera grotesca e inquietante. Colocando-nos na pele de um samurai futurista preso numa estação espacial invadida por forças demoníacas, o jogo tenta combinar uma jogabilidade rápida e viciante com elementos de terror e um estilo visual único. No entanto, apesar de ter momentos de excelência, acaba por cometer um erro comum no género: deixar o jogador a desejar que não fosse um rogue-like.

Desde os primeiros minutos, Katanaut impressiona pela sua apresentação e pela intensidade do combate. A experiência é desafiante e recompensadora, mas o ciclo de repetição típico deste tipo de jogo nem sempre favorece a exploração detalhada do mundo que a Voidmaw criou. É um jogo que brilha pelo que oferece na ação imediata, mas que por vezes frustra devido à estrutura escolhida.

Jogabilidade

O coração de Katanaut está no combate. Cada golpe da katana tem peso e precisão, oferecendo uma sensação de impacto rara em jogos do género. Ao longo das áreas, é possível encontrar diferentes habilidades que expandem as opções de ataque. Embora houvesse espaço para mais variedade na forma como estas são escolhidas, o sistema acaba por funcionar bem dentro das limitações do comando. Uma das combinações mais satisfatórias envolve invocar uma esfera de tentáculos à volta do personagem e depois lançar um rasgo na realidade no meio de um grupo de inimigos, criando momentos caóticos e intensos.

Além da katana, o jogo oferece uma arma secundária, geralmente uma arma de fogo. A progressão destas é rápida, passando de simples pistolas para miniguns em pouco tempo, o que acaba por ser divertido. A munição é limitada, mas pode ser recuperada ao atacar inimigos com a espada, o que incentiva a alternância entre combate corpo a corpo e à distância. No entanto, as armas de fogo nunca transmitem a mesma sensação de poder da katana, sendo eficazes mas pouco impactantes.

Um sistema de stamina adiciona uma camada estratégica ao combate. Apesar de os inimigos mais fracos poderem ser derrotados rapidamente, não é possível atacar sem pensar, obrigando a um ritmo mais controlado. Este elemento pode ser frustrante em momentos críticos, mas também ajuda a manter o jogo equilibrado. Com o tempo, é possível melhorar este atributo, reduzindo a probabilidade de falhas em situações decisivas.

O jogo incentiva a repetição, como é habitual no género, e à medida que se progride, a dificuldade aumenta consideravelmente. As primeiras áreas podem parecer acessíveis, mas rapidamente os desafios se tornam intensos, obrigando o jogador a aperfeiçoar a sua abordagem. Apesar de ser um rogue-like, Katanaut não tem tempos de espera longos após a morte, permitindo regressar rapidamente à ação, algo que mantém a experiência fluida e viciante.

Mundo e história

A narrativa de Katanaut coloca-nos na pele de Naut, um samurai de ficção científica que investiga uma estação espacial tomada por uma entidade demoníaca. Os antigos habitantes foram transformados em criaturas grotescas, misturas de carne e máquina, criando um cenário perturbador. O jogo não foca demasiado a história, preferindo contar o essencial através da atmosfera e do design dos níveis.

A exploração é feita através de áreas interligadas, com uma estrutura labiríntica que remete para jogos do estilo Metroidvania. Em certos momentos, é possível encontrar portais que transportam o jogador para zonas completamente novas, incentivando a curiosidade e a descoberta. No entanto, o formato rogue-like significa que todo o progresso é perdido após a morte, o que pode desmotivar aqueles que preferem explorar ao seu ritmo sem serem forçados a repetir áreas.

Um elemento interessante é a presença ocasional de uma criatura chamada simplesmente de horror, que persegue o jogador em certas zonas. Embora não seja verdadeiramente assustadora, adiciona tensão e urgência, tornando a exploração mais intensa. Ainda assim, Katanaut aposta mais no terror visual e grotesco do que em sustos repentinos, criando uma sensação constante de desconforto.

Grafismo

Visualmente, Katanaut é impressionante, especialmente tendo em conta o estilo pixel art que adota. A Voidmaw conseguiu criar ambientes que, apesar de retro, transmitem uma sensação de repulsa e desconforto. As paredes metálicas da estação espacial rapidamente ficam cobertas de sangue e restos das criaturas derrotadas, reforçando a sensação de caos e degradação. À medida que o jogador avança, o cenário torna-se cada vez mais grotesco, com detalhes que aumentam a intensidade visual.

Os inimigos são um destaque particular, com animações perturbadoras e movimentos estranhos que capturam perfeitamente a sua natureza monstruosa. Apesar do aspeto grotesco, o design garante que são facilmente identificáveis durante o combate, algo essencial para que o jogador consiga reagir a tempo. O resultado é uma estética única que mistura o horrível com o funcional.

O jogo também se destaca pelo uso criativo da cor e da iluminação. Certas áreas têm uma paleta mais fria e metálica, enquanto outras mergulham em tons vermelhos e púrpura, criando uma sensação de desconforto crescente. É um trabalho visualmente coeso e que complementa perfeitamente o tom da narrativa.

Som

O design sonoro de Katanaut reforça a atmosfera grotesca do jogo. Cada golpe da katana é acompanhado por um som satisfatório e visceral, enquanto as criaturas emitem grunhidos e ruídos distorcidos que aumentam a tensão. As animações mais violentas são acompanhadas por efeitos sonoros detalhados, criando uma experiência sensorial intensa.

A banda sonora, embora discreta, contribui para a imersão. Em vez de músicas épicas, opta por temas mais atmosféricos e sombrios, que ajudam a criar um ambiente de suspense constante. Nos momentos em que o horror persegue o jogador, a música torna-se mais frenética, aumentando a sensação de urgência.

Este cuidado com o áudio eleva a experiência geral, tornando cada confronto mais memorável e cada área mais distinta. É um jogo que sabe quando usar o silêncio e quando preencher o espaço com sons perturbadores.

Conclusão

Katanaut é um jogo que se destaca pelo seu combate preciso, pela estética grotesca e pela forma como combina ação rápida com exploração. A Voidmaw criou um mundo fascinante e perturbador, cheio de detalhes visuais e sonoros que reforçam a imersão. No entanto, a estrutura rogue-like, com a sua constante repetição e perda de progresso, pode afastar jogadores que preferem uma experiência mais linear.

Apesar destas limitações, Katanaut consegue manter-se divertido e desafiante. A rapidez com que o jogo nos coloca de volta na ação após a morte é um ponto positivo, e o combate é suficientemente satisfatório para justificar várias tentativas. É uma experiência intensa, que brilha nos seus melhores momentos, mesmo que por vezes frustre pela repetição.

Para os fãs de rogue-likes e de jogos com uma forte componente estética, Katanaut oferece algo de diferente e memorável. Não é perfeito, mas é um título que vale a pena explorar, especialmente para quem aprecia uma boa dose de grotesco aliado a uma jogabilidade sólida e envolvente.

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