Dream of Things é um jogo de aventura em primeira pessoa que nos coloca numa situação desconcertante: acordamos numa casa estranha, sem qualquer memória de quem somos, apenas para descobrir que já morremos. A partir daí, a experiência torna-se ainda mais surreal — podemos comunicar com os objectos da casa, que nos chamam de Mestre de Cerimónias. Cada um desses objectos tem um mundo interior distinto, com problemas próprios que necessitam de resolução. A premissa é criativa e bizarra q.b., convidando-nos a mergulhar num universo de sonhos e enigmas com uma estética de desenho animado e bastante fantasia à mistura.
Jogabilidade
A jogabilidade centra-se em resolver puzzles dentro dos mundos interiores dos objectos. Existem mais de dez espaços distintos, com mecânicas baseadas em lasers, mecanismos e alguma dose de imaginação. No entanto, a experiência de jogo revela-se rapidamente inconsistente. Grande parte do tempo é despendida a tentar perceber o que o jogo quer de nós, já que as pistas são muitas vezes vagas ou pouco intuitivas. Em vez de nos concentrarmos na resolução dos puzzles em si, passamos longos períodos a tentar compreender os enunciados, o que quebra o ritmo e torna a experiência frustrante. A falta de orientação clara e a natureza pouco lógica de muitas soluções acabam por afastar a sensação de progresso satisfatório.

Mundo e história
A ideia de explorar os sonhos de objectos como cortinas de banho, espelhos e candeeiros é, sem dúvida, original. Cada objecto tem uma personalidade própria e um mundo que reflecte as suas emoções e dilemas. Esta abordagem oferece um bom potencial para contar uma história envolvente e introspectiva, mas o jogo acaba por não explorar esta premissa tão bem quanto poderia. Há momentos pontuais em que os sonhos dos objectos afectam o mundo real, o que é um conceito interessante, mas esse efeito é usado apenas uma vez de forma interactiva. No geral, a narrativa acaba por ser mais uma justificação para os puzzles do que um fio condutor envolvente por si só.
Grafismo
Visualmente, Dream of Things aposta num estilo cartoon leve e colorido, que combina bem com o tom onírico do jogo. As animações são funcionais e os mundos interiores dos objectos apresentam alguma variedade estética. Ainda assim, muitos cenários pecam por serem demasiado amplos e vazios, o que, além de tornar a navegação cansativa, reforça a sensação de que há mais espaço do que conteúdo. Apesar de alguns momentos visualmente apelativos, o grafismo não chega a marcar pela positiva de forma consistente.

Som
A componente sonora do jogo cumpre a sua função, mas não se destaca. As vozes dos objectos contribuem para a construção das suas personalidades e há alguns efeitos interessantes que ajudam a transmitir a estranheza do mundo em que nos movemos. No entanto, não há nenhum elemento sonoro que fique na memória ou que enriqueça verdadeiramente a experiência. O áudio é competente, mas nunca essencial para a imersão.
Conclusão
Dream of Things é um jogo com uma base criativa promissora e um conceito intrigante. A ideia de comunicar com objectos e resolver os seus problemas internos para descobrir a nossa própria identidade é refrescante e poderia ter dado origem a uma experiência memorável. Infelizmente, a execução fica aquém do potencial. A fraca orientação, os puzzles pouco intuitivos e algumas decisões de design questionáveis tornam a jogabilidade frustrante. Há momentos de brilho, especialmente no conceito dos sonhos a influenciar a realidade, mas são escassos. Com mais trabalho no design dos níveis e uma abordagem mais clara aos desafios, este poderia ser um título de destaque no panorama indie. Por agora, é uma curiosidade com boas intenções, mas que precisa de muito mais polimento para brilhar.