A série Postal sempre teve uma reputação peculiar no mundo dos videojogos, conhecida por um humor grosseiro e por um estilo que raramente agradou à crítica ou ao público mais exigente. Com o lançamento de Postal 4, essa má fama foi apenas reforçada, lembrando aos jogadores porque a franquia nunca foi verdadeiramente respeitada. No entanto, 2022 trouxe uma surpresa na forma de Postal: Brain Damaged, um spin-off que tenta algo completamente diferente. Em vez de seguir a fórmula habitual da série, aposta num estilo de shooter retro inspirado nos clássicos dos anos 90. A grande questão é se esta mudança de direção foi suficiente para revitalizar o nome Postal. A resposta, felizmente, é que este jogo não é um desastre completo, o que já é uma vitória quando falamos desta série.
Postal: Brain Damaged apresenta-se como um shooter rápido e frenético, que tenta capturar a essência de jogos como Quake e Doom, mas com uma identidade própria. É um projeto desenvolvido por outra equipa, o que se nota na maior atenção ao detalhe e na jogabilidade mais polida. No entanto, apesar destas melhorias, ainda carrega alguns dos problemas que sempre atormentaram a franquia, principalmente no que toca ao humor e ao estilo narrativo.
Jogabilidade
A jogabilidade é, sem dúvida, o ponto mais forte de Postal: Brain Damaged. O jogo oferece uma experiência dinâmica, com combates rápidos e uma grande variedade de armas, cada uma com duas funções distintas. Este detalhe acrescenta uma camada estratégica interessante, permitindo que os jogadores escolham diferentes abordagens para enfrentar os inimigos. Por exemplo, a Smart Pistol permite bloquear vários alvos e disparar em sequência, enquanto a caçadeira vem equipada com um gancho, muito semelhante ao visto em Doom Eternal, que pode ser usado tanto para atacar como para mobilidade.
Os níveis são amplos e cheios de segredos, incentivando a exploração. Ao contrário de outros shooters retro que se limitam a corredores estreitos, Brain Damaged aposta em mapas mais abertos, cheios de caminhos alternativos e áreas escondidas. Esta escolha aumenta a sensação de progressão e recompensa a curiosidade do jogador, embora por vezes seja fácil perder-se devido à complexidade dos cenários. A ação é intensa, com inimigos variados que obrigam a adaptar constantemente a estratégia de combate.
Apesar do ritmo acelerado, o jogo mantém uma boa performance, sem quedas de framerate ou problemas técnicos significativos. É evidente que houve cuidado na criação do sistema de combate e na fluidez da experiência, algo que distingue este título dos jogos principais da série.

Mundo e história
A narrativa continua a ser um dos pontos mais fracos de Postal: Brain Damaged. A história tenta seguir o estilo irreverente e provocador que caracteriza a série, mas falha em entregar humor genuíno ou comentários sociais relevantes. Em vez de piadas inteligentes ou sátiras bem construídas, o jogo oferece um humor que parece datado e infantil, sem grande impacto. Muitas das tentativas de chocar acabam por ser simplesmente embaraçosas, parecendo mais conteúdo criado por adolescentes a tentar ser subversivos do que uma crítica bem estruturada.
O protagonista continua a ser o mesmo anti-herói caótico dos jogos anteriores, mas a ligação emocional ao mundo ou aos acontecimentos é praticamente inexistente. Felizmente, a fraca narrativa não prejudica a jogabilidade, que consegue brilhar por si só. O melhor que o jogador pode fazer é desligar-se completamente da parte narrativa e focar-se na ação.
Grafismo
Visualmente, Postal: Brain Damaged aposta num estilo que remete para os shooters clássicos de meados dos anos 90. O grafismo tem um charme retro, com ambientes bem desenhados que transmitem uma sensação de nostalgia, ao mesmo tempo que se adaptam às exigências atuais. Os cenários são detalhados e variados, oferecendo uma boa atmosfera para a exploração e combate.
No entanto, os modelos das personagens ficam muito aquém. Enquanto os ambientes são visualmente apelativos, os inimigos e NPCs têm um aspeto rudimentar, que em alguns casos parece até inacabado. Esta inconsistência visual quebra um pouco a imersão e deixa a sensação de que o jogo poderia ter beneficiado de mais tempo de polimento nesta área. Ainda assim, o estilo artístico cumpre o seu objetivo, reforçando a identidade retro do jogo e criando um ambiente que combina bem com a jogabilidade rápida e intensa.

Som
O design sonoro apresenta altos e baixos. A banda sonora é competente e complementa bem a ação frenética, com temas enérgicos que incentivam o ritmo acelerado do combate. É claramente um dos pontos positivos, ajudando a manter a intensidade durante as batalhas.
Por outro lado, o voice acting deixa muito a desejar. As vozes das personagens são exageradas e, muitas vezes, irritantes, contribuindo para a já problemática tentativa de humor do jogo. Em vez de acrescentar carisma ou personalidade, acabam por afastar ainda mais o jogador da narrativa. Este contraste entre uma boa banda sonora e vozes mal executadas cria uma experiência sonora inconsistente.
Conclusão
Postal: Brain Damaged consegue algo raro na série: ser um jogo divertido e competente do ponto de vista mecânico. A jogabilidade sólida, os níveis bem desenhados e a variedade de armas tornam-no numa experiência satisfatória para os fãs de shooters retro. É claro que não atinge o nível de clássicos modernos do género, como Doom Eternal, mas oferece uma proposta interessante e desafiante.
No entanto, o peso do nome Postal continua a ser um problema. O humor forçado e a narrativa fraca impedem o jogo de atingir todo o seu potencial. Para aproveitar ao máximo esta experiência, é preciso ignorar a parte narrativa e focar-se exclusivamente na jogabilidade. Se visto apenas como um shooter rápido e viciante, Postal: Brain Damaged cumpre bem o seu papel e prova que a série ainda pode ter algo para oferecer, desde que saiba afastar-se dos erros do passado.