Análise: TRON: Catalyst

TRON: Catalyst chega como uma tentativa de expandir o universo apresentado em TRON: Identity, um título que, apesar do seu ambiente visual apelativo, falhou em oferecer uma experiência narrativa e lúdica memorável. Agora, com uma abordagem mais ambiciosa e voltada para a acção, Catalyst procura transportar os jogadores para o coração da Arq Grid, um sistema digital em decadência repleto de intrigas, perigos e potencial narrativo. A promessa é clara: mais liberdade, mais combate, mais exploração. Mas será que consegue cumprir?

Jogabilidade

Catalyst apresenta-se como um jogo de acção e aventura com elementos de exploração e combate, centrando-se na personagem Exo, um programa-correio que ganha a capacidade de viajar no tempo através de loops. Esta mecânica, teoricamente promissora, permite revisitar momentos e alterar decisões, mas na prática revela-se profundamente limitada. O jogo conduz o jogador de forma rígida, só permitindo a utilização da capacidade de loop em momentos muito específicos, normalmente no final de cada acto, o que elimina quase por completo qualquer sentimento de descoberta ou experimentação. O sistema de combate tenta replicar a adrenalina das batalhas com discos da série TRON, mas falha redondamente. Os controlos são pouco responsivos, os inimigos ou se tornam excessivamente resistentes ou simplesmente deixam de reagir, e as animações de impacto são praticamente inexistentes. A falta de feedback visual ou sonoro torna as lutas pouco satisfatórias. A única forma de tornar o combate tolerável é desbloquear uma melhoria que transforma parries em eliminações instantâneas, o que trivializa completamente os confrontos, incluindo o combate final. Existem também secções com motas de luz, integradas de forma fluida nos mapas mais abertos, que oferecem momentos pontualmente divertidos. No entanto, estes também sofrem de problemas técnicos, com adversários a ficarem frequentemente presos no cenário.

Mundo e história

O enredo de Catalyst continua a narrativa de TRON: Identity e assume que o jogador já tem algum conhecimento prévio do universo. Seguimos Exo numa missão para enfrentar a ameaça dos guardas Core, liderados por Conn, e impedir a aproximação de uma tempestade digital conhecida como Glitch Storm. Pelo caminho, tentamos formar uma resistência e descobrir segredos enterrados da Arq Grid. Infelizmente, a história nunca atinge um verdadeiro ponto alto. Apesar da presença de personagens interessantes como Vega e Oracle, que trazem alguma cor a um enredo de outro modo insípido, os acontecimentos principais desenrolam-se de forma previsível e pouco memorável. O potencial dramático das viagens no tempo nunca é realmente explorado, e o final resume-se a preparar o terreno para uma futura continuação, sem oferecer uma conclusão satisfatória. A exploração da Arq Grid, por outro lado, é o verdadeiro destaque do jogo. Desde a cidade vertical Vertical Slice até às regiões exteriores devastadas, cada área tem a sua identidade visual e mecânica própria. Os mapas não são particularmente grandes, mas estão bem desenhados, com desafios específicos como sistemas de segurança que impedem a utilização de loops ou zonas de infiltração em que nos disfarçamos de inimigos.

Grafismo

Visualmente, TRON: Catalyst é uma carta de amor ao estilo icónico da franquia. A estética neon, os contrastes de luz e sombra e o design retro-futurista das estruturas digitais são recriados com fidelidade e criatividade. A Arq Grid consegue evocar a nostalgia dos filmes enquanto apresenta variações que a tornam própria e intrigante. Os efeitos visuais durante os loops temporais são especialmente bem conseguidos, com transições suaves e um ambiente que transmite bem a sensação de distorção digital. No entanto, o grafismo não está livre de falhas. Glitches visuais, personagens a ficarem presas em objectos e alguns elementos do cenário com texturas pouco detalhadas prejudicam o impacto geral. Há claramente ambição, mas nem sempre acompanhada por execução técnica ao nível necessário.

Som

A componente sonora de TRON: Catalyst é competente, mas não memorável. A banda sonora mantém-se fiel ao espírito da série, com batidas electrónicas e sintetizadores a emular a energia digital da Arq Grid. No entanto, falta-lhe variedade e momentos de real intensidade. Poucas faixas se destacam e, em longas sessões de jogo, a música tende a tornar-se repetitiva. Os efeitos sonoros, por outro lado, deixam a desejar. O som dos discos em combate, por exemplo, carece de peso e impacto. Os inimigos não reagem auditivamente aos ataques e, em muitos momentos, o silêncio quebra completamente a imersão. As vozes das personagens secundárias conseguem transmitir alguma personalidade, especialmente nos momentos mais calmos, mas não são suficientes para compensar a mediania geral da componente áudio.

Conclusão

TRON: Catalyst é um título que desperdiça um enorme potencial. A Arq Grid é um cenário fascinante, repleto de possibilidades narrativas e visuais, mas o jogo nunca se permite explorá-las com profundidade. A jogabilidade é demasiado guiada, o sistema de loops temporais é rigidamente controlado e o combate é frustrante e mal concebido. Há momentos pontualmente interessantes, como as secções de motas de luz ou pequenas histórias secundárias bem escritas, mas são insuficientes para elevar a experiência. A sensação com que se fica é a de um jogo que tem medo de ser verdadeiramente ousado. Em vez de nos deixar perder na sua rede digital, obriga-nos a seguir um percurso pré-definido, sem espaço para criatividade ou estratégia. TRON: Catalyst é, no melhor dos casos, um passatempo agradável para fãs dedicados da franquia. Para todos os outros, é uma oportunidade perdida que deixa a desejar tanto no conteúdo como na execução.

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