RuneScape: Dragonwilds marca a entrada da Jagex no género de sobrevivência, trazendo o icónico universo de RuneScape para um estilo de jogo muito popular nos últimos anos. Apesar do peso do nome e de algumas ideias interessantes, Dragonwilds tem dificuldades em destacar-se entre títulos já consagrados como Valheim ou V Rising. A base está lá, com recolha de recursos, construção, exploração e combate, mas a falta de originalidade e alguns problemas de design fazem com que a experiência não alcance todo o seu potencial.
A aventura decorre no continente esquecido de Ashenfall, agora ameaçado por dragões que despertaram do seu longo sono. O jogador assume o papel de um sobrevivente que pode enfrentar os perigos sozinho ou em grupo, com até três amigos, enquanto constrói um refúgio, descobre segredos antigos e se prepara para a batalha contra a Rainha dos Dragões. A proposta é tentadora, mas a execução deixa a desejar em alguns pontos fundamentais.
Desde os primeiros minutos, o jogo tenta transmitir a sensação de constante perigo. O exemplo perfeito é quando, durante uma tarefa simples como cortar madeira, o céu se enche de nuvens negras e o rugido de um dragão ecoa, seguido por chuva de veneno que obriga o jogador a procurar abrigo. No entanto, nem sempre a mecânica corresponde à expectativa, já que mesmo dentro de uma casa o ácido continua a afetar tanto o cenário como o jogador, o que pode levar a mortes frustrantes e inesperadas.
Jogabilidade
Como na maioria dos jogos de sobrevivência, a rotina básica envolve recolher recursos, construir estruturas, melhorar armas e armaduras e enfrentar inimigos. As primeiras horas são gastas a cortar árvores, recolher água e fabricar ferramentas e máquinas que permitem evoluir gradualmente. A progressão é lenta e exige grind, algo que pode agradar a jogadores que gostam deste estilo mais metódico, mas que pode afastar quem procura ação imediata.
O elemento que distingue Dragonwilds de outros títulos é a utilização de runas. Estas permitem lançar feitiços defensivos e ofensivos, além de habilidades utilitárias como acelerar a recolha de madeira ou destruir formações rochosas para obter minerais raros. Por exemplo, o feitiço Windstep permite saltar mais alto e cair mais devagar, enquanto outro cria um escudo que aumenta significativamente a defesa.
Contudo, desbloquear estas habilidades exige um esforço considerável. É necessário recolher Rune Essence, um recurso escasso, que só pode ser minerado em locais específicos com tempos de espera longos. Além disso, algumas habilidades acabam por não ser tão úteis como parecem. Um bom exemplo é a Axtral Projection, que conjura um machado mágico capaz de derrubar árvores à distância. Apesar de parecer prático, o jogador continua a ter de usar o machado normal para cortar o tronco em pedaços utilizáveis, o que limita bastante a utilidade do feitiço.
Outro problema evidente está na gestão da fome, sede e stamina. Os níveis de comida e bebida descem demasiado rápido, obrigando o jogador a transportar constantemente grandes quantidades de recursos, algo complicado devido ao espaço limitado na mochila. A barra de stamina, por sua vez, drena de forma exagerada, especialmente em combates à distância, onde correr, disparar e esquivar consome energia em segundos. Isto resulta em situações frequentes de vulnerabilidade e mortes frustrantes.

Mundo e história
Ashenfall é um continente vasto e perigoso, cheio de criaturas hostis, segredos antigos e locais intrigantes. A narrativa gira em torno do ressurgimento dos dragões e da ameaça da Rainha dos Dragões, que serve como inimiga final e objetivo principal.
Ao explorar o mapa, o jogador encontra cavernas escondidas, baús com loot e estruturas chamadas Vaults. Estes Vaults funcionam como pequenas masmorras com vários andares, cheias de armadilhas e inimigos. Embora os desafios não sejam extremamente difíceis, exigem o uso inteligente das habilidades mágicas para desativar mecanismos ou alcançar áreas secretas. O objetivo principal ao completar um Vault é obter um Vault Core, recurso essencial para a construção de teleportadores que facilitam a deslocação pelo mapa.
A introdução destes teleportadores adiciona uma camada estratégica, pois os jogadores precisam de planear cuidadosamente onde os colocam para otimizar a exploração. No entanto, tal como com outras mecânicas, o uso de teleportadores também depende de runas específicas, novamente ligadas à escassa Rune Essence, o que pode tornar o processo mais trabalhoso do que deveria ser.
Apesar destes problemas, explorar Ashenfall continua a ser recompensador. A sensação de descoberta, aliada à procura de recursos raros e armas especiais, incentiva o jogador a sair da sua zona de conforto e enfrentar os perigos do mundo.
Grafismo
Visualmente, RuneScape: Dragonwilds apresenta-se como um jogo bonito e bem trabalhado. Os cenários são variados, com florestas densas, cavernas sombrias e aldeias abandonadas, transmitindo uma atmosfera imersiva. A iluminação dinâmica destaca-se, principalmente durante eventos climáticos, como tempestades ou ataques de dragões, que conferem uma sensação épica aos momentos de maior tensão.
As animações são fluidas, tanto nas ações do jogador como nos inimigos, e os efeitos visuais das magias acrescentam um toque especial ao combate. A direção artística consegue equilibrar o estilo mais realista típico do género com elementos que remetem ao universo clássico de RuneScape, criando uma identidade visual própria.
No entanto, como o jogo ainda está em Acesso Antecipado, existem alguns problemas técnicos, como texturas que demoram a carregar ou quedas ocasionais na taxa de fotogramas, especialmente em áreas muito povoadas. Estes problemas não chegam a comprometer a experiência, mas afetam a fluidez em momentos críticos.

Som
O design sonoro é um dos pontos fortes do jogo. A banda sonora é envolvente e varia conforme a situação, alternando entre temas calmos durante a exploração e composições mais intensas em combate ou eventos climáticos.
Os efeitos sonoros são igualmente bem conseguidos. O rugido dos dragões, o som de uma árvore a cair ou o tilintar metálico das armas ajudam a criar uma sensação de imersão constante. O áudio direcional também merece destaque, permitindo que o jogador perceba a origem de ameaças apenas pelo som, algo que se revela fundamental durante ataques surpresa.
Apesar de não existir voice acting para personagens secundárias, o jogo consegue transmitir a narrativa através de diálogos escritos e elementos ambientais, mantendo a atmosfera coesa.
Conclusão
RuneScape: Dragonwilds é uma entrada sólida no género de sobrevivência, oferecendo todos os elementos que os fãs esperam: recolha de recursos, construção, exploração e combate. O uso de magia através de runas dá-lhe um toque distinto, e a ligação ao universo RuneScape confere-lhe um apelo especial para veteranos da série.
No entanto, a falta de originalidade e algumas escolhas de design pouco equilibradas impedem o jogo de atingir o mesmo nível de títulos consagrados como Valheim ou V Rising. O grind excessivo para desbloquear habilidades, a gestão exagerada da fome, sede e stamina, e a dependência constante de recursos raros podem tornar a experiência mais frustrante do que divertida.
Com mais ajustes durante o período de Acesso Antecipado, Dragonwilds tem potencial para se tornar um jogo de referência no género. Por agora, é uma experiência recomendada para fãs dedicados de jogos de sobrevivência que não se importem com algum grind e estejam dispostos a enfrentar desafios constantes. Para quem procura algo mais inovador ou acessível, pode acabar por não se destacar o suficiente para merecer a atenção.