LAN Party Adventures é um daqueles jogos que parecem ter nascido de uma ideia simples mas profundamente evocativa: reviver o espírito das LAN parties do início dos anos 2000. O cheiro de plástico dos computadores, os cabos espalhados pelo chão, o som dos ventiladores a rodar e as conversas entre amigos enquanto se tentava configurar uma ligação de rede. Desde a antevisão publicada no ComboCaster, o projeto já evoluiu, e agora é possível ter uma visão mais completa do que este título indie realmente oferece. O estúdio por trás do jogo aposta na nostalgia, mas também num toque de mistério, transformando uma simples montagem de computadores numa aventura repleta de humor, enigmas e emoção.
Com lançamento previsto para setembro de 2025 e avaliações iniciais muito positivas, LAN Party Adventures promete ser mais do que um simulador de cabos e máquinas antigas. É uma carta de amor à era analógica da informática, mas também uma experiência narrativa sobre amizade e descoberta.
Jogabilidade
No centro da experiência está o ato de montar LAN parties. O jogador encarna um entusiasta de informática que, no virar do milénio, viaja entre diferentes locais — desde garagens a cafés e salas improvisadas — para montar redes locais e permitir que os amigos joguem juntos. Para isso, é necessário conectar cabos de energia e rede, instalar programas, configurar modems, resolver falhas e, ocasionalmente, lidar com vírus digitais que interferem nas ligações.
O jogo mistura o género de simulação técnica com puzzles ambientais e exploração. O jogador precisa de aprender a interpretar interfaces inspiradas em MS-DOS, usar comandos básicos, e até navegar por websites e emails que contêm pistas importantes para o avanço da história. Apesar de incluir conceitos técnicos, o jogo é acessível e nunca se torna um exercício de frustração. Os tutoriais e o humor leve garantem que mesmo quem nunca ligou um cabo de rede possa divertir-se e sentir-se competente.
Há também um modo Sandbox, onde é possível montar LANs perfeitas ao gosto do jogador, sem a pressão de cumprir objetivos narrativos. Este modo funciona quase como um espaço criativo, onde a nostalgia e a experimentação se encontram. A duração média da campanha ronda as oito horas, mas o modo livre pode facilmente prolongar a experiência, sobretudo para quem gosta de personalizar e explorar.

Mundo e história
A narrativa gira em torno do desaparecimento de Pedro, um dos membros do grupo de amigos, que desaparece misteriosamente durante a organização de uma LAN party. O protagonista, entre cabos e computadores, começa a juntar peças de um puzzle maior, explorando emails, fóruns e documentos antigos que o levam a descobrir uma teia de segredos relacionados com a cena tecnológica da altura.
O enredo combina humor com um mistério leve, explorando temas de amizade, cooperação e nostalgia juvenil. A forma como a história é contada é especialmente interessante: em vez de longas cutscenes, o jogador descobre a verdade aos poucos, através do ambiente e dos objetos que encontra. A leitura de emails, o acesso a websites desatualizados e as mensagens entre personagens criam uma sensação de descoberta muito orgânica.
Por vezes, há momentos em que o mundo parece um pouco vazio. O jogo foca-se mais nas máquinas do que nas pessoas, e isso pode diminuir a sensação de vida nas fases mais longas. Ainda assim, a narrativa é suficientemente envolvente para manter o jogador curioso até ao fim, e o equilíbrio entre mistério e humor dá-lhe um tom muito próprio.
Grafismo
Visualmente, LAN Party Adventures aposta num estilo retro, com texturas e objetos que recriam fielmente o ambiente dos anos 2000. Os monitores de tubo, os posters de jogos clássicos, as caixas de disquetes e as torres pesadas de PC estão todos presentes, e cada detalhe parece escolhido para despertar uma memória específica. As cutscenes em estilo banda desenhada complementam a estética, ajudando a dar ritmo à narrativa e a reforçar a sensação de estar a viver uma história nostálgica, mas ainda assim moderna. Apesar de não ser um jogo visualmente ambicioso, há um charme inegável no cuidado com os ambientes. Cada sala tem a sua personalidade e conta uma pequena história visual.
A câmara, contudo, pode causar alguns problemas. Em espaços apertados, como quando se tenta ligar cabos atrás de um computador, nem sempre é fácil posicionar-se corretamente, o que pode causar alguma frustração. Fora isso, o design visual cumpre o seu papel e é uma das principais razões pelas quais o jogo consegue prender o jogador.

Som
O som desempenha um papel essencial em LAN Party Adventures. A banda sonora mistura faixas lo-fi e eletrónicas que evocam a era dos modems e dos CD-ROMs, criando uma atmosfera que combina nostalgia com tranquilidade. Os efeitos sonoros são igualmente eficazes: o zumbido dos ventiladores, o clique dos ratos, o ruído dos cabos a serem ligados — todos estes pequenos detalhes ajudam a construir uma imersão autêntica.
Os ambientes sonoros dão vida às salas, mesmo quando não há personagens visíveis. É possível ouvir o som distante de conversas, o eco de passos e o barulho de máquinas antigas. Essa camada de áudio contribui para o sentimento de estar num espaço real, apesar da estética simplificada. Se há algo que poderia ser melhorado, seria a variedade das músicas. Algumas fases prolongadas mereciam trilhas sonoras mais dinâmicas, acompanhando o avanço da história ou o humor das situações.
Conclusão
LAN Party Adventures é uma experiência singular, que transforma uma atividade banal — montar computadores e redes — num tributo nostálgico e emocional à era dourada da informática doméstica. É um jogo que fala diretamente a uma geração que cresceu a partilhar cabos e disquetes, mas que também pode conquistar jogadores mais jovens pela sua originalidade e autenticidade.
O equilíbrio entre simulação técnica e narrativa é bem conseguido. A história, embora simples, é cativante o suficiente para sustentar o ritmo da aventura. Há falhas pontuais, como a ocasional confusão nas tarefas ou a sensação de vazio em certas fases, mas o conjunto é sólido e cheio de alma.
LAN Party Adventures não tenta ser um blockbuster nem um jogo de ritmo acelerado. O seu valor está na atenção aos detalhes, no humor e na emoção com que trata o passado. É um retrato fiel de uma época em que a tecnologia era uma aventura em si mesma, e cada cabo ligado significava uma nova descoberta. Para quem viveu essa era, é quase uma viagem no tempo. Para quem não viveu, é uma janela para compreender o entusiasmo e a camaradagem de uma geração que fez da ligação de rede uma forma de amizade.