Análise: NOBUNAGA’S AMBITION: Awakening

Nobunaga’s Ambition é uma das franquias mais antigas e respeitadas no género de estratégia, um nome que remonta aos primórdios da indústria e que ajudou a definir o que significava comandar, planear e conquistar. Para muitos jogadores, sobretudo no Ocidente, este nome pode parecer distante, mas para os fãs de história japonesa e gestão política complexa, é quase uma instituição. Nobunaga’s Ambition: Awakening surge como mais uma tentativa da Koei Tecmo de modernizar esta fórmula clássica, trazendo-a para a Nintendo Switch e para um novo público, mas sem abdicar da sua natureza profundamente estratégica e lenta. O resultado é um jogo que impressiona pela escala e pelo detalhe, mas que também mostra as suas limitações e excentricidades de uma série que há muito deixou de tentar agradar a todos.

Jogabilidade

Awakening mantém-se fiel à tradição da série, colocando o jogador no centro de uma complexa rede de poder, intriga e conquista durante o turbulento Período Sengoku. O objetivo é simples de explicar, mas demorado de executar: unificar o Japão sob um só senhor. O jogador pode assumir o papel de Oda Nobunaga ou de qualquer um dos muitos daimyos que lutaram pelo controlo do arquipélago, cada um com as suas forças, fraquezas e posição estratégica.

A jogabilidade baseia-se numa mistura de gestão de recursos, diplomacia e planeamento militar. Construir uma economia sólida, manter o moral das tropas e gerir alianças é fundamental para sobreviver num cenário onde cada decisão pode ter repercussões imprevisíveis. Awakening introduz um sistema de tutoriais detalhado, perfeito para quem nunca experimentou a série, explicando gradualmente os conceitos de administração, expansão e guerra. É um processo lento, mas recompensador para quem aprecia ver o crescimento do seu domínio ao longo de décadas simuladas.

A Nintendo Switch mostra-se surpreendentemente confortável para este tipo de experiência. Os menus são acessíveis através de botões ou do ecrã tátil, o que torna o jogo bastante funcional tanto no modo portátil como na dock. Apesar do ecrã pequeno poder tornar a leitura cansativa, o ritmo pausado e o sistema baseado em turnos atenuam esse problema. O jogo permite longas sessões de planeamento estratégico sem pressão do tempo, ideal para jogadores que preferem pensar em cada passo com calma.

Um ponto curioso, e até polémico, é a presença de opções que permitem manipular quase tudo no jogo – desde os cofres cheios de ouro a melhorias instantâneas em todas as províncias. Esta liberdade total pode ser útil para quem quer apenas explorar o jogo sem grande dificuldade, mas acaba por retirar o sentido de progressão e desafio. Numa série que sempre se destacou pela complexidade, esta escolha parece contraditória, enfraquecendo parte da tensão que a tornava tão única.

Mundo e história

Como seria de esperar de um título com o nome Nobunaga, o pano de fundo histórico é tratado com enorme rigor e detalhe. Cada personagem, cada evento e cada batalha tem base em acontecimentos reais, e o jogo esforça-se por retratar a intriga política e militar do século XVI japonês com o máximo de autenticidade possível. Há mais de dois mil personagens distintos, todos com retratos únicos e informações históricas, o que confere uma densidade impressionante ao mundo.

O jogador escolhe entre vários cenários históricos, podendo começar em diferentes momentos do Período Sengoku e alterar o curso da história ao seu gosto. A sensação de estar a reescrever a narrativa japonesa é cativante, especialmente quando pequenas decisões, como mudar o nome de um senhor feudal, acabam por ter consequências inesperadas em todo o mapa. O sistema de eventos históricos é uma das maiores forças do jogo, recriando acontecimentos como alianças, traições e batalhas decisivas que moldaram o destino do Japão.

