Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo que aposta tudo na força da sua narrativa e no charme do seu mundo inspirado na Escandinávia do início do século XX. Desenvolvido pela River End Games, este título mergulha-nos num enredo carregado de emoção, mistério e tensão, centrado na busca de uma jovem pelo seu irmão desaparecido. A apresentação visual é notável, o design de som é envolvente e a jogabilidade, embora assente em mecânicas de furtividade, funciona mais como um quebra-cabeças narrativo do que como um verdadeiro jogo de acção furtiva. Ao longo de cerca de dez horas, o jogador é convidado a seguir uma história linear e envolvente, com momentos de grande intensidade emocional e uma realização técnica impressionante. No entanto, há aspectos da experiência que deixam a desejar, especialmente no que diz respeito à rejogabilidade e ao valor do jogo face ao seu preço.
Jogabilidade
A base jogável de Eriksholm: The Stolen Dream assenta numa perspectiva isométrica, onde a acção se desenvolve num misto de furtividade e resolução de puzzles. O jogador tem ao seu dispor três personagens diferentes, cada uma com habilidades únicas que são essenciais para ultrapassar obstáculos, aceder a novas áreas ou enganar os inimigos. A alternância entre estas personagens é um dos pontos altos da experiência, pois obriga a pensar em conjunto, coordenar movimentos e planear estratégias para avançar nos níveis.
Apesar do foco na furtividade, o jogo não castiga de forma severa os erros. Pelo contrário, apresenta-se como um desafio acessível, mais interessado em contar uma história do que em frustrar o jogador. As missões são geralmente lineares, com pouca margem para improviso. Existe normalmente uma solução correcta por cenário, o que retira alguma liberdade e contribui para uma sensação de rigidez nos desafios.
As mecânicas de observação de padrões de patrulha, uso do ambiente para distrair ou esconder, e resolução de pequenos puzzles ambientais, como operar gruas ou sincronizar movimentos entre personagens, estão bem implementadas e oferecem uma experiência fluida. No entanto, a curva de dificuldade é pouco acentuada, e quem estiver à procura de um verdadeiro desafio táctico pode sair algo desapontado. A presença de coleccionáveis incentiva uma exploração ligeira, mas nunca essencial ao progresso.

Mundo e história
O ponto forte de Eriksholm é, sem dúvida, a sua ambientação e narrativa. A cidade fictícia de Eriksholm é um espaço vivo, detalhado e cheio de personalidade, fortemente inspirado pelas paisagens e atmosferas urbanas nórdicas do século XX. Os bairros operários, as fábricas em tijolo vermelho, os anúncios vintage e os portos marítimos enchem o cenário de autenticidade. A atenção ao detalhe é notável, e é fácil perder minutos apenas a observar o ambiente.
A história acompanha Hanna, uma jovem que vê o seu mundo virar do avesso quando o irmão, Herman, desaparece e passa a ser perseguido pela polícia. A busca por respostas rapidamente se transforma numa jornada de grandes consequências, revelando conspirações e forças em jogo muito para além do que Hanna imaginava. O enredo é forte nos momentos iniciais, apoiado por personagens bem interpretadas e diálogos naturais, mas perde coesão na reta final. As motivações tornam-se confusas, novos personagens surgem sem grande desenvolvimento, e a narrativa principal é subitamente substituída por uma linha secundária que parece pouco relacionada.
Apesar desse desvio na parte final, a experiência global continua a ser memorável. A ligação emocional com Hanna e os seus aliados é convincente, e os momentos de tensão são eficazes, criando empatia e urgência. Contudo, o título do jogo – The Stolen Dream – acaba por não ter uma resolução clara, o que deixa um certo vazio na conclusão da trama.
Grafismo
Visualmente, Eriksholm é um verdadeiro deslumbre. O trabalho artístico da River End Games demonstra um cuidado quase obsessivo com a construção do mundo, tanto a nível de arquitectura como de iluminação, cores e materiais. As texturas são detalhadas, os cenários riquíssimos e cada canto da cidade parece contar uma história própria. Jogar num monitor de alta resolução é altamente recomendado, pois a fidelidade visual beneficia enormemente dos píxeis extra.
As cutscenes são pré-renderizadas e de altíssima qualidade, com animações faciais convincentes e enquadramentos cinematográficos. A forma como o jogo transita entre jogabilidade e cenas narrativas é fluida, e contribui para uma imersão profunda. Mesmo em máquinas menos potentes, o jogo corre de forma estável, sem problemas de performance, bugs ou falhas técnicas significativas.
O design de personagens também merece destaque. Cada figura tem um visual distinto e reconhecível, com vestuário e expressões que reforçam a época e o ambiente social retratado. A linguagem visual contribui para a autenticidade do mundo e ajuda a solidificar a identidade do jogo.

Som
O trabalho sonoro de Eriksholm acompanha de forma exemplar a qualidade gráfica e narrativa. A banda sonora é discreta, mas eficaz, criando um ambiente de tensão e mistério sem ser intrusiva. Os sons ambientes — o ranger de estruturas metálicas, o sopro do vento entre os edifícios, os passos apressados na calçada molhada — enriquecem a experiência e acentuam o realismo do mundo retratado.
O destaque, contudo, vai para o voice acting. A interpretação vocal é de altíssimo nível, com um leque de sotaques britânicos credível e bem executado. As conversas entre personagens soam naturais, nunca artificiais ou forçadas, o que reforça a ligação emocional do jogador com os protagonistas. A escrita dos diálogos também contribui, evitando clichés e apostando em trocas de palavras subtis, íntimas e cheias de nuance.
É raro encontrar um jogo onde as vozes se destaquem tanto como aqui, mas Eriksholm consegue alcançar esse patamar. As cenas mais emocionais funcionam precisamente por causa desta combinação entre actuações vocais fortes e cutscenes bem dirigidas.
Conclusão
Eriksholm: The Stolen Dream é uma experiência visualmente deslumbrante, emocionalmente cativante e mecanicamente sólida, mas que acaba por ser traída por alguns problemas estruturais. A sua maior fraqueza reside na curta duração e na falta de rejogabilidade. A narrativa, apesar de forte no início, perde o foco e a força na parte final. E o preço pedido no lançamento, a rondar os 40 euros, parece desajustado face à quantidade de conteúdo oferecido.
Ainda assim, é impossível ignorar o talento e o cuidado evidentes na produção. Desde os ambientes detalhados ao excelente voice acting, este é um título que merece ser jogado por todos os fãs de experiências narrativas com um toque de puzzle e furtividade. O facto de ser o primeiro jogo da River End Games é promissor, e deixa em aberto um futuro brilhante para o estúdio.
Para quem aprecia jogos com forte componente cinematográfica e um mundo rico em detalhe, Eriksholm é uma viagem memorável, ainda que breve. Não é um título para quem procura liberdade de acção ou desafios complexos, mas sim para quem valoriza narrativa, atmosfera e apresentação. Se tiverem oportunidade, experimentem a demo — se gostarem, o jogo completo entrega exactamente a mesma qualidade, do início ao fim.