Dustwind: Resistance insere-se num universo já existente, sendo uma espécie de sequela de Dustwind – The Last Resort. No entanto, para quem nunca teve contacto com esse mundo, como foi o nosso caso, este título pode ser facilmente abordado como uma experiência isolada. Desenvolvido pela Z-Software, trata-se de um jogo táctico para um jogador passado num mundo pós-apocalíptico, um conceito já bastante explorado no mundo dos videojogos. A questão que se coloca, então, é simples: o que tem Dustwind: Resistance que o destaque de tantos outros do mesmo género?
Jogabilidade
A jogabilidade de Dustwind: Resistance é desafiante, por vezes até frustrante. Os combates tácticos decorrem numa perspetiva isométrica e exigem constante atenção ao posicionamento das personagens, à gestão de inventário e à utilização de habilidades específicas. Existem opções interessantes, como a possibilidade de ajoelhar para aumentar a precisão e reduzir a exposição ao fogo inimigo, ou o uso de habilidades furtivas. No entanto, estas mecânicas nem sempre funcionam de forma coerente. A furtividade, por exemplo, parece estar limitada a zonas específicas, e os inimigos detetam o jogador com uma precisão quase sobre-humana, mesmo à distância.
A dificuldade é extrema desde o início. O tutorial pouco faz para suavizar a curva de aprendizagem e rapidamente nos vemos a morrer às mãos de inimigos que parecem esponjas de balas, enquanto o protagonista Jake e o seu cão Diesel são frágeis como porcelana. Embora exista um sistema de gravação rápida que pode ser usado a cada passo, tornando o jogador praticamente imortal com paciência suficiente, isto quebra o ritmo do jogo e transforma a progressão numa experiência cansativa. Existe alguma profundidade nas opções de construção de personagem, com diversas armas, habilidades e árvores de talentos. Esta vertente é uma das mais interessantes do jogo, permitindo alguma personalização e estratégia. Contudo, mesmo esta liberdade de escolha acaba por ser prejudicada pela fraca implementação de outras mecânicas básicas.

Mundo e história
A narrativa de Dustwind: Resistance gira em torno de Jake, um agricultor num cenário pós-apocalíptico que, após um ataque dos Raiders liderados por um tal de Warlord, vê-se forçado a lutar pela sobrevivência e justiça. Ao seu lado está Diesel, o seu fiel cão. O jogo tenta apresentar uma história épica de vingança e resistência, mas rapidamente se percebe que esta está repleta de clichés e falta de originalidade. O enredo parece retirado de um guião de série B, com motivações simplistas e personagens genéricas.
O mundo, apesar de não ser particularmente marcante, é suficientemente amplo para exploração. No entanto, a sensação de descoberta é atenuada pela repetição de inimigos e pela pouca variedade visual. O universo de Dustwind tem potencial, mas a narrativa não contribui para o tornar memorável, sendo mais um pano de fundo funcional do que um verdadeiro motor de envolvimento.
Grafismo
Visualmente, Dustwind: Resistance apresenta um estilo próximo do pixel art, embora sem grande apuro técnico. A perspetiva isométrica é funcional e permite visualizar os combates de forma clara. Uma funcionalidade útil é o desaparecimento automático dos telhados quando o jogador se aproxima de edifícios, facilitando a navegação no seu interior.
As animações são competentes e o mundo tem dimensão suficiente, mas falta-lhe identidade. Os inimigos, por exemplo, parecem saídos de uma linha de montagem, todos iguais, o que quebra a imersão. Apesar destes defeitos, o jogo não é feio, apenas genérico. Não existe uma estética única que o destaque, o que acaba por ser uma oportunidade desperdiçada, especialmente num género onde a ambientação visual é tão importante.

Som
O trabalho sonoro de Dustwind: Resistance é mínimo. Não existe qualquer voice acting, com a história a ser contada apenas através de caixas de texto. A banda sonora é praticamente inexistente, com os sons de disparos e passos a compor quase toda a paisagem sonora. Este minimalismo poderia funcionar num ambiente mais atmosférico, mas aqui apenas acentua a sensação de um jogo inacabado ou com orçamento limitado.
A ausência de elementos sonoros marcantes contribui para a falta de envolvimento emocional com a história e com as personagens. Tudo soa genérico e pouco inspirado, o que, aliado ao fraco desenvolvimento narrativo, resulta numa experiência pouco memorável.
Conclusão
Dustwind: Resistance tenta afirmar-se como uma proposta táctica interessante dentro de um cenário pós-apocalíptico, mas falha em vários aspectos essenciais. A dificuldade extrema, o sistema de stealth inconsistente, os tutoriais ineficazes e a repetitividade geral tornam a experiência mais frustrante do que gratificante.
Apesar de apresentar algumas ideias válidas, como a personalização da personagem e o uso de estratégias em combate, estas estão enterradas sob camadas de decisões de design pouco inspiradas. A estética visual e sonora, embora funcional, carece de carisma e originalidade, e a história não vai além do cliché. No final, Dustwind: Resistance é um título que poderá agradar a fãs muito dedicados do universo Dustwind, mas dificilmente conquistará novos jogadores. Existem alternativas melhores e mais polidas dentro do género, e por isso é difícil recomendá-lo a quem procura uma experiência táctica sólida e envolvente.