No entanto, mesmo com toda essa liberdade aparente, Awakening mantém-se rigidamente preso ao seu propósito: a história pertence a Nobunaga. O jogador pode dominar o país sob outro clã, mas o jogo nunca deixa de tratar o senhor de Owari como o verdadeiro protagonista. É uma estrutura algo limitadora, mas compreensível dentro da tradição da série. Ainda assim, a profundidade política e a atenção ao detalhe fazem com que seja fácil perder horas a observar como o mundo reage às nossas ações, mesmo que o ritmo seja mais contemplativo do que empolgante.

Grafismo

Visualmente, Nobunaga’s Ambition: Awakening é um dos títulos mais impressionantes da Koei Tecmo nos últimos tempos, especialmente considerando as limitações da Nintendo Switch. O mapa do Japão é recriado com grande detalhe, e a câmara permite explorar cada região com suavidade, mantendo um equilíbrio entre clareza e desempenho. Os retratos das personagens são variados e cheios de personalidade, refletindo a importância histórica de cada figura.

As sequências animadas são poucas, mas de qualidade notável, surgindo sobretudo nos momentos de maior impacto — como batalhas decisivas ou eventos históricos significativos. Ainda assim, o grosso da experiência é passada em menus e mapas estáticos, o que pode afastar jogadores que esperem algo mais visualmente dinâmico. Comparado a outros jogos de estratégia modernos, Awakening aposta mais no detalhe e na funcionalidade do que no espetáculo, e isso é tanto uma virtude como uma limitação.

Apesar do esforço visual, o ecrã da Switch limita o impacto gráfico do jogo, sobretudo em modo portátil. É uma pena, pois a atenção aos pormenores e o estilo artístico mereciam um espaço maior para brilhar. Mesmo assim, é impressionante ver um mapa tão denso e detalhado correr com fluidez numa consola portátil, o que prova a competência técnica da equipa de desenvolvimento.

Som

Infelizmente, o som é o ponto mais fraco de Awakening. A decisão de remover o áudio japonês da versão ocidental é difícil de compreender e prejudica bastante a imersão. As vozes inglesas que o substituem são genéricas e desinspiradas, lembrando localizações baratas da era PlayStation 1. As falas curtas e repetitivas acabam por transformar figuras históricas em caricaturas, e a ausência total de interpretação emocional retira profundidade às interações.

A banda sonora, por outro lado, cumpre o seu papel, misturando melodias orquestrais com toques tradicionais japoneses. As faixas são competentes e ajudam a criar o ambiente certo, mas raramente se destacam. No geral, a componente sonora sente-se descuidada, o que é uma pena num jogo tão empenhado em recriar a atmosfera de uma época tão rica. Muitos jogadores acabarão por jogar com o som desligado, o que diz muito sobre o impacto negativo destas escolhas.

Conclusão

Nobunaga’s Ambition: Awakening é um jogo de contrastes. Por um lado, é uma impressionante homenagem à história japonesa e à longa tradição da série, oferecendo um nível de detalhe, escala e autenticidade raramente visto em jogos de estratégia. Por outro, é um título exigente, lento e, por vezes, frustrantemente rígido, que exige uma enorme dedicação antes de recompensar o jogador.

A experiência é fascinante para quem aprecia observar a história a desenrolar-se num tabuleiro de poder e diplomacia, mas também pode ser árida e pouco gratificante para quem procura ação constante ou feedback imediato. O ritmo pausado, a densidade dos menus e a falta de vozes japonesas tornam-no menos acessível do que poderia ser, e a presença de opções que trivializam o desafio não ajuda a manter o envolvimento a longo prazo.

Mesmo assim, é impossível não admirar a ambição deste projeto. Awakening é uma peça de história interativa, um simulador de poder e estratégia que continua a honrar o legado de Nobunaga Oda e da era Sengoku. Pode não ser para todos, mas para quem tem paciência, curiosidade e respeito pela complexidade da história japonesa, é uma das experiências mais ricas que a estratégia moderna ainda oferece.

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