Baby Steps é uma experiência tão hilariante quanto frustrante. Desenvolvido por Bennett Foddy, conhecido por criações masoquistas como Getting Over It e QWOP, o jogo mantém a tradição de transformar algo aparentemente simples num desafio monumental. Foddy junta-se aqui a Gabe Cuzzillo e Maxi Boch, criadores do intenso Ape Out, para dar vida a um projeto que mistura humor absurdo, dificuldade metódica e uma filosofia de tentativa e erro que poucos jogos ousam explorar. O resultado é um título que desafia tanto a paciência como a coordenação motora do jogador, enquanto o faz rir das suas próprias derrotas.
Jogabilidade
Em Baby Steps controlamos Nate, um homem na casa dos vinte e tal anos que ainda vive com os pais, até que é subitamente transportado para uma paisagem selvagem e misteriosa. A partir daqui, o objetivo é simples: caminhar. O problema é que andar nunca foi tão complicado. Cada perna é controlada de forma independente através dos gatilhos do comando – o esquerdo levanta a perna esquerda, o direito a direita – e o analógico serve para inclinar o corpo de Nate, obrigando o jogador a coordenar os movimentos com precisão cirúrgica.
Este sistema transforma uma ação banal num verdadeiro teste de concentração. Quando tudo corre bem, é quase hipnótico, uma dança mecânica de pernas trôpegas e quedas iminentes. Mas basta um erro mínimo para o equilíbrio desabar e Nate cair por terra, rolando colina abaixo enquanto o jogador solta uma gargalhada nervosa. Baby Steps é um jogo sobre ritmo e paciência: o progresso é lento, mas cada passo dado com sucesso é uma pequena vitória.
À medida que avançamos, o terreno torna-se cada vez mais traiçoeiro. Subir escadas, equilibrar-se numa escada horizontal ou atravessar pedras escorregadias num rio são tarefas que exigem precisão e nervos de aço. Cair faz parte do processo, e o jogo não oferece qualquer tipo de piedade ou atalhos. É um ciclo constante de falha, aprendizagem e persistência – a marca registada de Foddy.

Mundo e história
Apesar da sua simplicidade mecânica, Baby Steps esconde um mundo surpreendentemente rico em personalidade. A história de Nate é uma sátira sobre a apatia e a estagnação da vida adulta. O protagonista, preso na sua própria inércia emocional, vê-se forçado a aprender a andar literalmente e figurativamente num novo mundo. Ao longo da jornada, encontra figuras estranhas, desde humanos excêntricos até híbridos entre homem e animal, todos com personalidades peculiares e um sentido de humor absurdo.
Os diálogos entre Nate e estas personagens são um dos grandes trunfos do jogo. O protagonista é socialmente desajeitado, incapaz de pedir ajuda ou lidar com situações simples, o que resulta em interações deliciosamente constrangedoras. O humor é caótico, lembrando o estilo surreal de programas como Tim and Eric: Awesome Show, com vozes trémulas, pausas embaraçosas e expressões faciais hilariantes.
As conversas não são obrigatórias, mas recompensam a curiosidade. O mapa esconde pequenos segredos e estruturas curiosas, e alcançá-los é um desafio por si só. Em muitos casos, o jogador é premiado com um item cosmético – como um chapéu bizarro – ou um flashback jogável que revela mais sobre o passado de Nate. É um design que encoraja a exploração e recompensa a persistência, mesmo que cada descoberta custe dezenas de quedas.
Grafismo
Visualmente, Baby Steps adota um estilo minimalista, mas eficaz. O mundo é vasto e despido, cheio de colinas verdes, montanhas lamacentas e rios brilhantes que acentuam a sensação de isolamento. O destaque, no entanto, vai para Nate. O protagonista veste um fato cinzento semelhante a um pijama, que vai ficando sujo e manchado à medida que tropeça e rebola pelo cenário. A sua aparência patética é uma fonte constante de humor, com o corpo desajeitado e o rabo proeminente a balançar de forma ridícula a cada tentativa de passo.
A animação intencionalmente tosca reforça o tom cómico do jogo. Tudo parece ligeiramente fora de tempo, como se o mundo e o personagem estivessem permanentemente em descompasso. Esta estética “imperfeita” é, paradoxalmente, o que torna Baby Steps visualmente distinto e memorável.

Som
A banda sonora, composta pela mesma equipa que trabalhou em Ape Out, aposta em sonoridades experimentais e ambientes naturais. Em vez de música constante, o jogo alterna entre o silêncio e o som do vento, dos grilos e dos latidos distantes, criando uma atmosfera introspectiva que realça a solidão de Nate.
Quando há música, esta é percussiva e improvisada, lembrando um jazz caótico que se adapta ao ritmo trôpego da caminhada. A sonoplastia brilha também nos detalhes – o som das quedas, o barulho dos pés descalços na lama, ou o eco das vozes nas colinas – todos cuidadosamente pensados para sublinhar a estranheza do universo de Baby Steps.
O destaque sonoro, contudo, vai para as vozes. As interpretações são incrivelmente naturais e engraçadas, dando vida a cada conversa de forma espontânea, como se os atores tivessem improvisado juntos. Esta autenticidade contribui muito para o charme do jogo e reforça o contraste entre a frustração mecânica e o humor narrativo.
Conclusão
Baby Steps é um jogo que testa a paciência, mas recompensa a perseverança com gargalhadas genuínas e momentos de descoberta inesperada. É uma obra que só poderia vir de Bennett Foddy e companhia: um tributo ao fracasso, à tentativa, e à alegria de simplesmente seguir em frente, passo a passo.
Apesar da sua dificuldade inicial, é mais acessível do que títulos anteriores do criador e oferece liberdade suficiente para o jogador escolher o seu próprio nível de desafio. A combinação de humor absurdo, jogabilidade meticulosa e uma estética deliberadamente desajeitada tornam-no numa das experiências mais únicas e memoráveis do ano.
Baby Steps é frustrante, ridículo e brilhante – um lembrete de que às vezes é preciso cair cem vezes para dar um único passo em frente.