Análise: Pipistrello and the Cursed Yoyo

Pipistrello and the Cursed Yoyo é um daqueles jogos que, à primeira vista, parecem apenas uma carta de amor à era dourada da Game Boy Advance, mas que rapidamente se revelam como algo muito mais ambicioso. Desenvolvido com uma estética retro mas um design moderno, o jogo apresenta-se como um cruzamento vibrante entre ação, plataformas, puzzles e uma pitada de exploração metroidvania. No centro desta aventura está Pippit, um jovem morcego com um talento inato para o ioiô, que se vê envolvido numa trama de conspirações corporativas, rivalidades familiares e uma cidade dominada por empresários do crime. Apesar da aparência fofa e colorida, Pipistrello mergulha numa narrativa surpreendentemente densa, cheia de sátira e humor mordaz. Com banda sonora assinada por Yoko Shimomura e uma jogabilidade polida, este é um dos jogos indie mais surpreendentes do ano.

Jogabilidade

Pipistrello and the Cursed Yoyo é essencialmente um jogo de ação e aventura com vista de cima, que bebe muita inspiração dos clássicos da era SNES e GBA, especialmente os jogos da série Zelda. No entanto, a sua principal inovação está no sistema de movimento e combate baseado em truques com o ioiô. À medida que se progride, desbloqueiam-se mais de dez truques e movimentos especiais com o ioiô que permitem não só atacar inimigos, mas também explorar novas zonas da cidade e resolver puzzles ambientais. A sensação de progressão é constante e bem equilibrada: começa-se com movimentos simples, mas rapidamente se introduzem mecânicas como saltos na parede, balanços e até encadeamentos complexos que exigem precisão e timing. Os combates são inicialmente o ponto mais fraco da experiência. Nos primeiros níveis, sentem-se quase como uma formalidade, com pouca variedade de inimigos e um sistema de colisões algo básico. No entanto, após desbloquear certas habilidades – especialmente a habilidade de encadear ataques – os confrontos tornam-se muito mais dinâmicos e interessantes. Existem também arenas de combate opcionais e chefes que colocam à prova o domínio das mecânicas, sendo que alguns destes combates se destacam pela complexidade e fases distintas. No geral, a jogabilidade é extremamente divertida e variada, mantendo o jogador constantemente envolvido.

Mundo e história

A cidade onde decorre a ação é dividida em quatro distritos, cada um dominado por um chefão do crime com o seu próprio estilo, temática e desafios. Desde centros comerciais decadentes a fábricas industriais, passando por convenções de cultura geek e bairros obcecados com desporto, cada zona tem uma identidade forte e memorável. Esta diversidade visual e temática estende-se também aos puzzles e obstáculos, que exigem diferentes abordagens conforme o local. A narrativa gira em torno de Pippit, um jovem membro da poderosa família Pipistrello, que detém o monopólio da eletricidade da cidade. A sua tia, Madame Pipistrello, é uma figura imponente e capitalista sem remorsos. No entanto, tudo muda quando um ataque coordenado por empresas rivais deixa a Madame em estado espiritual e Pippit com o seu espírito preso dentro do ioiô. Esta situação obriga-os a colaborar contra os interesses dos outros magnatas do crime, numa viagem que mistura redenção familiar com sabotagem empresarial. Os diálogos são bem escritos e cheios de humor, com personagens secundárias excêntricas que enriquecem o mundo e dão ao jogo um tom leve, mesmo nos momentos mais tensos. A narrativa não se leva demasiado a sério, mas consegue ainda assim construir um mundo coerente e satiricamente mordaz sobre o capitalismo e as estruturas de poder.

Grafismo

Visualmente, Pipistrello and the Cursed Yoyo é uma pequena maravilha. O estilo gráfico retro é claramente inspirado na estética da Game Boy Advance, mas com detalhes que ultrapassam as limitações daquela época. Os sprites são bem definidos, coloridos e cheios de personalidade. As animações são suaves, com especial destaque para os movimentos do ioiô, que têm um peso e fluidez notáveis. Os cenários, por sua vez, variam entre o urbano caótico e o surreal, mas mantêm sempre uma coerência visual que permite uma leitura clara dos obstáculos e caminhos. Existe ainda uma opção de simular o efeito de um ecrã LCD antigo, que dá ao jogo um charme nostálgico adicional sem comprometer a jogabilidade. A direcção de arte é coesa e criativa, conseguindo criar uma cidade viva e credível, mesmo com uma paleta de cores tão saturada e uma abordagem visual tão caricata. Cada área tem elementos visuais únicos, tornando a exploração uma experiência recompensadora também a nível estético.

Som

A banda sonora é um dos grandes destaques do jogo, com composições de Yoko Shimomura a dar um toque especial de autenticidade e nostalgia. As músicas são cativantes, energéticas e adaptam-se bem ao ritmo de cada zona e evento. Há temas que remetem diretamente à era SNES, mas com uma produção moderna que garante uma experiência sonora rica e envolvente. Os efeitos sonoros são igualmente bem conseguidos, com um feedback satisfatório nas interações com o ambiente, ataques e uso das habilidades do ioiô. Tudo soa nítido e impactante, reforçando a sensação de controlo e imersão. O trabalho de som não se limita a ser funcional – é parte integrante do charme do jogo. A música nos combates contra chefes, por exemplo, acrescenta urgência e intensidade sem nunca se tornar cansativa.

Conclusão

Pipistrello and the Cursed Yoyo é um daqueles jogos que, apesar de modestos na aparência, escondem uma profundidade e polimento raros. A sua jogabilidade desafiante mas acessível, aliada a um mundo rico em personalidade, puzzles bem construídos e uma apresentação audiovisual de topo, tornam-no numa das melhores surpresas indie do ano. É um verdadeiro banquete para fãs de jogos Zelda-like e de plataformas metroidvania, que alia nostalgia a ideias novas com uma confiança impressionante. O único ponto que poderia ser melhorado é o combate nas fases iniciais, que se torna repetitivo até certas habilidades serem desbloqueadas. No entanto, este problema dilui-se à medida que se progride, sendo amplamente compensado pela variedade de desafios, os inúmeros segredos para descobrir e a sensação constante de descoberta. Com mais de mil ecrãs para explorar, dezenas de colecionáveis, melhorias e um sistema de badges que altera a jogabilidade, há muito para manter o jogador agarrado até ao fim – e mesmo depois disso. É difícil não recomendar Pipistrello and the Cursed Yoyo. É divertido, inventivo e absolutamente encantador. Um verdadeiro tesouro escondido que merece muito mais atenção, especialmente por parte dos fãs de clássicos da Nintendo. E, quem sabe, talvez este seja o início de uma nova série. Se assim for, Pippit já garantiu o seu lugar entre os grandes heróis dos jogos de ação e aventura.

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