Análise: Holdfast: Nations At War

Holdfast: Nations At War é uma experiência multijogador singular que nos transporta diretamente para o caos e glória das guerras napoleónicas. Desenvolvido pela Anvil Game Studios, o jogo procura recriar com fidelidade não só os combates da época, mas também o ambiente, a estrutura de comando e até o espírito dos batalhões. Para os fãs de séries como Sharpe, de Bernard Cornwell, esta proposta tem um apelo imediato. No entanto, a questão que se coloca é se esta recriação histórica consegue também ser divertida e acessível para o jogador moderno, ou se é apenas um exercício de nostalgia sem fôlego.

Jogabilidade

Ao contrário da maioria dos shooters contemporâneos, onde a ação é frenética e os reflexos são tudo, Holdfast exige paciência, coordenação e espírito de equipa. As armas principais são mosquetes, canhões e espadas. E como qualquer entusiasta de história militar saberá, os mosquetes não são propriamente sinónimo de rapidez ou precisão. Carregar um disparo leva vários segundos e acertar num inimigo em movimento é, muitas vezes, um feito de sorte.

Isto poderia tornar a jogabilidade frustrante, mas o jogo compensa com um sistema de combate corpo a corpo bem elaborado, que usa uma mecânica direcional semelhante à de Mount & Blade II: Bannerlord. Os jogadores podem atacar e defender de quatro direções diferentes, o que dá algum nível de profundidade ao confronto físico. Para além disso, há uma grande variedade de classes à escolha. Não somos forçados a ser apenas soldados na linha da frente. Podemos ser médicos, músicos, engenheiros e até cavaleiros com sabre em punho. Cada classe tem o seu papel, e o jogo recompensa verdadeiramente quem assume funções de suporte. No entanto, esta variedade também traz um problema: a ausência de um tutorial robusto. A curva de aprendizagem é acentuada, e certas funções não são nada intuitivas para iniciantes.

A coordenação entre jogadores é essencial. Por exemplo, para capturar pontos no mapa é necessário um grupo mínimo, não basta um jogador solitário. Os oficiais podem formar esquadrões e construir acampamentos que funcionam como pontos de renascimento, o que facilita a logística das batalhas. A solo, o jogo torna-se significativamente mais difícil e menos recompensador.

Mundo e história

O ponto forte de Holdfast é o seu compromisso com a fidelidade histórica. As batalhas decorrem em cenários inspirados em locais reais, com estruturas defensivas, colinas estratégicas e campos abertos típicos do século XIX. As tropas são representadas com uniformes autênticos e funções que refletem as táticas da época.

Apesar de o foco principal ser o período napoleónico, existe também um modo ambientado na Primeira Guerra Mundial. No entanto, esse modo tem pouca atividade em termos de jogadores e as armas aí apresentadas parecem menos equilibradas do que as do modo principal. Ainda assim, é uma curiosidade interessante que amplia o potencial histórico do jogo. Mais do que um simples jogo de tiros, Holdfast é uma recriação quase teatral do campo de batalha. O ambiente ganha vida com interações inesperadas, como músicos a tocar gaita de foles durante uma carga, ou soldados a tocar piano no meio de uma fortaleza. Estas pequenas excentricidades conferem uma humanidade rara ao género e aproximam o jogador da realidade, ainda que caricata, das guerras da época.

Grafismo

Visualmente, Holdfast apresenta uma estética competente. Não é o jogo mais detalhado do mercado, mas os ambientes são variados e credíveis. Desde fortalezas cercadas por exércitos até vales arborizados onde se ouve o eco de um disparo, o jogo aposta num grafismo limpo, com bom uso de iluminação e efeitos atmosféricos. Os efeitos de fumo das armas são particularmente bem conseguidos, criando nuvens densas que dificultam a visibilidade e aumentam a tensão dos combates. O realismo ganha com esta opção, já que o fumo era uma presença constante nos campos de batalha da época.

Os uniformes das diferentes nações são diversos e visualmente fiéis ao período histórico. Embora não haja grande variedade dentro de cada classe, o estilo e o rigor histórico compensam a simplicidade gráfica. O jogo também permite comprar equipamento novo através de missões completadas, mas as armas adquiridas não oferecem vantagens de desempenho, o que ajuda a manter o equilíbrio competitivo entre jogadores.

Som

O som é um dos maiores trunfos de Holdfast. Os disparos de mosquete, os gritos dos soldados, os tambores a marcar o ritmo da marcha e até os improvisos musicais espontâneos dos jogadores ajudam a construir uma atmosfera envolvente. O caos do combate é bem transmitido através do som, que mistura ruído de batalha com vozes humanas de forma eficaz. A comunidade também contribui bastante para esta dimensão sonora. Em quase todas as partidas, os jogadores comunicam entre si, seja para coordenar ataques ou simplesmente para criar momentos insólitos, como quando alguém toca YMCA em pleno cerco. Estes momentos inesperados tornam a experiência mais rica e menos fria do que a de outros jogos multijogador.

Falta talvez uma maior variedade de efeitos sonoros para certas interações e movimentos, mas o que está presente é suficiente para sustentar a imersão. O som é funcional, mas tem alma, o que não é algo que se possa dizer de todos os títulos do género.

Conclusão

Holdfast: Nations At War é um jogo apaixonado. Não tenta competir com os grandes nomes dos shooters modernos, mas sim criar a sua própria identidade baseada na cooperação, na recriação histórica e numa comunidade ativa e criativa. O seu maior mérito é conseguir conjugar a seriedade da simulação com o humor e imprevisibilidade das interações humanas. Não é um jogo para todos. Quem procura ação imediata, com armas automáticas e sprint constante, vai sentir-se deslocado. Mas para aqueles que gostam de jogos de guerra com um ritmo mais táctico, uma envolvência histórica cuidada e a possibilidade de desempenhar múltiplos papéis numa batalha, Holdfast é uma proposta fascinante.

Apesar de alguns problemas evidentes, como a falta de um tutorial decente e menus pouco otimizados para consola, os seus pontos fortes são suficientes para proporcionar horas de diversão. A transição para consola foi relativamente bem conseguida, e com sorte, trará um novo fôlego a um jogo que depende tanto da sua comunidade. No final, é um título que não se leva demasiado a sério, mas que ao mesmo tempo respeita profundamente o contexto histórico que tenta retratar. Para os jogadores certos, pode tornar-se uma casa de guerra e camaradagem como poucas outras experiências no mundo digital.

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