Quando um jogo afirma ser inspirado pelos filmes do Studio Ghibli, normalmente isso significa apenas que tem personagens fofas ou um estilo artístico colorido, sem realmente captar a essência do estúdio. No entanto, King’s Blade não tenta vender-se com esse tipo de marketing vazio. Em vez disso, assume de forma clara a sua principal inspiração: Golden Axe. Este clássico dos arcades definiu uma geração de jogos de luta em scroll lateral e, ao jogar King’s Blade, é impossível não sentir essa mesma energia. O jogo não é apenas uma cópia, consegue ter a sua própria identidade, modernizando a fórmula enquanto mantém o espírito dos clássicos.
Desenvolvido por Alexey Suslin, King’s Blade é um beat ‘em up tradicional que nos leva numa aventura através de doze níveis recheados de inimigos, segredos e desafios crescentes. A proposta é simples e direta: escolhe um herói, enfrenta hordas de adversários, derrota bosses imponentes e salva o teu reino. É um jogo que não tenta reinventar a roda, mas que brilha ao oferecer exatamente o que promete aos fãs do género.
Jogabilidade
A estrutura de King’s Blade segue a fórmula clássica dos beat ‘em ups. Avançamos da esquerda para a direita, derrotando inimigos através de ataques básicos, golpes especiais e uma mecânica de defesa ou esquiva, que em alguns personagens pode ser usada também como ataque. Tal como em Golden Axe, existe ainda um ataque final devastador, que pode invocar criaturas ou desencadear ataques elementais capazes de limpar o ecrã. Este sistema é simples mas eficaz, com uma curva de dificuldade que vai aumentando gradualmente à medida que se avança pelos níveis.
No início, estão disponíveis quatro personagens: um bárbaro, um mago, um arqueiro e uma criatura aracnídea chamada Varosh. Cada personagem tem três atributos principais — poder, vitalidade e velocidade — que definem o seu estilo de jogo. O bárbaro é forte mas lento, o mago aposta em ataques à distância, o arqueiro é rápido e versátil, enquanto Varosh não se encaixa bem em nenhuma categoria, sendo mais uma escolha curiosa do que uma opção estratégica sólida.
À medida que se progride, é possível desbloquear mais dois personagens jogáveis, cada um com o seu próprio conjunto de movimentos. Esta variedade mantém o jogo interessante, permitindo experimentar diferentes estilos e encontrar aquele que melhor se adapta à tua forma de jogar.
Uma das mecânicas que se destaca é a impossibilidade de trocar de personagem após a morte. Quando se perde uma vida, não há forma de substituir o herói, e no final de cada nível surge apenas a opção de seguir em frente ou voltar ao menu principal. Isto significa que, para experimentar outra personagem, é necessário sair e reiniciar a partir do ponto desbloqueado. Apesar de parecer uma limitação, esta escolha acaba por incentivar a rejogabilidade e torna o progresso mais estratégico.
O jogo também inclui algumas variações na jogabilidade, como fases com plataformas flutuantes, secções em que podemos montar criaturas e momentos em que controlamos uma torre fixa para disparar contra ondas de inimigos. Estes segmentos dão uma lufada de ar fresco à ação constante, evitando que a experiência se torne repetitiva.

Mundo e história
King’s Blade não é um jogo centrado na narrativa, mas existe um enredo básico que serve de pano de fundo para a aventura. O reino do jogador está sob ameaça e cabe ao herói escolhido avançar pelas terras inimigas até alcançar o coração do mal e restaurar a paz. É uma premissa simples, típica dos jogos clássicos de arcada, que não distrai do foco principal: a jogabilidade.
Embora a história não seja profunda, o mundo do jogo é coeso e consegue transmitir a sensação de estarmos a atravessar territórios diferentes, cada um com a sua própria identidade visual e conjunto de inimigos. Isto cria um sentido de progressão que, mesmo sem cutscenes elaboradas ou diálogos complexos, dá contexto às batalhas e incentiva o jogador a continuar.
Grafismo
Se há algo que distingue King’s Blade de muitos outros beat ‘em ups indie, é o seu estilo visual. A direção artística é única e chama a atenção desde o primeiro momento. Em vez de tentar replicar o visual pixelado dos jogos clássicos, o jogo aposta numa estética mais moderna, com personagens e cenários que parecem saídos de uma animação estilizada.
Cada nível tem um design próprio, com cores vivas e detalhes que tornam o mundo visualmente apelativo. Desde florestas densas a fortalezas imponentes, a variedade é notável e evita que o jogador sinta que está sempre a ver os mesmos cenários. Esta atenção ao detalhe contribui para a identidade do jogo e ajuda a diferenciá-lo de outros títulos que tentam apenas copiar os clássicos sem trazer nada de novo visualmente.
O design das personagens também merece destaque. Cada herói tem um visual distinto que reflete o seu estilo de combate e personalidade, e os inimigos apresentam uma boa variedade de designs, desde soldados genéricos até criaturas monstruosas e bosses impressionantes.

Som
A componente sonora de King’s Blade complementa bem a experiência, mesmo que não seja tão memorável quanto os visuais. A banda sonora aposta em temas energéticos que acompanham bem a ação, mantendo o ritmo intenso dos combates. Embora não haja músicas que fiquem na memória por muito tempo, cumprem a sua função e ajudam a criar uma atmosfera envolvente.
Os efeitos sonoros são sólidos, com golpes que soam impactantes e feedback claro para cada ação. O som das armas, os gritos dos inimigos e os efeitos dos ataques especiais dão vida aos combates e reforçam a sensação de estar num autêntico arcade moderno.
Conclusão
King’s Blade é uma carta de amor aos clássicos beat ‘em ups, trazendo de volta a essência de jogos como Golden Axe e Streets of Rage, mas com uma apresentação moderna e alguns toques de originalidade. É um jogo direto, que sabe exatamente o que quer ser e não tenta complicar com sistemas desnecessários ou enredos complexos.
Com uma jogabilidade sólida, cooperação para até quatro jogadores, uma boa variedade de personagens e um estilo visual marcante, King’s Blade oferece uma experiência divertida tanto para veteranos do género como para novos jogadores. Apesar de algumas pequenas frustrações, como a gestão da inteligência artificial e a impossibilidade de trocar de personagem durante a campanha, estes detalhes não impedem que o jogo seja extremamente agradável.
No final, King’s Blade cumpre a sua missão com distinção. É um título indie que respeita o legado dos clássicos, ao mesmo tempo que se afirma como uma experiência própria, sendo uma excelente opção para quem procura ação intensa e nostalgia em doses iguais.