No panorama atual dos roguelikes em primeira pessoa, títulos como Gunfire Reborn, Roboquest e Deadlink estabelecem uma fasquia sólida, tanto em termos técnicos como na jogabilidade frenética e recompensadora. Vilde, da Chaotic Minds Studio, chega ao mercado com a promessa de se juntar a esse panteão, mas depressa se revela uma experiência aquém do desejável. Com problemas de desempenho evidentes, mecânicas pouco inspiradas e uma execução que dá a sensação de um produto ainda em fase de acesso antecipado, Vilde falha em quase todos os aspetos essenciais para se destacar no género.
Jogabilidade
À primeira vista, Vilde segue a fórmula típica do roguelike FPS: áreas interligadas por portais, ondas de inimigos, e uma constante procura por armas e habilidades mais eficazes. No entanto, é precisamente na execução dessa fórmula que tudo se desmorona. A movimentação do jogador é desajeitada, a resposta dos controlos é inconsistente e o combate pouco satisfatório. As arenas são pequenas e repetitivas, e os inimigos apresentam padrões de ataque básicos e robóticos, seja em terra ou pelo ar. A fraca inteligência artificial torna os confrontos monótonos e pouco exigentes.
O arsenal disponível é vasto em número, mas limitado em variedade real. Muitas armas apresentam diferenças mínimas entre si, reduzindo drasticamente a sensação de progressão ou descoberta. Algumas prometem efeitos únicos, como a capacidade de congelar inimigos, mas na prática limitam-se a alterar a cor dos projéteis. Até mesmo o ocasional lança-foguetes de maior impacto não consegue quebrar o ciclo de tédio que se instala rapidamente.

Mundo e história
Vilde procura criar uma mitologia própria, inspirada num universo de fantasia nórdica. Há um esforço evidente na ambientação, desde a presença de ruínas em florestas húmidas a fortalezas cobertas de neve e até um navio pirata onde cada nova tentativa se inicia. No entanto, essa construção de mundo é superficial. Os elementos nórdicos surgem mais como adereços do que como parte integral da narrativa ou da jogabilidade. Não existe um fio condutor que ligue as diferentes zonas ou que motive o jogador a descobrir mais sobre este universo.
As missões secundárias, como sobreviver sem matar durante vinte segundos, parecem adicionadas à pressa, sem contexto ou recompensa significativa. Há também um sistema de crafting baseado em orvalho recolhido dos inimigos derrotados, mas que não passa de uma mecânica pouco explorada e facilmente ignorada.
Grafismo
Visualmente, Vilde tem os seus momentos. As paisagens são estilizadas, com cores vivas e um design que lembra títulos como Fortnite ou Gunfire Reborn. Há um certo charme nas áreas temáticas, como as florestas com cascatas ou os níveis gelados, e o estilo artístico assume uma abordagem cartoonesca agradável. No entanto, a qualidade gráfica não justifica os pesados requisitos técnicos. Mesmo com todas as definições no mínimo, o jogo luta para manter os 30 frames por segundo na Steam Deck, o que é difícil de aceitar quando títulos visualmente similares correm a 60 FPS com facilidade.
O uso de assets genéricos é notório e quebra a imersão. A sensação é a de que muitos elementos foram retirados de bibliotecas comuns, em vez de terem sido criados especificamente para o jogo. O resultado é um mundo que, apesar de colorido, não possui identidade própria nem coesão artística.

Som
O departamento sonoro de Vilde sofre dos mesmos males que o resto do jogo. As armas têm efeitos pouco impactantes, os sons dos inimigos são repetitivos e a banda sonora é facilmente esquecível. Não há momentos sonoros marcantes que elevem a tensão ou reforcem a atmosfera do jogo. Até mesmo as habilidades especiais, como o raio ou os meteoros, carecem de feedback sonoro convincente, tornando os seus efeitos pouco satisfatórios.
A falta de coerência e variedade sonora prejudica ainda mais a imersão, tornando cada sessão de jogo numa experiência monótona. Em jogos deste género, onde o ritmo e a adrenalina são fundamentais, o som devia ser um aliado constante, mas em Vilde acaba por ser mais um ponto fraco.
Conclusão
Vilde é um projeto com ideias promissoras, mas com uma execução que deixa muito a desejar. A tentativa de misturar um universo mitológico com ação frenética e elementos roguelike resulta numa experiência que raramente satisfaz. Desde os graves problemas de desempenho, passando por bugs que impedem o progresso ou arruinam combates, até à falta de inovação nas mecânicas, o jogo transmite a sensação de estar inacabado.
Com um mercado cada vez mais competitivo e com propostas muito mais polidas e divertidas, Vilde não consegue justificar o investimento de tempo ou dinheiro. É um título que, mesmo com atualizações futuras, terá de enfrentar uma longa jornada de melhorias para poder ombrear com os gigantes do género. Por agora, é apenas uma nota de rodapé entre os FPS roguelike de 2025, e infelizmente, uma das menos memoráveis.