Análise: Star Overdrive

Star Overdrive é uma daquelas pérolas que surgem do nada e surpreendem mesmo os jogadores mais calejados. Um título indie que mistura influências evidentes de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Tony Hawk’s Pro Skater e até da estética sci-fi dos anos 80 e 90, este jogo leva-nos a explorar um vasto mundo alienígena a bordo de um hoverboard altamente personalizável. À primeira vista, parece mais um clone com estilo, mas bastam uns minutos de jogo para percebermos que Star Overdrive é muito mais do que a soma das suas referências. Com uma sensação de liberdade refrescante, exploração recompensadora e um sistema de movimento absolutamente viciante, o jogo da equipe indie por trás do projeto mostra o que é possível fazer com paixão e criatividade.

Jogabilidade
A jogabilidade em Star Overdrive gira essencialmente à volta do hoverboard, que não é apenas um meio de transporte mas sim o núcleo da experiência. A forma como nos deslocamos no mapa, os truques que executamos no ar, o uso das habilidades de boost, salto ou manipulação do ambiente – tudo contribui para uma jogabilidade fluída e entusiasmante.

É raro encontrar um sistema de movimento que consiga ser ao mesmo tempo tão satisfatório e tão essencial à experiência do jogo. A curva de aprendizagem é suave, mas há profundidade suficiente para manter os jogadores mais exigentes entretidos durante horas. A personalização do hoverboard, tanto estética como funcional, adiciona uma camada de progressão envolvente, e a sensação de velocidade, sobretudo durante as descidas ou secções mais abertas do mapa, é francamente bem conseguida. O mapa, embora vasto, não é um mundo aberto vazio. Há sempre algo a descobrir, seja um novo tinteiro para mudar a cor do hoverboard, uma nova faixa sonora colecionável, fotografias escondidas ou os chamados desafios – pequenas dungeons inspiradas nos templos dos jogos Zelda. Estes desafios variam em dificuldade e obrigam a uma utilização inteligente das habilidades desbloqueadas. No entanto, os seus visuais são algo básicos, limitando-se a arenas quadradas sem grande inspiração estética.

O sistema de combate é talvez o ponto menos conseguido de Star Overdrive. Muitos jogadores referem que as lutas se sentem flutuantes, sem impacto real. As animações fixam o personagem no lugar, tornando difícil reagir com fluidez, especialmente quando não existem i-frames (frames de invulnerabilidade) durante as esquivas. Isto leva a momentos frustrantes, especialmente contra inimigos mais irritantes. Com o desbloqueio de poderes, o combate torna-se mais variado e divertido, mas a sensação de falta de polimento mantém-se. Felizmente, a estrutura do jogo permite que se evitem muitos combates, optando por focar na exploração e resolução de puzzles.

Mundo e história
A ambientação de Star Overdrive é ao mesmo tempo nostálgica e original. Imagine-se a surfar por um planeta desértico com uma banda sonora rock dos anos 80 a tocar ao fundo, passando por ruínas metálicas, loops gigantes e templos esquecidos. A atmosfera é envolvente e dá vontade de explorar, mesmo quando o cenário parece por vezes demasiado homogéneo, sobretudo nas áreas desérticas que compõem uma grande parte do mapa.

O jogo divide-se em três grandes biomas que, apesar das suas diferenças, podiam beneficiar de mais variedade visual e landmarks únicos. Um dos biomas, o das ravinas, é particularmente frustrante se lá se entrar demasiado cedo, sem os poderes adequados. A história, embora curta, tem momentos emocionantes e mostra-se mais densa do que seria de esperar num jogo com esta apresentação. Através de gravações em fita espalhadas pelo mundo e diálogos ocasionais, vamos desvendando o passado da civilização que habitava este mundo e os objetivos do nosso protagonista. Há algo de melancólico e introspectivo em toda a narrativa, e apesar de não ser revolucionária, é eficaz e adequada ao tom do jogo.

Grafismo
Visualmente, Star Overdrive é um jogo ambicioso que nem sempre consegue concretizar tudo o que propõe. A direção artística aposta numa estética sci-fi inspirada em capas de álbuns de rock progressivo, como as de Roger Dean, e há um charme inegável nos designs do mundo, naves e arquitetura. No entanto, nota-se o lado indie e o orçamento limitado: algumas animações são rígidas, especialmente nas personagens, e certos modelos parecem desatualizados.

O personagem principal, BIOS, por exemplo, raramente demonstra emoção fora das cutscenes e, por vezes, chega a parecer um boneco estático, mesmo em situações mais intensas. Apesar disso, o jogo compensa com ambientes amplos e uma paleta de cores vibrante. Os efeitos de luz são bem aplicados, especialmente ao fim do dia ou durante tempestades de areia. As partículas que giram à nossa volta quando fazemos manobras ou aceleramos ajudam a reforçar a sensação de velocidade e liberdade. E há uma satisfação visual genuína quando se personaliza o hoverboard com novas peças e estas se refletem diretamente no seu aspeto em jogo.

Som
A componente sonora é um dos grandes trunfos de Star Overdrive. A banda sonora original, composta por faixas inspiradas em metal e rock dos anos 80, é não só adequada ao estilo visual como reforça o sentimento de rebeldia e exploração livre. A possibilidade de colecionar músicas pelo mundo e depois ouvi-las enquanto exploramos dá uma sensação quase de road trip musical, que encaixa perfeitamente com o espírito do jogo. Infelizmente, o som sofre de alguns problemas técnicos. Há momentos em que a música pára abruptamente devido à ativação de cutscenes, quebra de transições ou pequenos bugs. Além disso, a ausência de certos efeitos sonoros em ações específicas, como ataques ou interações ambientais, contribui para a sensação de falta de impacto já referida no combate.

Os efeitos que existem são suficientes para garantir uma boa ambientação geral, mas sente-se que com mais tempo de produção ou apoio técnico, poderiam ter dado mais vida ao mundo e às interações com ele.

Conclusão
Star Overdrive é um jogo com alma. Tem falhas, algumas mais evidentes que outras, e não esconde a sua origem indie. No entanto, brilha em aspetos que muitos jogos AAA já esqueceram: liberdade de movimento, prazer em explorar, originalidade na apresentação e uma clara paixão dos seus criadores por aquilo que estão a fazer.

A sensação de deslizar por dunas a alta velocidade num hoverboard que podemos personalizar ao nosso gosto, ao som de uma faixa de metal retro, enquanto procuramos templos escondidos ou músicas esquecidas, é difícil de encontrar noutros jogos. A comparação com Zelda: Breath of the Wild é inevitável, mas Star Overdrive consegue ter uma identidade própria que vai além das suas influências. O combate, os menus e algumas animações precisam de melhorias. Mas mesmo com esses defeitos, a experiência geral é tão divertida e refrescante que é fácil perdoar as arestas por limar. Por um preço acessível, é uma proposta que oferece dezenas de horas de conteúdo, sem recorrer a mundos gerados proceduralmente ou fórmulas saturadas. Recomendado para quem procura algo novo no universo dos jogos de mundo aberto, com foco na exploração, puzzles e movimento. E especialmente recomendado a quem alguma vez sonhou surfar por um planeta alienígena com uma guitarra elétrica a acompanhar.

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