SCUM é um título que à primeira vista pode parecer mais um jogo de sobrevivência entre tantos outros. No entanto, por detrás da sua fachada de combate e cenário aberto, esconde-se uma simulação de sobrevivência profunda e detalhada, desenhada para jogadores que procuram uma experiência exigente e realista. O jogo transporta-nos para uma ilha fictícia onde prisioneiros lutam pela sobrevivência e por uma segunda oportunidade, tudo num formato de reality show extremo. Desenvolvido pela Gamepires em parceria com a Croteam, SCUM estreou-se em Acesso Antecipado há bastante tempo, recebendo agora o lançamento final.
Jogabilidade
À semelhança de muitos outros jogos de sobrevivência, SCUM baseia-se em reunir recursos, construir abrigos, enfrentar inimigos e gerir cuidadosamente a saúde e os níveis do personagem. No entanto, a jogabilidade distingue-se pelo seu realismo quase obsessivo. O sistema de criação de personagem é detalhado, embora muitas das estatísticas ainda estejam a ser afinadas. Desde o início, o jogador é confrontado com decisões que afetam a resistência, força e inteligência do seu avatar, elementos que terão impacto real na forma como o jogo decorre.
Uma das maiores diferenças está no sistema de metabolismo e lesões. Comer, beber, urinar e defecar são acções que fazem parte da rotina de sobrevivência e que têm influência direta nos atributos físicos. Ferimentos não são apenas barras de vida que descem; um golpe na cabeça pode significar uma concussão séria, e uma ferida mal tratada pode levar à morte. Estas mecânicas adicionam um nível de tensão e estratégia constante, tornando cada encontro com inimigos, sejam humanos, robôs ou zombies, potencialmente fatal.

Mundo e história
SCUM apresenta um conceito interessante e algo satírico. Numa era dominada pelo entretenimento extremo, os condenados são atirados para uma ilha gigantesca, pertencente à corporação TEC1, onde lutam pela sobrevivência enquanto são observados por milhões de espectadores. Este formato de reality show distorcido serve de pano de fundo para toda a experiência, criando uma justificação inusitada para a violência e a constante luta pela sobrevivência.
O mapa do jogo, inspirado na Croácia, é vasto e diversificado. Desde florestas densas a colinas suaves, passando por vilas abandonadas e bases militares, há uma variedade impressionante de locais para explorar. A presença de campos minados, edifícios fortificados e áreas patrulhadas por mechs acrescenta um desafio adicional à exploração. O mundo de SCUM não é apenas grande, é também letal.
O ambiente pós-apocalíptico está ainda povoado por zombies, designados como marionetas, que não são os típicos mortos-vivos lentos. Aqui, eles correm e atacam com ferocidade, ao estilo de 28 Dias Depois, o que obriga o jogador a manter-se sempre atento e preparado.
Grafismo
O aspeto visual de SCUM é um dos seus pontos fortes. O motor gráfico permite renderizações detalhadas de florestas, terrenos montanhosos e ambientes urbanos degradados. A atmosfera criada é envolvente, com iluminação realista e uma atenção ao detalhe que se sente em cada árvore, edifício ou item encontrado. As transições entre os diferentes ambientes são suaves, e o nível de fidelidade gráfica é surpreendente para um jogo que esteve em Acesso Antecipado tanto tempo.
Os modelos das personagens, tanto dos jogadores como dos inimigos, estão bem trabalhados, e os efeitos visuais das armas e do combate são eficazes. No entanto, esta qualidade gráfica tem um custo: é necessário um bom computador para garantir um desempenho estável. Em sistemas menos potentes, é provável que o jogador tenha de comprometer na qualidade visual para manter uma jogabilidade fluida.

Som
A componente sonora de SCUM é funcional e eficaz. Os sons ambientes desempenham um papel importante na imersão do jogador. O farfalhar das folhas, os passos à distância, os rugidos dos zombies ou o som mecânico dos mechs a patrulhar criam uma sensação constante de ameaça. A ausência de música durante a maior parte do tempo reforça esta tensão e realça a solidão do jogador no mundo hostil.
Os efeitos sonoros de armas, impactos e movimentação são bem conseguidos, ajudando a transmitir o peso e a fisicalidade do combate. Os sons digitais e alarmes associados aos robôs patrulhantes são particularmente intimidantes e bem integrados na experiência.
Conclusão
SCUM é uma proposta ambiciosa dentro do género de sobrevivência. O seu foco em realismo, quer na gestão de corpo e mente do personagem, quer na construção de um mundo hostil e plausível, distingue-o da concorrência. O jogo apresenta uma base sólida que foi elaborada durante muito tempo de acesso antecipado, com sistemas complexos e uma jogabilidade desafiante que recompensa a paciência e a estratégia.
É uma experiência que não é para todos, especialmente para quem procura uma abordagem mais casual. No entanto, para os fãs de sobrevivência hardcore, SCUM é uma lufada de ar fresco que combina combate intenso, exploração profunda e um sistema de sobrevivência intrincado. A presença de elementos como mechs assassinos, zombies velozes e uma comunidade surpreendentemente cooperativa tornam-no memorável. Apesar de necessitar de hardware robusto para correr nas melhores condições, SCUM é já, nesta fase inicial, superior a muitos jogos do género lançados em estado final. Se a equipa de desenvolvimento continuar a apoiar e expandir o jogo com o mesmo cuidado, estamos perante um futuro clássico do género.